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31/07/2007 - 09:35

Mercado consumidor mundial questiona qualidade dos produtos chineses

O que começou como uma série de incidentes isolados já toma, na mídia internacional, aparência de crise generalizada. De xaropes contra tosse e pastas de dente contaminados no Panamá a pneus e ração animal nos Estados Unidos, há um surto de recalls de produtos chineses, acusações contra as empresas e o sistema regulatório do país, bem como ameaças de boicote e adoção de salvaguardas. Em meio à agitação, algumas considerações devem ser feitas, visando avaliar a real dimensão da crise e salientar alguns aspectos pouco comentados.

A crise tem origem na corrupção interna do governo do país, especialmente na Administração Estatal de Alimentos e Medicamentos (State Food and Drug Administration, ou SFDA), e na Administração Geral de Controle de Qualidade, Inspeção e Quarentena (AQSIQ, em inglês). O jogo institucional e a confusão das atribuições e competências de ambas as administrações acirram o problema. É possível, ainda, apontar dificuldades enfrentadas por estes órgãos nas atividades de fiscalização, devido à extensão do território e limitações logísticas que dificultam a inspeção de fábricas no interior do país, e à inadequação do ordenamento legal e do aparato burocrático.

O governo central chinês não é observador passivo neste caso. A demissão e punição de dois altos oficiais do SFDA, a publicação de um plano qüinqüenal de aprimoramento de padrões de segurança, e declarações incisivas de autoridades chinesas são algumas das medidas tomadas pelo governo que transparecem a vontade política, ainda que não a capacidade, de resolver estes problemas.

Não se deve, contudo, esperar solução imediata ou reformas bruscas no sistema regulatório. É mais provável que as transformações de curto e médio prazos ocorram no interior das próprias empresas chinesas em resposta a pressões do mercado.

É importante ressaltar que existe um intermediário entre o mercado consumidor e o produtor chinês. O importador, ignorante do problema ou simplesmente negligente, é geralmente considerado responsável perante o consumidor final. É este, então, quem arca com grande parte dos prejuízos. Pequenas revendedoras de pneus e grandes fábricas de ração são igualmente intimadas a indenizar consumidores. Nestes casos, o intermediário importador opera como um amortecedor, que reduz consideravelmente o impacto direto sobre os produtores chineses e, conseqüentemente, atenua a necessidade de transformação no curto prazo. No médio e longo prazos, no entanto, a resposta do mercado é repassada ao produtor, que poderá perder parcela importante de mercado ou perceber aumentos significativos dos custos de transação.

A produção clandestina chinesa, para quem o custo marginal da transição supera os benefícios da irregularidade, já se encontra em declínio à medida que marcas de qualidade internacional (Lenovo, SVA, Huawei, ZTE etc.) avançam no mercado doméstico e externo. Ao mesmo tempo, os ganhos de produtividade destas empresas de qualidade contribuem para reduzir a diferença entre o preço dos produtos de maior qualidade e as “bugigangas falsificadas”, o que reduz, por sua vez, o apelo destas últimas.

Novidade ou exagero? – São conhecidas as deficiências do país referentes à regulação e controle de qualidade. É precisamente devido ao longo histórico destas deficiências que a amplitude e o viés da cobertura da mídia internacional sobre os eventos recentes parecem indicativos de motivações ulteriores.

Um motivo aparente é o ganho de competitividade dos produtos chineses, que abocanham fatias cada vez maiores dos mercados de países como Brasil e Estados Unidos e incitam fortes reações de setores protecionistas destas economias. Escândalos envolvendo suposta crise regulatória, neste sentido, serviriam como alavanca política em contenciosos comerciais, favorecendo maiores restrições à importação de produtos chineses.

Outros fatores contribuem para agravar o imbróglio. De um lado, o sensacionalismo oportunista levou à fabricação de factóides como o curioso caso dos baozi (popular sanduíche de porco) recheados com cartolina e banha suína, que mais tarde ficou comprovado como falso. De outro, a imperícia de usuários e importadores em avaliar a qualidade de certos produtos e sua prontidão em distribuir culpa a outrem tem levado a julgamentos precipitados, como o recall, nos Estados Unidos, de 450 mil pneus da chinesa Hangzhou Zhongce Rubber Co. Ltd.

Seria irresponsável minimizar os efeitos trágicos dos eventos recentes, que incluem a morte de centenas de pessoas e animais e outros danos a indivíduos e suas propriedades. Quase tão irresponsável, no entanto, é a generalização indevida que reforça estereótipos cada vez menos fiéis à realidade, e dificultam, assim, a compreensão das transformações em curso na indústria e governo chineses.| Por: CEBC

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