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Família do Trem e Terra da Soja

No século XX destaco três personagens que alimentaram todas as suas esperanças na estrada de ferro para Cuiabá como fator de progresso e desenvolvimento: Maria Dimpina (1891-1966), a quem denomino "mãe" cultural do trem; Vicente Emílio Vuolo (1929-2001), considerado pela população como o "pai" político do trem, e Domingos Iglesias Valerio, a quem escolhi como o "padrinho" técnico do trem.

Cuiabana de "chapa e Cruz", Maria Dimpina, para orgulho do seu filho padre Firmo Pinto Duarte, foi a primeira mulher a estudar no Colégio Liceu Cuiabano, onde até então estudavam apenas homens, conseguindo o título de bacharel em Ciências e Letras. Além de professora, jornalista, escritora, foi a primeira funcionária pública federal do Estado de Mato Grosso, ocupou o cargo de postalista dos Correios e Telégrafos, através de concurso público em nível nacional, em que obteve o primeiro lugar entre todos os concorrentes.

Na defesa da ferrovia não há como não começar pela "mãe" cultural do trem, Maria Dimpina, que, de meados de 1910 a meados de 1960, lutou entusiasticamente com a mais expressiva das forças que todo ser humano dispõe: a cultura. Sonhou como ninguém mais sonhou, no mundo da mulher cuiabana, com a chegada do trem de ferro, dizendo certa vez num artigo de sua autoria publicado na revista A Violeta, VIII (112): 11-12, de 25 de dezembro de 1923, "não sei se alcançarei o findar desse ano que iniciará há pouco, mas, guardai bem, se morrer, a terra que envolver o meu corpo se extremecerá contente quando a locomotiva apitar pela primeira vez nestas plagas...".

Maria Dimpina - a "mãe" cultural do trem - viveu, lutou e sonhou com a estrada de ferro para Cuiabá, bem antes de Vicente Emílio Vuolo - o "pai" político do trem, que também viveu, lutou e sonhou com a estrada de ferro para a capital mato-grossense ao longo de trinta anos da sua vida, escrevendo numa mesa assentada sobre trilhos; falando ao telefone através de um aparelho em formato de trenzinho; bem como escutando o apito do trem a cada instante, do dia ou da noite, através do som do seu próprio telefone-trenzinho que o reproduzia de forma similar ao da locomotiva; e, conforme dizem, "almoçando e jantando ferrovia todos os dias", donde deduzo ter feito este cidadão cuiabano da espera desse trem, senão o maior, pelo menos um dos seus grandes objetivos na vida.

Vicente Emílio Vuolo formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Catete, na "turma de 1956", e aposentou-se como servidor do Banco do Brasil, cargo este admitido através de concurso, mas no percurso da vida desenvolveu diversas outras atividades. Como político, exerceu os seguintes cargos: deputado estadual (1958-1962); prefeito de Cuiabá (1962-1966); deputado federal (1975-1979), e senador da República (1979-1983).

Demonstrando grande empolgação com o projeto da ferrovia para Cuiabá, Domingos Iglesias Valerio, "padrinho" técnico do trem, destaca nos discursos proferidos, com ênfase, toda a luta empreendida em prol da construção da estrada de ferro em solo mato-grossense. A designação de "padrinho" técnico do trem deve-se aos estudos que realizou com a finalidade de verificar a viabilidade econômico-financeira da construção da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná e a importância que atribuiu a implantação da estrada de ferro: São Paulo-Cuiabá, destacando a capital do Estado de Mato Grosso como entroncamento principal.

Cidadão cuiabano, Domingos Iglesias Valerio nasceu em Pitangui, Estado de Minas Gerais, no dia 11 de agosto de 1926, possui ascendências espanhola e italiana, e é hexaneto de D. Joaquina Bernarda de Abreu e Silva Castelo Branco (1752-1824), mais referida na história mineira como D. Joaquina do Pompeu. Formou-se em Engenharia Civil, com atribuições estendidas à arquitetura, saneamento e traçados de cidades e portos de mar, rios e canais, pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Paraná, na "turma de 1952". Como aluno, participou ativamente de movimento estudantil e, na qualidade de profissional, aposentou-se como professor titular do Departamento de Engenharia Civil da UFMT; foi fundador da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Mato Grosso (APAE-MT), em 06 de outubro de 1967; tem inúmeros trabalhos executados; e, ocupou o cargo de Coordenador Especial de Assessoramento e Operações da Defesa Civil do Estado de Mato Grosso. A seguir o termo de gratidão que abre o currículo de Domingos Iglesias Valerio:

"O grande livro da vida me ensinou que a humildade é o princípio da sabedoria e a porta aberta para a feliz eternidade!... Agradeço a meus pais que me educaram nela!... A minha esposa e filhos que me ajudam a conservá-la!... E, sobretudo a mãe do senhor e aos santos que intercedem por mim!... Pedindo-lhes que não me deixem ser julgado ingrato no tribunal divino, quando neste relatum for colocado o fim. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo".

Pelo exposto, pode-se deduzir que se dependesse apenas do ideal desses três grandes personagens, a estrada de ferro tão esperada por Cuiabá, há muito tempo já estaria ligando todo o Estado de Mato Grosso ao restante da nação, e nesse sentido, contribuindo de forma bem mais efetiva para com a produção de soja, que segundo Comunicação Social realizada pelo IBGE, em 25 de novembro de 2004, alcançara, no ano agrícola de 2002-2003, o percentual de 24,97% da produção do país, ou seja, uma colocação de primeiro lugar no "ranking" nacional. Além disso, destacou a Comunicação Social do IBGE que de todos os municípios mato-grossenses Sorriso foi o que apresentou maior crescimento na produção de soja, 1,6 milhão de tonelada, expresso em 12,34% da produção estadual, e por ordem de importância, os outros municípios: Sapezal, Campo Novo do Parecis, Primavera do Leste, Diamantino, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Tapurah, Campos de Júlio, Nova Ubiratã, Itiquira e Campo Verde.

Toda essa situação rendeu ao Estado de Mato Grosso dentre tantos benefícios uma interessante reportagem, Interior do Brasil vira o "celeiro do mundo", do jornalista Larry Rohter, diretamente de Lucas do Rio Verde-Brasil, para o The New York Times, do dia 12 de dezembro de 2004, que foi traduzida por George El Khouri Andolfato, e divulgada pela UOL. "Há uma revolução silenciosa ocorrendo no interior do Brasil", assim manifestou, à época, o ministro da Agricultura do Brasil, Roberto Rodrigues, na reportagem. As excelentes oportunidades para quem deseja investir em Mato Grosso foram motivo de destaque na matéria.

Na análise de Larry Rohter, a agricultura brasileira ao alcançar algo acima de 40% das exportações nacionais criou o que passara a ser chamado de "âncora verde" da economia. E, por fim, o registro de um outro enfoque da notícia, a importância que teve a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) nos estudos sobre o solo do cerrado:

"Até recentemente, por exemplo, achava-se que a soja não se desenvolveria em solos e climas tropicais. Mas os pesquisadores da Embrapa e de institutos estatais e privados semelhantes desenvolveram mais de 40 variedades de soja especialmente adaptadas para o cerrado. A soja agora representa quase metade das exportações agrícolas do Brasil e é o principal produto da região".

Assim foi a história do lançamento da semente Mato Grosso para o Mundo. Que o trem seja um dos meios para transportá-la, e que todos na "terra da soja", trabalhadores e empresários, possam usufruir os benefícios.

.Por: Fernando Tadeu de Miranda Borges, Professor do Departamento de Economia e dos Programas de Mestrados em Economia e História da UFMT. | Cofecon

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