A nova face de Lula

Após Fernando Henrique ter sido eleito Presidente da República, passou a receber sucessivos convites para proferir conferências no exterior. Aos conhecimentos adquiridos na vida acadêmica, somava a sua experiência de Chefe de Governo. Esse desempenho conferiu-lhe destaque nos ciclos intelectuais e econômicos, concorrendo para que a imagem do país assumisse proporções expressivas, elevando o prestígio do Brasil junto às nações civilizadas.

Com o passar dos dias, o PT revelou incontido despeito com a postura do Presidente, qualificando-o de soberbo e interessado em esbanjar conhecimento, com a única finalidade de fazer-se conhecido onde estivesse. O tempo passou. Vê-se agora que a vaidade que lhe foi imputada vem de ser transferida ao seu sucessor que, como nenhum outro governante viajou tanto pelos quatro cantos do mundo, na maioria das vezes discorrendo sobre temas que não dominava.

Atualmente, vem sendo anunciado que Lula, tal como fizera Fernando Henrique, após deixar o Planalto, fundará um instituto destinado a preservar a sua imagem, onde reunirá os presentes que recebeu ao longo de seus dois mandatos. O importante será fazer com que não seja esquecido, de forma que a sua figura não se perca no tempo.

Se Fernando Henrique, tal como Juscelino e Tancredo, foram galardoados em Coimbra, com o titulo de Doutor Honoris Causa, nada mais razoável, então, que ele viesse a ser distinguido com a mesma comenda. O hábito de alguém falar de si mesmo concorre para que o egocentrismo assuma proporções desmedidas, com a perda do senso crítico, descambando para o ridículo.

A imprensa noticiou que o ex-presidente Lula proferiu uma conferência em Washington, em evento da Microsoft, recebendo em torno de 200 mil reais, e chegou de avião emprestado pela Coteminas, empresa de seu saudoso amigo José Alencar. Quanto ao fato de ser gratificado, nada há de surpreendente; é comum que o homem público, ao deixar o governo, passe a dedicar-se a uma atividade remunerada, que revele o êxito de sua administração.

Está prevista a sua ida a Acapulco, seguindo depois para Londres, onde irá discursar para investidores, exaltando o seu desempenho como presidente, que promoveu a vinda de empresas estrangeiras para o nosso país. Na capital inglesa, irá encontrar-se com o historiador marxista Eric Hobsbawm, nascido em Alexandria, Egito, em 1917, sob o domínio britânico. O seu interlocutor é autor da conhecida trilogia “A Era das Revoluções”, “A Era do Capital” e “A Era dos Extremos”. Foi presidente do partido comunista da Grã-Bretanha, convertendo-se em defensor permanente das ideias de esquerda. No roteiro de Lula, consta que, ainda este mês, irá à Espanha para receber o premio Libertad Cortes de Cádiz, embora haja manifestado o seu interesse em conciliar o horário da solenidade com o do jogo de futebol entre Barcelona e Real Madrid, a que deseja comparecer.

Conforme se vê, o novel conferencista, que tanto censurava Fernando Henrique como um político presunçoso e sociólogo arrogante, optou agora por apresentações em auditórios seletos, onde pretende convencer que nada ficou a dever ao seu antecessor. Tudo faz crer que ainda não aderiu ao conceito de seu irmão de credo, Frei Beto, para quem “o poder não muda as pessoas, mas faz com que manifestem a sua verdadeira face”.

. Por: Aristoteles Atheniense, Advogado e Conselheiro Nato da OAB| Twitter: @aatheniense