Cultura do CDI é entrave para o crescimento da indústria de fundos

Três quartos do capital investido em fundos brasileiros são vinculados à renda fixa.

São Paulo - A taxa de juros é um grande entrave para a indústria de fundos de investimento crescer e aumentar a parcela do capital investido em renda variável, que poderia financiar obras de infraestrutura no Brasil. Essa foi a conclusão dos debatedores do painel “Desenvolvimento do Mercado de Longo Prazo – Visão da Indústria”, realizado no primeiro dia do 6° Congresso Anbima de Fundos de Investimento.

“Não adianta mudar a indústria se o nosso maior cliente é o CDI, que tem segurança, rentabilidade e liquidez. Esse é o grande paradoxo e o entrave da economia brasileira,” disse Luis Stuhlberger, diretor da Credit Suisse Hedging-Griffo Asset Management.

Os fundos de renda fixa representam 75% do patrimônio líquido total dos fundos do investimento no Brasil, disse Stuhlberger, citando estatísticas do Credit Suisse Hedging-Griffo. Enquanto isso, fundos de participação em ações respondem por 14%, mesmo apresentando rendimento de 4 a 5 pontos percentuais acima do índice Ibovespa. A rentabilidade de fundos de renda fixa tem rendimento similar ao CDI, “se a taxa de administração do fundo for zero,” citou Stuhlberger.

Para Joaquim Levy, diretor do Bradesco Asset Management, é preciso encontrar novos veículos para que o mercado de capitais possa financiar os investimentos em infraestrutura no Brasil. “Por isso é necessário aumentar a parcela dos fundos de renda variável. O Brasil ainda tem muito a cultura de DI,” disse. Ele acrescenta que mesmo que os bancos continuem se capitalizando, com mecanismos de alavancagem, é de se esperar que eles não possam atender toda a necessidade de capital para os investimentos de infraestrutura. “Mas enquanto a taxa de juros continuar alta, acho difícil que baixe o interesse pelo CDI,” disse Levy.

Pedro Bastos, diretor do HSBC Asset Management, avaliou o processo de atração de capital estrangeiro para investir no Brasil, especialmente em fundos baseados em projetos de infraestrutura. “O Brasil está na moda e tem que aproveitar. Mas é preciso trabalhar com um senso de urgência na regulamentação da infraestrutura.”

Susan Olson, consultora sênior do Investment Company Institute, fez um panorama da indústria de fundos de investimento nos Estados Unidos e disse que a confiança do investidor norte-americano ainda não foi recuperada após a crise econômica de 2008. “O fluxo de capital está negativo. As pessoas procuram alocar seus recursos de diferentes maneiras e estão mais conservadoras,” disse Susan.