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20/05/2011 - 09:24

Crise global revela desequilíbrio entre Europa e América Latina

Agravamento da situação dos países europeus, mesmo com injeção de liquidez, preocupa mercado.

São Paulo- A crise econômica global continua causando perdas de ativos pelo mundo e a preocupação atual está no grande desequilíbrio entre os países, com destaque para o agravamento da situação de países europeus e o desempenho positivo na América Latina, afirmou Andrés Velasco Brañes, professor adjunto de políticas públicas da Universidade de Harvard, na palestra que realizou no 6º Congresso Anbima de Fundos de Investimento em São Paulo no dia 19 de maio (quinta-feira).

“As pessoas estão acumulando ativos e caçam as poucas oportunidades para investir. O que preocupa é que há países indo muito bem e outros muito mal, além da falta de crescimento econômico de muitos países,” disse Velasco, que foi ministro da Fazenda do Chile entre 2006 e 2010, no governo da presidente Michelle Bachelet.

Segundo Velasco, os mercados emergentes continuam progredindo, enquanto países europeus como Grécia, Irlanda e Portugal vivem fortes crises de liquidez, mesmo com as injeções de dinheiro realizadas pelos bancos centrais Europeu, dos Estados Unidos e do Japão desde o final de 2008, chamadas por Velasco de “o Graal da liquidez.” “A questão é: esse dinheiro está indo para os lugares certos? As reservas internacionais [de alguns países] estão crescendo loucamente,” questiona Velasco.

A injeção de liquidez causou também taxas de câmbio “extremamente instáveis”, alimentadas ainda por uma “virada selvagem” no preço das commodities, disse Velasco, citando o caso do Chile, que comemora a alta do cobre, seu principal produto de exportação. “O que me preocupa é que uma hora as commodities estão em alta e de repente essa tendência se reverte,” afirmou o acadêmico chileno.

Na América Latina, o cenário é de crescimento contínuo nos últimos anos (exceto 2008/2009), caracterizado pela formação de dois blocos (“clusters”) bem diferentes na região, um liderado pelo Brasil e outro gravitando em torno do México. O primeiro é composto principalmente pelos países sul-americanos, que apresentam altas taxas de crescimento e grande dependência das commodities. O segundo bloco tem taxas de crescimento menores e são menos dependentes das commodities.

Os fatores de perigo para a América Latina são o aumento do consumo, do valor dos ativos e da taxa de inflação, combinados à apreciação das moedas locais em relação ao dólar – mesmo com intervenções feitas pelos governos locais –, liderada pelo Real brasileiro. Uma consequência desse quadro é a contínua deterioração do saldo de conta corrente dos países desde 2007, destacou Velasco.

O fluxo de capital para esses mercados emergentes voltou a subir e em 2010 passou o patamar de 2006, o maior volume registrado antes da crise. A questão é por quanto tempo esse crescimento vai perdurar na América Latina, especialmente se Europa e Estados Unidos continuarem a crescer lentamente, questionou Velasco. Além disso, a dúvida é se os países latino-americanos estão preparados para uma reversão do cenário. “Os países emergentes podem estar vivendo uma bolha,” afirmou Velasco.

No curto prazo, o que pode dar “massivamente errado”, segundo Velasco, é a situação fiscal e da dívida dos países europeus. “É uma situação estranhamente familiar para nós, latino-americanos,” lembra ele. O spread das taxas de juros para os países europeus endividados voltou a aumentar para o patamar registrado há um ano, quando começou a crise de liquidez no Velho Continente. “É preciso lembrar que o auxílio de liquidez não vai reduzir o valor total das dívidas.”

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