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15/06/2011 - 08:49

Aventuras e desventuras de uma futura inquilina

Estava procurando um apartamento para alugar e deixei claro para os corretores de várias imobiliárias o meu sonho: prédio familiar, quarto e sala, ventilado, espaçoso e com armários. Todos me perguntaram quantas pessoas iriam residir no imóvel. Pergunta simples, né? Nem tanto, descobri depois. Mas na hora, não soube ler nas entrelinhas e fiz a besteira de responder a verdade: “Só uma, eu”. Aí começou o meu calvário... E bota calvário nisso!

O primeiro apartamento que me indicaram seria bom, se não fosse pelo detalhe das janelas. A sala não tinha, o basculante da cozinha dava para as escadarias do prédio – os moradores me veriam - e a do quarto era mínima. Decididamente, eu e minha claustrofobia não seríamos felizes ali. Comentei com o corretor e ele, tentando fechar negócio, se saiu com essa: “A senhora liga todos os ventiladores e vai ficar bem fresquinho”. (Como assim? Se não tem ar, vai ventilar o quê?)

O segundo não possuía tanque, nem local para instalar a máquina de lavar roupa. O corretor resolveu o problema. “A senhora pode lavar as roupas no lavatório.” (Eu me imaginei tentando lavar uma calça jeans com sabonete.)

Já no terceiro, o que faltava era justamente o lavatório no banheiro. “A senhora usa a pia da cozinha...” (Super higiênico escovar os dentes no local onde as louças são lavadas...)

Falando em cozinha, uma, em outro imóvel, era tão pequena que não cabia uma geladeira ou um fogão. Só tinha a pia e os armários. “A senhora não tem jeito de quem gosta de cozinhar, aqui embaixo tem um restaurante ótimo. (Poderia jogar uma corda do sétimo andar e o garçom amarrava a minha marmita nela.) E uma boa caixa de isopor vai manter tudo gelado.” (Oh se vai!)

Eu, realmente, não estava entendendo... Especifiquei o que eu desejava e só me levavam para olhar apartamentos que eram o ó do borogodó? Liguei para as imobiliárias em questão e armei um barraco. Que não me chamassem mais para ver porcarias!

Enfim, começaram a me mostrar imóveis decentes. E, finalmente, eu entendi. A mesma mulher sozinha que ouve, em uma oficina, que o defeito do carro é na rebimboca da parafuseta, não é também considerada inteligente, por alguns corretores, para alugar um apartamento ou casa. Assim, já que na opinião deles eu era burra, tentaram me empurrar qualquer droga.

Depois de ter rodado a baiana, as ofertas melhoraram. Quando gostei de três imóveis, descobri que mulher sozinha também não é confiável para usar ou alugar um apartamento. Uma imobiliária queria que eu pagasse adiantados os doze meses de aluguel. (Péra aí, eu estou alugando, não estou comprando um cômodo do apartamento. Então eu pago adiantado, eles aplicam o dinheiro e que vantagem eu levo nessa?) Acharam que eu tinha cara de caloteira...

Outra só fechava negócio se eu desse R$ 6 mil de seguro que seria devolvido, sem correção, quanto eu entregasse o imóvel inteiro. A corretora, traidora da classe feminina, ainda me falou na maior cara de pau: “Você sabe, mulheres sozinhas costumam dar muitas festas e podem depredar o apartamento”. (Eu não sei de nada disso não...) Gente, ela pensou que eu fosse fazer verdadeiras orgias!

E na terceira me inquiriam sem dó, nem piedade. “A senhora tem algum animal de estimação? (um galo, que canta às cinco da manhã) Costuma gritar à noite incomodando os vizinhos? (sim, sou louca de pedra), vai guardar algo ilícito no imóvel? (apenas armas e drogas). Eu já estava com aquela cara de deboche quando veio a pergunta fatal. “A senhora pretende realizar algum tipo de comércio no apartamento?” Foi a gota d´água. Peguei a minha bolsa, levantei e respondi bem alto: “Eu ia transformá-lo na Casa da Mãe Joana mas, pensando bem, ali não é um bom ponto”.

Embora estivesse arrasada, não cancelei o encontro com uma amiga que me aguardava no bar Joaquina, recém-inaugurado. Contei todo o meu drama e fui ao banheiro lavar o rosto. Olha, que banheiro! Espaçoso, música ambiente, um espelho enorme, tudo muito lindo... e decidi: vou me mudar para cá. Cabe a cama, os armários, o computador e a escrivaninha. Uma verdadeira suíte! E uso a cozinha do restaurante.

Voltei para a mesa e comentei a solução que eu encontrara. Rindo muito minha amiga me aconselhou: “Vera, você precisa encontrar um falso marido! Pede para um amigo, um primo, e vai com ele alugar o apartamento.”

Pois não é que deu certo? Na primeira imobiliária que fomos juntos consegui o imóvel dos meus sonhos e não precisei adiantar aluguéis ou passar por constrangimentos.

Fica aí a dica. Entre outras qualidades, além de abrir vidro de palmito, um homem é perfeito quando uma mulher sozinha quer alugar um apartamento.

. Por: Vera Lucas, jornalista e escritora, ([email protected]) é jornalista graduada pela UFRJ em 1981 e pós-graduada em Docência Superior (Universidade Estácio de Sá/2.000). É autora dos livros “Introdução ao Jornalismo”, “O texto para a Mídia Eletrônica” e “Comunicação Comunitária”, publicados pela Faculdade CCAA Editora. Já trabalhou em diversas redações de revistas, jornais e TVs nas funções de repórter, redatora, editora de texto e roteirista. Foi chefe da Assessoria de Comunicação (ASCOM) da Secretaria de Estado de Educação. Também atuou como professora universitária de Comunicação Social para graduação e pós-graduação. Seu blog é http://veralucas.wordpress.com/.

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