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Água e esgoto fora do debate

Nos últimos meses, muito se falou sobre o aquecimento global provocado pelas emissões descontroladas de gás carbônico. Embora os alertas sobre o problema sejam antigos, somente agora os governos decidiram tratar a questão com seriedade, influenciados por catástrofes climáticas como furacões, enchentes e a elevação do nível dos oceanos, e pelos impactos econômicos gerados pelo desequilíbrio ambiental. Mas o debate não pode se concentrar apenas em torno do tema. Mais do que nunca, é hora de se fazer uma análise mais profunda sobre a utilização da água doce e do tratamento de esgoto no planeta.

A ausência de ações para solucionar esses dois problemas vem transformando doenças aparentemente inofensivas em pragas incontroláveis, sobretudo no sempre esquecido continente africano. Recentemente, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgou um relatório estarrecedor sobre a questão.

O documento indica que 1,1 bilhão de pessoas não tem acesso à água potável, enquanto outras 2,2 milhões desconhecem o que é saneamento básico. As conseqüências desse descaso se refletem na morte de uma criança a cada 19 segundos. Como sempre, os principais atingidos pelo problema são as camadas mais pobres. O relatório mostra que no ano passado foram registrados mais de 5 bilhões de casos de diarréia no planeta, que terminaram com a morte de 1,8 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade, um número bem maior que o registrado em casos de tuberculose, malária e Aids.

A catástrofe poderia ser evitada se houvesse interesse das nações desenvolvidas em contribuir com recursos financeiros para a construção de redes de água e esgoto em localidades carentes. O relatório aponta que seriam necessários nove anos para reduzir esse déficit pela metade, desde que houvesse investimentos anuais de US$ 10 bilhões. À primeira vista, o número assusta. Mas esse dinheiro tem sido gasto a cada cinco dias com a compra de armas de fogo pelo mundo afora.

A África é o continente que mais sofre. O consumo médio de um cidadão que vive em Moçambique é de 10 litros de água por dia, quase metade do mínimo recomendado pelo Pnud. Enquanto isso, norte-americanos e britânicos utilizam em média 700 litros de água por dia, sendo que um terço disso vai para a descarga dos banheiro. No Brasil, a situação é um pouco melhor, embora ainda haja o que fazer. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o problema atinge 11 estados, onde 80% do esgoto é despejado em rios, lagoas e oceano.

Infelizmente, parece que a água potável e o saneamento básico só despertarão o interesse das nações desenvolvidas quando o impacto desse abandono começar a se refletir em um número maior de imigrantes, estiagem e doenças. A água é um bem natural muito barato, mas nem sempre será assim. Se houver disposição em cuidar desse assunto agora, com certeza poderemos amenizar uma série de problemas no futuro.

. Sebastião Almeida é deputado estadual pelo PT, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água e membro da comissão de meio ambiente da Assembléia Legislativa de São Paulo. E-mail: [email protected]

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