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29/06/2011 - 11:05

Nem tudo foi perdido

Atualmente, as bolsas mundiais vêm passando por momentos de instabilidade. A causa ainda é a crise financeira global e o mau humor generalizado dos mercados, que seguem reféns da recuperação econômica norte-americana e europeia. No front interno a situação não é diferente. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, acumula uma queda de mais de 10% em 2011 e está cerca de 20% distante de seu pico histórico, atingido em 29 de maio de 2008 — quando alcançou 73.920 pontos (pontuação obtida durante o pregão, mas não mantida no fechamento). O fato tem suscitado desconfiança a respeito da qualidade da bolsa como investimento de longo prazo. Mas será que não foi possível ganhar dinheiro investindo em ações durante esse período? É importante levar em conta que a Bolsa de Valores de São Paulo não contempla somente o Ibovespa, que é formado pelas ações mais líquidas. Só para se ter uma ideia, os ativos da Vale e Petrobras respondem juntos por cerca de 26% do índice, e quando ambos caem - como vem acontecendo em muitos momentos - a perda acaba sendo generalizada.

Quando o índice alcançou a sua pontuação máxima, em maio de 2008, o Brasil acabara de ser elevado ao grau de investimento pela Standard & Poors, uma das principais agências de classificação de risco do mundo. Mas já havia fortes indícios de que o mundo enfrentaria sérios problemas com o alto endividamento dos consumidores, conjugado à má qualidade dos ativos bancários das nações desenvolvidas. Naquele mesmo ano, tais indícios se concretizaram e vivenciamos a segunda pior crise da história do capitalismo.

De lá para cá, o que aconteceu foi uma relevante alteração de peso entre setores da economia brasileira. Algumas mudanças macroeconômicas, como a estabilidade monetária e a solidez do sistema financeiro nacional, foram os principais fatores que motivaram as agências de risco a concederem ao País o investment grade. A elevação da nota de risco estimulou as operações de crédito e a geração de emprego, tornando realidade um potencial de consumo embasado numa população de aproximadamente 190 milhões de habitantes. O Brasil, além da vantagem competitiva no setor primário, passou a contar com um mercado interno ávido por novidades.

Esta nova fase da economia brasileira tem sido o principal foco dos investimentos estrangeiros no País nos últimos anos. A capacidade de compra da população combinada a um real valorizado tem despertado o interesse das multinacionais e dos investidores externos, que vêm reforçando suas participações em solo nacional. No dia 9 deste mês, a empresa de consultoria americana A.T. Kearney divulgou uma lista dos países mais atrativos para investimentos no varejo, com o Brasil encabeçando a lista à frente da China e da Índia.

Quem apostou na bolsa, em empresas beneficiadas pela ascensão desta massa de consumo, obteve retornos excelentes, mesmo durante estes conturbados três anos. É só verificar o ganho de algumas ações ligadas ao consumo desde 20 de maio de 2008, quando o índice Bovespa obteve o maior fechamento de sua história, com 73.516 pontos, até hoje. Desde então, o índice desvalorizou 16,94%, mas os investimentos em empresas de varejo não seguiram a mesma regra.

Entre os papéis com boa rentabilidade neste período podemos citar os da Hering ON (HGTX3), que saltaram de R$ 3,52 em maio de 2008 para R$ 33,67 em 17 de junho de 2011, alta de 862,49%. Já Lojas Marisa ON (AMAR3) apresentou valorização de 303,35%, e Natura ON avançou 120,4%, passando de R$ 17,42 em maio de 2008 para R$ 38,40 em igual mês de 2011.

Outro setor dependente da economia doméstica é o elétrico. Apesar da previsibilidade de seus retornos, as elétricas também não deixaram a desejar. Entre os bons destaques estão os papéis da Eletropaulo (ELPL4), com valorização de 79,2% desde maio de 2008, Light S.A ON, que subiram 75,7% em três anos; e Copel PNB, acumulando ganhos de 51,7% no período.

Então, como explicar o desempenho tão ruim do principal indicador de desempenho da Bovespa? O problema é que a metodologia de cálculo para determinar a composição e o peso de cada ação no Ibovespa, a partir do volume e do número de negócios, privilegia as ações de grandes corporações de capital aberto.

No Brasil, até por suas características geográficas, essas grandes corporações são, em sua maioria, empresas relacionadas ao setor primário. Já que tais companhias precisam ser de grande porte para que haja um ganho de escala que as possibilite enfrentar a concorrência estrangeira, grandes conglomerados se formam no setor. Para se ter uma ideia, a soma da participação das mineradoras, siderúrgicas e petrolíferas representa 40% do Índice Bovespa, uma vez que entre elas temos as maiores empresas do Brasil.

Como estas ações dependem do mercado internacional e a situação da economia mundial continua bastante conturbada e cercada de incertezas, o desempenho de algumas das blue chips brasileiras continua muito aquém do desejado, como é o caso da Vale e Petrobras. Para piorar, as recentes intervenções governamentais nas duas maiores empresas brasileiras ajudaram a prejudicar ainda mais a performance de suas ações, empurrando o Ibovespa ainda mais para baixo.

Nos últimos anos verificamos uma mudança na relevância dos setores na economia brasileira. A estabilidade econômica, a melhor distribuição de renda e a consequente expansão das operações de crédito possibilitaram às famílias ampliarem seu consumo, enquanto a fraqueza e as incertezas da economia mundial têm gerado dúvidas com relação às empresas ligadas às commodities. Entretanto, a composição do Índice Bovespa é muito sobrecarregada de ações focadas em matérias-primas, o que camuflou o bom desempenho de setores voltados para o mercado interno. Quem investiu nas ações de varejo, como vimos, obteve uma excelente rentabilidade nos últimos três anos, que não foi capturada pelo Ibovespa.

Em nenhum momento é possível afirmar que foi fácil prever em qual setor investir. O Brasil tem uma vasta riqueza natural que proporciona uma importante vantagem comparativa na produção de matérias-primas. Empresas como Vale e Petrobras, que se desvalorizaram neste período, superaram a valorização do Ibovespa durante muitos anos, tornando ricos muitos investidores de longo prazo. E é provável que elas subam quando baixar a poeira do cenário econômico mundial.

Mesmo em um mercado bastante conturbado, é possível, com uma boa interpretação do cenário macroeconômico e escolhendo companhias com bons fundamentos, ganhar dinheiro com ações, investindo no longo prazo. A diversificação entre bons papéis de variados setores minimiza o erro e ainda possibilita expressivos ganhos. É importante que o investidor faça uma boa análise individual por meio de informações sobre o mercado acionário, e, se possível, contando com a orientação de especialistas. Desta forma, mesmo em um cenário de crise, é possível obter bons resultados investindo em bolsa.

.Por: José Góes, analista da WinTrade.

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