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27/07/2011 - 12:54

Sustentabilidade em Rede: Gestão e Cooperação


A corresponsabilidade dos diversos Estados, empresas, terceiro setor e cidadãos acentua-se na análise das causas dos problemas ambientais. Na outra ponta, a da solução dos problemas, a cooperação tece a rede na qual coordenam-se as operações simultâneas e os esforços paralelos individuais e coletivos. A cooperação seria o meio de se fortalecer, compartilhando competências, infraestrutura, experiência de mercado, dividindo custos e somando esforços. Por isso, o mundo hoje não pode mais ser um conjunto de grandes fábricas isoladas, mas uma rede de pequenas, médias e grandes empresas, cooperativas locais e corporações transnacionais atuando coligadas, em arranjos diversos, dos clusters regionais às organizações virtuais, com harmonias ou dissonâncias.

Das pequenas às grandes inovações, a busca da sustentabilidade impõe-se nos diversos planos: processos produtivos mais limpos e econômicos do ponto de vista dos recursos naturais; produtos inovadores em termos de novas funções e menor impacto ambiental; novas matérias- primas para produtos conhecidos; serviços mais intensos em conhecimento para a gestão ambiental; políticas internas de administração que envolvam educação, tecnologia e redução de gastos relacionados à matéria-prima, processos de produção e formas de organização do trabalho.

Portanto, a sustentabilidade não pode ser entendida como um departamento da corporação, nem como uma dimensão da empresa. O adjetivo sustentável apenas faz sentido quando vinculado à entidade como um todo. A empresa sustentável precisa buscar o foco das atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, da política de recursos humanos, do trabalho produtivo, das estratégias de marketing e mesmo do departamento financeiro, procurando o horizonte da sustentabilidade.

Do ponto de vista da gestão – em especial das políticas de recursos humanos – a empresa será convidada a uma grande transformação. Pressões das grandes empresas às pequenas e médias fornecedoras, imposições da matriz às filiais e subsidiárias, exigências de certificação de qualidade, imposição de normas técnicas ambientais, aperfeiçoamento do direito nacional e internacional, todo esse arcabouço gera uma entrada na questão dos direitos humanos das corporações. O respeito aos direitos políticos, civis, sociais, econômicos e culturais – individuais, coletivos ou difusos – não será mais uma obrigação do Estado para com o cidadão ou dos cidadãos entre si mas ficará vinculado também às organizações privadas.

As questões que se impõem à administração das empresas são as mais diversas e afirmam a necessidade de monitoramento de toda a rede produtiva, incluindo fornecedores e consumidores, os trabalhadores e as comunidades que desfrutam ou refutam as externalidades do processo de produção – externalidades essas cada vez mais internas às pautas das organizações, preparadas para a produção sustentável e a competitividade econômica.

Temas como trabalho decente, trabalho infantil e trabalho em condições análogas à escravidão, liberdades do trabalhador, promoção e respeito às culturas, aos modos de vida e ao pensamento de comunidades, respeito ao direito ao meio ambiente saudável, todas essas questões, até então vistas como “problema do governo”, pressionam as empresas como organizações centrais da sociedade moderna. Assim, surgem redefinidas as oportunidades quanto à (re)qualificação de trabalhadores, que podem contribuir para a construção da sustentabilidade e da inovação em todas as esferas da empresa.

Quanto às finanças, a sustentabilidade tende a colocar ao lado da noção de custos sociais e custos ambientais a ideia de dumping social e dumping ambiental. Não existindo uma linha de progresso que os países “em desenvolvimento” devem seguir, reproduzindo os erros que o processo de industrialização cometeu nos últimos séculos, os âmbitos de negociação econômica e de defesa da competição, incluindo a Organização Mundial do Comércio (OMC), têm, de forma incipiente, traduzido o conceito de que não parece possível admitir que todos os países tenham de rebaixar o nível de vida das populações para competirem com fábricas que reproduzem miséria e condições degradantes.

Se, na década de 90, ganhou força a noção de “qualidade por toda a empresa”, muito mais forte pode ser a convicção, deste início de milênio, de que a sustentabilidade propõe uma questão para toda a empresa e para todas as empresas, do marketing à gestão, dos recursos humanos à estratégia.

Muito além de um apelo emocional, a sustentabilidade levanta um imperativo racional (ecológico) à sustentação das redes de cooperação produtiva que constituem a economia mundial, as economias nacionais, regionais e locais, uma questão prática para as empresas, parte do cotidiano. Se, segundo a história, o industrialista americano Henry Ford concebeu a linha de montagens do automóvel a partir de uma visita a uma linha de desmontagem de bois, semelhante (des)construção volta hoje em forma de inovação na gestão da sustentabilidade nas empresas: o conceito de logística reversa e as técnicas de produção mais limpa mostram a necessidade de se dominar não só a produção mas, também, a "desprodução".

A empresa agora atua em uma rede que deve cobrir da pré-matéria-prima (o que fazer para preservar o espaço social e natural da onde será retirada) até a fase do pós-venda e do pós-consumo (como reaproveitar um produto após o uso). Da produção à desmontagem, a sustentabilidade busca uma inserção na dinâmica que rege o sistema econômico e a sociedade, a dinâmica da “destruição criativa”, como identificou o economista Joseph Schumpeter. Nasce, assim, o paradigma da produção sustentável.

. Por: João Amato Neto, professor titular e chefe do departamento de Engenharia de Produção da Poli-USP, coordenador do curso de capacitação em Sustentabilidade na Cadeia Produtiva e do curso de especialização em Administração Industrial na Fundação Vanzolini.

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