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28/07/2011 - 10:11

O artista múltiplo


Série Geópolis

Enéas Valle abre exposição multimídia no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica e comemora 30 anos de carreira.

Pinturas, desenhos, videoarte, colagens, objetos, esculturas e um vídeo inédito dão forma à exposição Transfronteiras, do artista plástico multimidiático Enéas Valle, a partir de 05 de agosto (sexta-feira), no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. Com curadoria de Fernando Cocchiarale, a mostra reúne cerca de 50 obras e quatro vídeos, fazendo um balanço da última década de produção do artista, além de três mesas-redondas com os principais críticos de arte do país.

Artista plástico, matemático, doutor em Comunicação e Cultura e professor da Escola de Belas Artes da UFRJ, Enéas Valle é um artista múltiplo. Como pintor, segue as leis das cores e das linhas, mas de maneira curvilínea, criando objetos tridimensionais, contrariando as retas precisas. O artista promove o encontro da arte com a ciência e com o meio ambiente, ao criar novas disciplinas e investir na transdisciplinaridade. Em seu trabalho, recorta partes do cotidiano e cria uma forma, uma estrutura, sempre ligada à cor. Enéas se define como um colorista: “Minha pintura tem uma grande animação de vida”.

As obras: Uma Visão Urbano-Planetária- Pinturas em acrílico sobre tela e desenhos a nanquim e aquarelas da produção de Enéas Valle nos últimos dez anos.

Série Geópolis (2003-2005)- Geópolis significa cidade planetária, cidade global. Esse nome surgiu por oposição ao conceito de “aldeia global”, de Marshall McLuhan, ao descrever o mundo conectado pela televisão. Para Enéas, o mundo globalizado dos anos 2000, conectado pelos computadores e pela Internet, parece mais próximo da imagem de cidade do que da imagem de aldeia.

A Série Geópolis apresenta a característica de ser concebida como um políptico de 16 partes, ou seja, uma junção de 16 imagens autônomas, mas interrelacionadas. A ideia para trabalhar dessa maneira com o espaço pictórico teve duas origens: de um lado os bytes da linguagem da informática; de outro, as videowalls, com seus múltiplos monitores que, através da digitalização das telas e dos recursos do vídeo, possibilita a criação de videoclipes. Na exposição serão apresentados alguns videoclipes criados a partir dessa série e de outras telas.

Painéis-O que é O que É (2008): criado para a sala da direção do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada – IMPA. - Acrílico sobre tela, díptico. Para o artista, “o painel apresenta o homem diante das multiplicidades – partículas elementares, galáxias, multidões – em atitude científico-filosófica”.

Poeira de estrelas e um tripé filosófico (2006-2009) -O artista traduz para a pintura a multiplicidade de uma série de televisores transmitindo simultaneamente imagens de diferentes lugares, em formato políptico, de 32 partes. Alusão a uma metrópole e à união de seus contrários e paradoxos; apresenta ao mesmo tempo o dentro e o fora, o longe e o distante, a calma e a agitação, a tristeza e a alegria, o tédio e a euforia. O título da obra foi inspirado no artigo do físico Marcelo Gleiser, onde propõe que a matéria e a energia das nossas vidas vêm das explosões das estrelas.

“Aplicados à tela e integrados à pintura, há três retângulos de lixa negra; sobre cada um deles, duas letras. As letras têm a função de relacionar os retângulos entre si, seja pela repetição ou pela cor. Isso reforça o caráter de paisagem metropolitana da pintura. Para as letras escolhi as iniciais de três filósofos sem relação entre si: FN (de Friedrich Nietzche), FE (de Friedrich Engels) e BE (de Baruch de Espinoza)”, explica Enéas.

São Paulo (2004) - Desenhos criados a partir da performance São Paulo, realizada no Teatro Amazonas, em Manaus (2004), cujo vídeo, ainda inédito, também será apresentado na exposição

Videoarte-Três videoclipes de dois minutos cada, apresentados por Michele Andrade, com imagens obtidas a partir da digitalização de pinturas de Enéas Valle dos anos 2000, além de uma edição especial de vídeos-performances como São Paulo, Novos rituais para o novo milênio, Superesiorpazcolade, No cérebro do teu peito imagem e Orelha.

Colagens e Objetos-Enéas Valle desenvolveu a pesquisa “Arte ambiental - a plástica dos resíduos e a plasticidade do meio ambiente”, entre 2005 e 2010, criando o Laboratório Pablo Picasso de Estudos Transdisciplinares em Escultura, Produção e Direção de Arte – LabPP-Esc – na Escola de Belas-Artes da UFRJ, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Os objetos (assemblages) e colagens apresentados na exposição estão relacionados com essa pesquisa desenvolvida no LabPP-Esc. Focada na questão ambiental, a pesquisa foi pensada a partir do conceito de corte gráfico, tema da tese de doutorado de Enéas. Esse conceito envolve a aplicação de resíduos na criação de obras de arte. Assim, um dos objetivos do LabPP-Esc foi estudar meios de fazer arte com restos de madeira, metal, máquinas velhas, entre outras coisas. Outro objetivo foi pesquisar possibilidades de melhorar as condições ambientais a partir de processos artísticos.

Para o artista, a vida contemporânea não é constituída de departamentos separados; as coisas estão interligadas e é importante a reutilização de resíduos nas artes plásticas para enfatizar a necessidade urgente da reciclagem em grande escala.

Os objetos guardam uma memória espaço-temporal afetiva. Muito próximos da pintura, são como uma pintura de fragmentos tridimensionais.

Esculturas-Duas instalações que conferem às assemblages - empilhamentos construídos com garrafas de vinho, caixas de biscoitos finos, vidros, frascos, copos, taças, imagens populares de santos e cola de pvc, derivada do petróleo – o caráter de Máquinas A-Úteis.

São elas: Totens – Máquinas A-úteis com movimento giratório sobre o próprio eixo, ao redor de um ponto fixo, sobre uma base de madeira dotada de motor elétrico – e Trilha – uma base com dois trilhos sobre os quais trafegam, em vai-e-vem, duas Máquinas A-úteis. Essas estruturas foram idealizadas por Enéas Valle e a pesquisa teórica-experimental foi feita pelo estudante da EBA Anderson Batista Dias.

Palestras-Ao longo da exposição serão realizadas três mesas-redondas reunindo críticos de arte que tiveram papel importante na trajetória do artista. As palestras irão discutir temas importantes no pensamento e na atuação do artista. Participarão das mesas-redondas os críticos Ricardo Basbaum, Paulo Herkenhoff, Marcus de Lontra Costa, Márcio Doctors e Paulo Venâncio Filho, além de Fernando Cocchiarale, curador da exposição, e do próprio artista.

Dia 09/08/2011 às 17h.: Tema: Pintura, escultura e tecnologia: semelhanças e contrastes na Arte Moderna e na Arte Contemporânea, continuidades e rupturas. Palestrantes: Fernando Cocchiarale e Marcus de Lontra Costa.

Dia 17/08/2011 às 17h.: Tema: O Grupo Moreninha. Palestrantes: Márcio Doctors e Ricardo Basbaum.

Dia 23/08/2011 às 17h.: Tema: Artes plásticas, universidade e meio ambiente: conscientização e ação ambiental.Palestrantes: Paulo Herkenhoff e Paulo Venâncio Filho.

O artista-Artista plástico formado na Staedel Kunsthochschule de Frankfurt am Main, Alemanha (1980), possui bacharelado em Matemática pela Universidade de Brasília (1972), mestrado em Matemática pela Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (1975) e doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001), além de especialização em Processamento de Dados no Control Data Institut de Berlim, Alemanha (1990). É professor adjunto da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA-UFRJ), onde fundou e coordena o Laboratório Pablo Picasso de Escultura e Estudos Transdisciplinares em Escultura, Produção e Direção de Arte (LabPP-Esc), no qual desenvolve, desde 2002, o projeto de pesquisa e extensão Arte ambiental: a plástica dos resíduos e a plasticidade do meio ambiente. Um dos pintores do grupo conhecido como Geração 80, possui dois livros publicados sobre sua obra pictórica (Tempo-cor e Hiperespaço curvista) e uma extensa lista de exposições individuais e participação em coletivas, no Brasil e no exterior. Performer, tem vários vídeos criados a partir de performances.

A relação do artista com o prédio do Centro de Artes Hélio Oticica - CAHO

Na história de Enéas Valle, o prédio da Rua Luís de Camões 68, onde atualmente funciona o Centro de Arte Hélio Oiticica (CAHO), tem um significado muito especial: era ali que funcionava, na década de 1970 do século XX, o Instituto de Matemática Pura Aplicada (IMPA), onde Enéas Valle obteve o título de Mestre em Matemática e iniciou um doutorado em Análise Matemática, entre 1973 e 1977. Foi uma bolsa de estudos do IMPA que trouxe Enéas Valle, natural de Manaus, para o Rio de Janeiro, após um bacharelado na Universidade de Brasília – UnB. No Rio, descobriu a vocação para a pintura e viveu durante seu período no IMPA, o conflito entre o desejo de ser pintor e a carreira de matemático, que se desenrolou sob o signo da ditadura militar, que o perseguiu durante o primeiro ano de seu mestrado com seqüestro, prisão de duas semanas, revistas arbitrárias na república estudantil e corte sumário da bolsa de estudo.

Graças ao apoio dos professores e colegas do IMPA, Enéas Valle tornou-se Mestre em Matemática em 1975 e foi para Frankfurt am Main, Alemanha, em 1977, com uma bolsa de estudo do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico – DAAD. Em Frankfurt, estudou Artes Plásticas na Städel Kunsthochschule, sob a orientação de Raimer Jochims, e tomou a decisão de abandonar o doutorado em Matemática para tornar-se artista plástico profissional. Para Enéas Valle, o marco do início de sua carreira foi a exposição O espaço tem quatro dimensões, na Galeria Andréa Sigaud, em 1981.

Além dessa relação da sua biografia com o prédio do CAHO, o fato do edifício abrigar um centro cultural que homenageia Hélio Oiticica confere à exposição um significado igualmente relevante para Enéas Valle, que conheceu Lygia Pape no começo dos anos 1980, no apartamento que abrigava o Projeto Hélio Oiticica, na época recentemente falecido. Por um lado, a obra de Hélio Oiticica inspirou Enéas Valle a criar, em 1983, o conceito de “Envolvível”, a partir do conceito de “Penetrável”, e estimulou-o na criação das assemblages. Por outro lado, Lygia Pape tornou-se sua amiga e posteriormente colega de departamento na EBA, além de ter sido a inspiradora do projeto do Laboratório Pablo Picasso.

.[Transfronteiras, de 06 de agosto a 04 de setembro, de terça a sexta-feira, das 11h às 18h, sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rua Luís de Camões, 68 – Centro do Rio de Janeiro| Telefones (21) 2232-4213 / 2232-2213| E-mail: [email protected]].

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