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15/08/2007 - 10:34

O “laissez-faire” de Lula

O estilo Lula de governar faz lembrar, no discurso, o célebre “laissez-faire” dos primórdios do capitalismo, com algumas diferenças fundamentais, é claro: o Estado (de hoje) sofre de obesidade mórbida, gasta mal e sem critério; e arrecada com voracidade pantagruélica.

Na prática, contudo, o discurso é esquecido para dar lugar à ação reestatizante, em alguns setores da economia que, ou vão muito bem – caso da Petrobras comprando a Suzano - , ou vão muito mal – casos das agências reguladoras, usando-se o pretexto do apagão aéreo.

Essa combinação de discurso neoliberal com prática estatizante é conveniente aos objetivos do Planalto e de seus aliados, já que, ao deixar as coisas piorarem em um setor que já não ia bem – como foi o caso do apagão aéreo - , gera-se, na opinião pública, clamor por intervenção do Estado.

Obviamente, isso não significa necessariamente que problemas sejam solucionados.

Na outra ponta, ou seja, na das estatais que dão lucro, estimula-se a concorrência – muitas vezes desleal – com empresas privadas para que estas sirvam de “caça” para aquelas. Outro exemplo dessa ação foi a aquisição do Grupo Ipiranga pela Petrobras, em associação com outras grandes empresas privadas desse setor.

Pressionado pelo risco iminente de ocorrência dos apagões logístico e energético, que só fez se agravar durante o primeiro mandato, o presidente Lula apressou-se em anunciar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para mostrar serviço e, dessa forma, tentar desqualificar as críticas da oposição.

Acontece que, com PAC ou sem ele, quatro anos é pouco tempo para consertar os gargalos de infra-estrutura do País (estradas, ferrovias, portos, aeroportos, navegação de cabotagem e fluvial; e transporte metroviário). Dessa forma, na melhor das hipóteses, tal tarefa ficará para quando a sociedade a exigir.

Em vez do PAC, que vem sendo duramente questionado por ações judiciais, o governo poderia ter constituído um fundo especial de investimento, gerido pelo BNDES, com cotas de participação, distribuídas entre grandes exportadores brasileiros e investidores estrangeiros, para financiar as obras necessárias à modernização de infra-estrutura.

Nem isso, Lula tentou fazer. A questão que se coloca é: por que o Planalto não vem, há tempos, se empenhando como deveria na busca de soluções para um setor de importância vital e estratégica para o País como os portos e aeroportos?

E, aqui, cabem duas respostas: talvez o presidente Lula, em seu novo estilo neoliberal-estatizante de governar, esteja à espera que a iniciativa privada resolva mais esse problema, ou seja, que ela banque sozinha a modernização da infra-estrutura; ou, então, ele pretende mesmo deixar esse problema para o sucessor.

Uma coisa é certa: Lula interrompeu o processo de privatização das estatais em seu primeiro mandato e, durante o segundo, quer entregar ao sucessor um Estado novamente forte, não apenas no tamanho da máquina administrativa, que ele não se cansa de inchar, mas, também e principalmente, nos setores produtivos e nas agências reguladoras.

Ao que tudo indica, esse modelo de desenvolvimento petista inspirou-se no sucesso obtido pela economia chinesa, que se baseia na mescla de discurso socialista com prática capitalista. Só que Lula inverteu as prioridades: combina discurso capitalista, beirando, algumas vezes, o neoliberalismo; com prática estatizante.

. Por: Miguel Ignatios, presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB).

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