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02/08/2011 - 11:07

Cadê a política fiscal?

A última postagem deste Blog mencionava o “cobertor curto” do governo e do Banco Central. Ao negligenciar uma política fiscal suficientemente rigorosa no combate à inflação, o governo impõe ao Banco Central a adoção de uma política monetária mais austera (taxa de juros elevada) do que o desejável.

Ainda que neste momento o BC procure uma dosagem mais tênue dos juros (o que alguns já chamam acertadamente de “postura ambígua”, questionando a sua eficácia), com o cuidado de não asfixiar a economia, as taxas permanecem necessariamente elevadas, as mais altas do mundo.

De qualquer modo, ou “cabeça” ou “pé” fica ao relento. E nem um objetivo nem outro está sendo alcançado: o crescimento não é pleno, ao mesmo tempo em que a inflação continua a dar contundentes sinais de vigor.

Para piorar o quadro, o efeito colateral do juro alto - além do aumento dos custos de financiamento para as empresas - é a forte valorização do real. Valorização que ocorre justamente num momento em que o dólar já está em queda por conta de fatores externos – em especial, a expansão monetária promovida pelo governo dos Estados Unidos para tirar o país da crise.

Real e juros altos derrubam a competitividade da cadeia produtiva nacional, que perde espaço não apenas no mercado global, como também para os produtos importados, que chegam ao país a preços muito mais baratos. E isso ocorre porque as empresas que os fabricam no exterior têm custo de produção mais baixo (menos juros, e também menos tributação, menos encargos, menos burocracia, melhor logística etc) do que as brasileiras.

Produtos mais baratos chegando ao Brasil não são de todo ruim. Ajudam a conter a inflação – o fenômeno é saudável desde que a diferença de preços não seja resultante de distorções gritantes na estrutura dos custos, o que inviabiliza a própria indústria brasileira.

O governo quer resgatar parte da competitividade da indústria brasileira contendo a queda livre do dólar. E por isso tem baixado uma série de medidas de intervenção no câmbio, a exemplo do que fez na semana passada. Todas de efeito passageiro e raio de ação limitado. Enquanto isso deixa de concentrar energia em questões fundamentais, como a contenção de seus próprios gastos para: 1. permitir, aí sim, uma redução mais segura dos juros sem comprometer o controle inflacionário; e 2. transferir receitas para a aplicação em investimentos (indispensáveis à competitividade).

Sobre esse “cobertor curto” e o câmbio desfavorável ao exportador brasileiro, afirma o economista e ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore em artigo deste domingo (31/07) no Estado de S. Paulo:

“O Brasil pode colocar band-aids no câmbio, mas isso não cura uma hemorragia (por conta dos fatores externos, fora da órbita da política econômica interna). Nesta situação, tudo o que puder ser feito para reduzir a taxa de juros no Brasil ajuda a minorar o problema, embora não o solucione completamente. Mas extremo cuidado tem que ser tomado com a inflação, que já é muito elevada, o que me leva a insistir fortemente no óbvio: há uma única combinação de instrumentos de política econômica que teria uma eficácia muito maior neste caso, que é uma política fiscal suficientemente contracionista, fazendo com que ocorra uma contração forte de demanda agregada, permitindo trabalhar com juros reais mais baixos. O país ganharia no controle da inflação, e reduziria o estímulo ao ingresso de capitais derivado dos juros domésticos muito elevados”.

Mas atenção: política fiscal responsável, compatível com a estabilidade econômica, deve ser sinônimo de qualidade na gestão dos recursos financeiros disponíveis. Em outras palavras, menos gastos correntes e mais investimentos, pois esses têm efeito multiplicador sobre a produção.

.Por: Nilson Mello | www.metaconsultoria.com.br| http://blogmetamensagem.blogspot.com| http://Twitter.com/MetaComunicacao

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