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12/08/2011 - 05:32

Os gestores da inércia

Toda empresa costuma ter uma fase de estabilidade em seus negócios. É um período no qual são colhidos os frutos dos esforços envidados no início, quando tudo começou. A duração desta etapa pode variar bastante. Na Kodak, este período se estendeu desde o final do século XIX, quando George Eastman criou a primeira máquina portátil até os anos de 1990, momento em que a empresa perdeu espaço para as câmeras digitais (ironicamente inventada pela Kodak); foram aproximadamente cem anos de hegemonia do filme fotográfico. Na IBM, esta fase teve início ao final dos anos de 1950 com o uso comercial dos mainframes, até o final dos anos de 1980, momento em que a microinformática passou a roubar a cena da “big blue”. Aqui outra ironia: a IBM criou o computador pessoal, mas não acreditou muito em seu próprio invento. Na Caloi, a hegemonia do negócio bicicleta alcançou seu auge principalmente a partir dos anos de 1950, quando Bruno Caloi, neto do fundador Luigi Caloi, assumiu o comando e, nos anos seguintes, fez diversos lançamentos de sucesso como a Berlineta, a Caloi Dobrável, a Caloi 10, dentre outros. As coisas se complicaram nos anos noventa por conta da abertura à importação.

No cenário automobilístico, há casos interessantes como a Chrysler, que foi uma das três grandes norte-americanas, vendida à Daimler Benz ao final dos anos noventa. Esta empresa, bastante inovadora desde sua fundação no início do século XX, produziu carros memoráveis como o Chrysler 300, que nos anos cinqüenta, tinha o motor mais potente do mundo, o Valiant, sendo o primeiro compacto numa época em que só se viam carrões nas ruas. Ao final dos anos setenta, a Chrysler conheceu uma de suas primeiras crises, tendo sido resgatada por Lee Iacocca, que a reavivou com lançamentos que ganharam notoriedade mundial como a minivan, uma nova classe de automóvel bastante popular nos dias de hoje.

Um bom e atual exemplo de períodos de estabilidade seguido por crise é o da Apple, que enfrentou diversas fases de dificuldades em sua história. Após alguns anos de sucesso com os produtos Lisa e Macintosh (anos oitenta), o então presidente da Apple, John Sculley demitiu o fundador Steve Jobs por considerá-lo excêntrico com seus lançamentos caros de produtos duvidosos. A empresa o recontratou anos mais tarde à beira da falência; logo que chegou, Jobs lançou o iMac em 1998, trazendo a empresa de volta à vida. A história não parou por aí: nos anos 2000, a Apple se reinventou de novo, saindo do negócio microinformática para produtos eletrônicos, começando com o iPod, depois o iPhone, agora o iPad e outros “ais” que estão por vir.

Mas um aspecto comum a todos os exemplos dados acima, Kodak, IBM, Caloi, Chrysler, Apple, é que, quando as empresas enfrentam crises de verdade, invariavelmente a direção da empresa tem que ser trocada. Na crise da Kodak foi o espanhol Antonio Perez quem assumiu em 2005, na IBM, Louis Gerstner em 1992, na Caloi, Vaz Musa em 1998, na Chrysler, Iacocca em 1980 (em um de seus momentos de crise), na Apple, o próprio Steve Jobs em 1997. A hipótese que se levanta aqui é que os gestores das épocas boas, de “vacas gordas”, não conseguem trabalhar quando as complicações surgem por todos os lados, o consumidor desaparece e as vendas definham. Neste momento, as coisas ficam tão ruins que um verdadeiro período de confusão se segue à crise (ver David K. Hurst, Renovação & Crise, editora Futura, 1996) no qual reinam o medo e a incerteza, ao tempo em que grandes estruturas se desintegram. Parece que há dois tipos básicos de gestores: aqueles que atuam nas crises e os que só administram bem nos momentos de estabilidade e bonanza, ou seja, existem os gestores da inovação e os gestores da inércia.

.Por: Bento Alves da Costa Filho, Instituição: Ibmec – DF

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