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19/08/2011 - 10:59

As agências de rating num mundo em mutação

O principal insumo do mercado financeiro é a informação. O conceito de eficiência de mercado está associado ao modo pelo qual as informações são incorporadas aos preços. Nesse sentido, as agências de classificação de risco (credit rating agencies) exercem o importante papel de revelar sua opinião qualificada sobre a capacidade e possibilidade de um determinado emissor honrar suas dívidas.

Cada agência possui metodologia própria de avaliação, cuja expertise na análise prospectiva dos cenários econômicos e seus efeitos sobre as empresas configura-se como principal ativo e diferencial competitivo. Apesar das diferenças, o processo de classificação do risco de uma empresa geralmente envolve a avaliação de aspectos relacionados ao ambiente de negócios e às condições específicas da empresa, como a análise setorial, do risco país, de indicadores contábeis, da capacidade de geração de caixa, da estrutura de governança etc. No caso de dívida soberana, além da capacidade de pagamento observa-se o cenário político e suas implicações sobre as chances de uma eventual inadimplência.

O papel desempenhado por essas agências foi fortemente questionado por ocasião da crise de 2008, em função das agências terem classificado com notas elevadas estruturas financeiras complexas que embutiam riscos altíssimos. Uma explicação seria a incapacidade das agências aplicarem seus métodos, consolidados na avaliação de empresas e governos, nesses sofisticados instrumentos que proliferaram nos mercados.

Apesar de se ressaltar que as opiniões das agências devem representar apenas informação adicional no processo de tomada de decisão do investidor, muitas vezes seu papel é determinante. Um exemplo consiste na forma de atuação dos investidores institucionais, grandes participantes do mercado, que comumente prevêem em seu regulamento restrições de investimento baseadas nas classificações feitas pelas agências.

Outra questão polêmica diz respeito ao conflito de interesses inerente ao negócio das agências. Normalmente, as agências são pagas pelo emissor da dívida a ser classificada, que espera obter a melhor classificação possível de forma a reduzir os juros associados à sua obrigação. Uma tentativa de contornar essa situação consiste na completa separação entre as áreas comerciais e de avaliação.

Sempre que houver mudanças relevantes em relação aos cenários macro ou microeconômicos, as agências devem promover reavaliações. Em geral, as avaliações seguem uma abordagem through-the-cycle, que não implica a necessidade de reavaliações decorrentes de oscilações usuais ao longo do ciclo econômico. Atualmente, no entanto, a economia mundial passa por um período de grandes incertezas e transformações, em que cada evento ou decisão pode ser determinante na condução das expectativas sobre a economia. Esse ambiente exige que as agências estejam cada vez mais atentas às necessidades de atualizarem suas avaliações, como ocorreu recentemente com o rebaixamento da até então inabalável classificação AAA para a dívida soberana dos Estados Unidos.

.Por: Frederico Pechir Gomes, economista e professor de Finanças e Vinicius Ratton Brandi é professor de Finanças do Ibmec-DF.

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