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18/08/2007 - 11:46

Brasil está hoje menos vulnerável a crises, diz pai do Consenso de Washington

Para o economista John Williamson, o Brasil e os países da América Latina estão hoje muito menos vulneráveis a crises, porque construíram, nos últimos os anos, bases mais sólidas para as suas economias.

Por isso, essas economias estariam mais preparadas para enfrentar as atuais turbulências do mercado financeiro internacional.

Williamson -que trabalha no centro de estudos Institute for International Economics, de Washington (EUA) – ficou famoso por cunhar o termo Consenso de Washington, conceito que agrega políticas liberais aplicadas na América Latina nos anos 90.

"Elas (as economias emergentes) estão muito menos vulneráveis a esse tipo de choque, e isso acontece principalmente porque elas próprias construíram uma margem de segurança", diz, citando fortalecimento de reservas e superávits em conta corrente.

Em 2002, Williamson escreveu um artigo intitulado O Brasil é o próximo?, sobre o perigo de o Brasil declarar moratória da dívida externa, em face à crise cambial daquele ano.

Hoje, ele elogia as decisões "sábias" das economias emergentes como a brasileira e defende que a tendência de queda de juros no país deve ser mantida.

Williamson criticou a decisão do Federal Reserve, o banco central americano, de cortar a taxa de juros que adota para emprestar dinheiro aos bancos de 6,25% para 5,75%, frente à crise do mercado imobiliário americano que está provocando instabilidade nas bolsas do mundo. Segundo ele, esse tipo de decisão desestimula a disciplina do mercado.

Entrevista de John Williamson à BBC Brasil: BBC Brasil - O ministro Guido Mantega disse que não acredita que a economia real será afetada. Outras vozes no Brasil têm dito isso. O senhor concorda?

John Williamson - Não podemos ter certeza de que isso não acabará tendo efeitos colaterais na economia real, mas por outro lado, se forem afiançar instituições financeiras que estavam agindo de forma muito irresponsável, então acaba se perdendo toda a disciplina, e isso vai levar a algum perigo no futuro. E é preciso saber lidar com isso.

Eu acho que de forma muito sábia as economias emergentes se certificaram em criar uma margem de segurança grande desta vez, para que não sejam afetadas, ou pelo menos não de forma mais grave

BBC Brasil - O senhor acha que o Federal Reserve está lidando bem com o atual cenário?

Williamson - Ontem (quinta-feira) eu teria dito que sim. Mas as informações de hoje (sexta-feira) sugerem que eles podem ter sido surpreendidos. Me parece que o corte no índice de desconto é realmente ir longe demais e que isso vai estimular mais perigo.

BBC Brasil – Como?

Williamson - Por exemplo, as pessoas que estavam especulando no iene tiveram perdas e provocaram um movimento em busca de dólares australianos. Eles haviam sofrido perdas de 12% da noite para o dia, por causa da asfixiação do iene e da depreciação do dólar australiano.

Então, isso custou algo para eles. Agora se as pessoas pararem de sofrer com conseqüências financeiras desse tipo, então não haverá nenhuma disciplina no mercado, e elas terão um incentivo para se comportar dessa forma no futuro.

BBC Brasil - Como o senhor acha que as turbulências podem atingir as economias emergentes?

Williamson - Eu acho que de forma muito sábia as economias emergentes se certificaram em criar uma margem de segurança grande desta vez, para que não sejam afetadas, ou pelo menos não de forma mais grave.

Acho que com algumas semanas de mais turbulências, nós vamos descobrir isso.

BBC Brasil - O senhor acha que, no caso do Brasil, a turbulência pode ter efeito nos juros ou na inflação?

Williamson - Não, eu não acho que tenha qualquer necessidade de se mudar a tendência dos juros no Brasil. Eu acho que as empresas brasileiras que tomam empréstimos no exterior terão de pagar um pouco mais, mas também acho que não há um grande incentivo para se tomar empréstimos no exterior agora.

BBC Brasil - Então, o senhor acha que o Brasil deve manter a tendência de baixar os juros?

Williamson – Sim. Eu não acho que tenha qualquer necessidade de se mudar a tendência dos juros no Brasil

BBC Brasil - Muitas pessoas consideram a atual fase apenas uma turbulência. Outras dizem que é o princípio de uma crise mais séria. Qual sinal é necessário para sabermos que essa instabilidade se tornou algo mais grave?

Williamson - Eu acho que se ela continuar por muito tempo, haverá um perigo maior de grave contaminação da economia real.

Então não é o caso de procurarmos algum tipo de sinal específico. É só ver se os mercados continuarão por semanas ou meses em baixa.

BBC Brasil - O secretário de Tesouro dos Estados Unidos disse que a economia americana deve sofrer o efeito da turbulência no crescimento do país, apesar de descartar uma recessão. O senhor acredita que uma desaceleração pode acontecer nos Estados Unidos e no mundo? .

Williamson - Sim, pode haver uma desaceleração nos Estados Unidos. Considerando-se que a economia americana está com alto nível de emprego, eu não acredito que um crescimento mais lento será um desastre enorme.

BBC Brasil - Isso pode ter efeitos no crescimento da Europa e da China? “ Se forem afiançar instituições financeiras que estavam agindo de forma muito irresponsável, então acaba se perdendo toda a disciplina, e isso vai levar a algum perigo no futuro” Sobre corte dos juros para bancos do Federal Reserve.

Williamson - Sim, é uma economia mundial interdependente, então quando não há crescimento em uma parte, isso tende a repercutir em outros países. Se a China começar a exportar menos para os Estados Unidos, isso terá um efeito na China, que vai importar menos, produzir menos, e isso terá um efeito nos mercados emergentes.

Então todas essas coisas estão relacionadas. A questão agora é se já há impacto grave a ser previsto, e nesse momento eu acredito que não.

BBC Brasil - Comparando com outras crises que aconteceram no passado, as economias emergentes estão menos vulneráveis?

Williamson - Elas estão muito menos vulneráveis a esse tipo de choque, e isso acontece principalmente porque elas próprias construíram uma margem de segurança.

Elas têm superávits nas transações em conta corrente, em vez de déficits, elas construíram reservas fortes, elas estão muito menos endividadas, elas emprestaram muito mais em moeda local, em vez de dólares, e por aí vai.

Então muitos esperam que as economias emergentes estejam em uma posição muito melhor para escapar de turbulências grandes, em comparação com o passado.

BBC Brasil - Quais países o senhor diria que estão mais fortes nesse momento e quais estão em uma posição mais frágil?

Williamson - Certamente se pensa no Leste da Ásia e em várias das economias latino-americanas, incluindo o Brasil, que estão muito mais fortes do que no passado.

Por outro lado, há temores sobre países como a Turquia, que produziu um déficit muito grande em conta corrente nos anos recentes.

E também, eu acredito, os países da Europa Oriental, em geral, estão mais frágeis. Alguns países que entraram recentemente na União Européia podem ter que recorrer ao Fundo Monetário Internacional, ou pelo menos a seus parceiros europeus, se algo mais grave acontecer.

BBC Brasil - E a Rússia e a China?

Williamson - A Rússia e a China têm reservas muito boas, portanto elas não estão tão vulneráveis. Mas poderia haver repercussões nas exportações delas e nas transações em conta corrente, mas não na conta de capitais.| Por: Daniel Gallas/BBC Brasil.

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