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24/08/2011 - 09:54

Sustentabilidades

Tenho uma tia muito querida, nascida em 1916, e ainda viva. Das várias histórias que ela contou para nós, sobrinhos e sobrinhas, há uma de que gosto, principalmente quando alguém diz que atualmente as coisas são piores que no passado.

Minha tia fala que, quando jovem, o sabão usado na casa - inclusive para os banhos - era feito de cinzas (que vinham do fogão à lenha). O processo era complicado, o cheiro muito forte e o produto final não muito bom. Hoje, dizia ela, vamos ao supermercado e escolhemos entre inúmeros tipos de sabonete, já prontos e embalados, muito melhores que os feitos no ambiente doméstico.

Acredito que ela esteja certa. Não quero - e acredito que a maior parte de nós não queira - viver em um mundo sem os recursos que a ciência, a tecnologia e o mercado dispuseram para uma parte significativa da humanidade, e que, sim, deveriam estar disponíveis para uma parte ainda maior de pessoas.

Mas esse processo, digamos, de melhorias - temos uma expectativa de vida mais longa, consumimos mais, produzimos mais -, implica em uma série de questões. O romantismo do século XIX, posteriormente a contracultura dos anos 1960 e mais contemporaneamente os movimentos ecológicos foram e são claros em suas proposições: se o modelo de desenvolvimento que escolhemos não for minimamente revisto, estaremos em um impasse.

O diagnóstico é relativamente simples: se a sociedade de consumo, em princípio, não tem limites, o Planeta Terra tem. Isso não significa frear, por exemplo, as possibilidades de aumento do poder aquisitivo por parte das populações dos países que agora crescem economicamente, como é o caso do Brasil. Ao contrário. Significa pensar as bases desse consumo e os ganhos tecnológicos, em termos razoáveis e responsáveis. Por exemplo: que formas de transporte são mais adequadas de fato para a população de um grande centro urbano e mesmo de uma cidade pequena ou média que começa a crescer economicamente? Há cidades brasileiras em que o transporte individual acaba por ter um custo menor que o coletivo; isto é um contrassenso de consequências ambientais (e logísticas)seriíssimas.

A Economia Solidária, em um de seus princípios, diz que o consumo deveria ser partilhado em termos planetários, para que condições básicas de existência fossem comuns a todos. Não se trata de uma tarefa fácil.

Mas a discussão atual sobre a questão da sustentabilidade aparece como um indicador duplo: enquanto uma parte da população mundial desequilibra o ambiente com seu excesso, há uma grande parte da população mundial que sequer tem contato com água encanada. Acredito que essa situação deva ser repensada.

Nesse sentido, sustentabilidade é um conceito que, para mim, se aproxima da noção de responsabilidade: responsabilidade pelo mundo que queremos construir, aqui e agora, dentro e fora de nossas casas.

. Por: Caio Aguilar Fernandes é professor do Suporte Pedagógico de Sociologia do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva, e Mestre em Multimeios pela Unicamp.

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