Os benefícios da legalização contábil para as Pequenas e médias empresas

Existem hoje no Brasil cinco milhões de pequenas e médias empresas (PMEs). A maior parte delas têm representatividade na economia brasileira, e muitas se preparam para planos mais ousados de capitalização, visando expandir os negócios. De acordo com estudo da BM&F Bovespa, 52% pretendem abrir capital no período entre um e três anos e, outras 42% pretendem realizar IPO (abertura de capital no mercado acionário) no longo prazo. Além disso, 33% declaram ter interesse em investimentos de Private Equity, segmento de instituições financeiras que aportam investimentos em empresas emergentes ou em fase de consolidação e que possuem grande potencial de crescimento ou já ocupam posição relevante em seus mercados.

Os fundos de Private Equity, assim como os de Venture Capital, são opções para dar liquidez a essas pequenas e médias empresas que planejam crescer e abrir capital. No entanto, para pleitearem esses recursos no sistema financeiro, essas companhias precisam apresentar balanços contábeis transparentes, regulares e de acordo com os padrões de qualidade requeridos pelo exigente mercado financeiro.

Do total das empresas auditadas pela KSI Brasil, no segmento do middle market, 70% têm potencial para serem compradas. Para que essas aquisições ou fusões se efetivem, contudo, essas empresas precisam, além de contar com um negócio promissor e bem estruturado, dar um salto na qualidade de suas informações contábeis, seguindo as regras internacionais. As companhias que têm feito isso passam rapidamente da condição de média para grande.

No entanto, apesar das oportunidades de mercado, a maior parte das PMEs produz balanços apenas para o uso de proprietários-administradores ou para atender as autoridades fiscais e governamentais. As demonstrações contábeis produzidas apenas com esses propósitos, contudo, não atendem às necessidades do sistema financeiro para avaliar a situação econômico-financeira de um empreendimento. Para auxiliar os fornecedores de capital a tomarem as melhores decisões, as informações fornecidas precisam ser relevantes. Ou seja, devem dispor sobre a posição financeira (balanço patrimonial), o desempenho (resultado e resultado abrangente) e os fluxos de caixa da entidade.

A legalização traz diversos benefícios às empresas, como expansão, relacionamento com o mercado, linha de acesso a créditos diferenciados e a segurança para os clientes. Mas, dependendo de como estão os seus controles contábeis, a migração para o padrão internacional de contabilidade pode ser mais ou menos demorada. Se estiverem muito ruins, a empresa necessitará de consultoria antes de começar a ser auditada. Em média, as empresas conseguem fazer a migração para o padrão vigente entre um e dois anos. De qualquer maneira, desde 2010, toda a contabilidade praticada no Brasil deve seguir a International Financial Reporting Standards (IFRS), que são as normas internacionais de contabilidade do International Accounting Standards (IASB).

Seguindo essas normas, a empresa passa a ter uma contabilidade mais próxima de seus ativos e passivos, e está preparada para realizar o IPO. É um retrato econômico-financeiro da companhia que está sendo constantemente atualizado e que é valorizado pelo mercado. Quanto mais as empresas precisarem do mercado para se financiar, maior será o incentivo para divulgar suas informações com melhor qualidade.

No final de 2010, estudo acadêmico da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) revelou que as informações contidas nos balanços das grandes empresas ganharam relevância depois das mudanças das normas contábeis para o padrão internacional, a partir de 2008. De acordo com o estudo, a melhor qualidade da contabilidade elevou a associação entre o lucro das companhias e o desempenho das ações. Apesar de não operarem em bolsa, essa informação deve servir de incentivo para empresas pequenas e médias que almejam crescer e evoluir. Portanto, face às grandes oportunidades que se apresentam hoje, no cenário de atração de investimentos pelo Brasil, é hora de as pequenas e médias empresas também colocarem sua prestação de contas em dia, de acordo com os padrões que lhes permitirão captar recursos e colocar seus planos de expansão em prática.

. Por: Por Tethuo Ogassawara, sócio da KSI Brasil. A KSI Brasil fornece serviços de auditoria independente, consultoria tributária, trabalhista, societária e empresarial - http://ksibrasil.com.br/