Sustentabilidade das instituições de ensino também depende da sociedade

Congresso inédito no Brasil mostrará experiências de Harvard e outras instituições de ensino de renome, com especialistas em captação de recursos.

Em alguns países, em especial nos Estados Unidos, os recursos voluntariamente doados às instituições de ensino pela sociedade são maiores do que os investimentos públicos em educação no Brasil. Para desencadear um processo de desenvolvimento da consciência do quanto a sustentabilidade dos estabelecimentos de ensino depende dessa "cultura doadora", será realizado em São Paulo, em setembro próximo, o evento "Fundraising: Captação de Recursos" – I Congresso Internacional para Escolas e Instituições de Ensino Superior. Palestrantes de renomadas universidades falarão sobre experiências como a de Harvard e outras instituições de ensino de renome em captação de recursos.

A cultura de doações ainda é incipiente no Brasil. Um contraste em relação ao Hemisfério Norte, onde a sustentabilidade das escolas tem forte contribuição de pessoas físicas e jurídicas. Vários fatores que poderiam facilitar o estímulo e manutenção do hábito de doar ainda se encontram estagnados pela a legislação brasileira, que quase não oferece incentivos à essa prática.

Segundo estatísticas do Ministério da Fazenda, do total arrecadado em impostos pelo Governo Federal – janeiro de 2003 até setembro de 2006 -, apenas 1,29% foi destinado a investimentos no ensino público. Embora esteja nos planos do governo, no âmbito do PAC Educação, destinar R$ 8 bilhões à área, representantes de entidades do setor não acreditam que essa seja a solução definitiva. Entendem ser muito difícil enfrentar os desafios propostos pelo Plano de Desenvolvimento da Educação sem resolver o problema da origem dos recursos.

A exemplo dos países citados acima, uma alternativa para amenizar o cenário é o estímulo às doações. Para ilustrar a situação, doações recebidas por instituições de ensino nos Estados Unidos, em 2006 – ano em que se quebrou o recorde de levantamentos de fundos para o setor -, somaram US$ 28 bilhões (cerca de R$ 60 bilhões). Essa característica da sociedade norte-americana é resultado de um eficiente trabalho focado na captação de recursos, para o qual foram desenvolvidas, ao longo de 400 anos, técnicas, além da publicação de livros e artigos sobre o tema, dando origem à profissão de captador de recursos (fundraiser).

E isso não ocorre só nos países desenvolvidos. A Universidade de Monterey, no México, é outro caso bem-sucedido de captação de recursos. Foram obtidos US$ 27 milhões oriundos de ex-alunos e funcionários envolvidos com o projeto. Os mexicanos, assim como os brasileiros, historicamente, não doam para instituições de ensino, pois consideram esta ação uma obrigação do governo e proprietários de escolas particulares. Somam-se aos exemplos positivos, especialmente em países como Canadá, Irlanda, Austrália, Reino Unido e da Ásia.

No Brasil, isso não acontece porque, além de serem observados poucos exemplos de sucesso isolados no tempo, as instituições ainda não incorporaram a cultura do "saber pedir". Para as escolas e universidades locais obterem doações em volume significativo, é necessário o desenvolvimento de amplo trabalho, a começar pela formação de profissionais capacitados a planejar e atuar com competência na captação de recursos.

Em função disso, para promover reflexão sobre o assunto, será realizado o 1º congresso internacional para escolas e instituições de ensino superior: "Fundraising: Captação de Recursos" - www.fundraising.com.br, acontece, nos dias 21 e 22 de setembro de 2007, no auditório da Fundação de Rotarianos de São Paulo, à av. Higienópolis, 996, em São Paulo, com o apoio do MEC e do Consulado dos Estados Unidos. O evento é promovido pelas Faculdades Integradas Rio Branco e a Association of Fundraising Professionals (AFP), a maior organização mundial em captação de recursos, com sede nos Estados Unidos. Representantes de renomadas universidades e escolas fazem parte do corpo de palestrantes.