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14/09/2011 - 09:23

Criatividade objetiva ou novo absoluto?

A recente despedida do Steve Jobs da presidência executiva da Apple é um exemplo claro e oportuno da nossa maneira equivocada de ver o processo inovador. Jobs foi cantado e decantado como se fora um descobridor até comparado com Leonardo da Vinci. Ora, da Vinci propôs inúmeros dispositivos ousados (até mesmo um helicóptero) que não existiam e que nem foram realizados. Tinha uma excepcional criatividade imaginativa, criando de princípios básicos as suas “invenções”, porém sem qualquer contato efetivo com a realidade da época.

Jobs mostrou ser altamente eficiente e objetivo. Na verdade, não criou e nem se preocupou em realizar algo de absolutamente novo, mas conseguiu realizar uma síntese de todos os atributos positivos que cada dispositivo deveria ter para melhor surpreender os consumidores, como ele mesmo o definiu. Assim é que substituiu um terminal de um grande computador por um computador pessoal, muito mais simples de operar, naturalmente com menos recursos, mas os satisfatórios para um dado consumidor e... obviamente muito mais barato. Ou seja, ele otimizou o custo/benefício em uma dada situação. E assim também foram os demais avanços que realizou nesses produtos.

Isso é igualmente visível nos novos produtos que lançou após o seu regresso, começando pelo iPod que matou os velhos concorrentes porque resolveu o principal problema que consistia em estocar as músicas. Inovou mais na comercialização do que no produto. O mesmo sucesso ocorreu com o iPhone que aglutinou tudo o que havia de melhor pelos demais celulares e agregando inovações tecnológicas e de design. Com o seu tablet – o iPad – foi ainda melhor, simplesmente porque valeu-se do que havia sido realizado até então para lançar um produto inovado.

Bem, o resultado está aí. O faturamento da Apple multiplicou-se por cerca de quarenta em poucos anos, e o seu valor de mercado tornou-a a empresa mais valiosa do mundo. Enquanto isso, os inventores do computador – os engenheiros Presper Eckert e John Mauchy, do exército americano, que construíram o Eniac (Electronic Numerical Integrater and Calculater) no início dos anos quarenta – foram apagados pelo tempo, sem qualquer sucesso econômico. O mesmo poderíamos dizer dos criadores do telefone celular, a gravação a laser e tantos outros inventos revolucionários.

Esse fato nos coloca diante de uma opção: afinal, o que achamos que vai fazer nosso país crescer, gerar renda pela expansão da sua economia, oferecendo empregos de qualidade e, assim, distribuir renda para alcançarmos uma realidade de justiça social? Será a busca da glória da descoberta, da invenção radical, ou a agregação de inovações nossas, ou já existentes, para fazermos produtos de elevada relação custo/benefício para o consumidor mundial? Afinal, não se trata de um jogo esportivo onde importa ser campeão.

Pois o extraordinário sucesso de Jobs nos mostra um caminho seguro e palmilhável, como já o fizeram alguns países emergentes, enquanto a busca da descoberta, do ineditismo, do absolutamente novo pode nos levar ao ostracismo de muitos inventores geniais. Pois a maioria das nossas políticas públicas insiste nesse último rumo, mesmo sem sucesso.

.Por: Roberto Nicolsky, físico, é Pró-Reitor de Extensão do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) e diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec).

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