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01/10/2011 - 09:45

Inovação e invenção radical

A recente despedida de Steve Jobs da presidência executiva da Apple deixa uma lição fundamental para a própria empresa e para o mundo: grandes inovações dependem de simples melhorias. Cantado e decantado como se fosse um inventor de propostas geniais, Jobs foi, na verdade, um brilhante especialista no aperfeiçoamento de produtos, sempre identificando e atendendo às demandas da sociedade. Se a Apple conseguiu aprender essa distinção com Jobs, o mercado não precisa temer pelo futuro da corporação mais inovativa do planeta. Da mesma forma, os fazedores de políticas públicas em nosso país podem repensar os mecanismos de incentivo à inovação que adotam.

Jobs se mostrou altamente eficiente e objetivo. Não se preocupou em arriscar em algo totalmente novo, mas conseguiu realizar uma síntese de todos os atributos positivos que cada produto deveria ter para melhor surpreender os consumidores, como ele mesmo definiu. Dessa forma, substituiu o terminal de um grande computador por um computador pessoal – com menos recursos, porém mais eficiente para o indivíduo. E o melhor: consideravelmente mais barato. Ou seja, Jobs otimizou o custo-benefício. Assim também fez com as demais melhorias tecnológicas que implantou.

O mesmo aconteceu com outros produtos lançados. O iPod matou a concorrência com os velhos tocadores de mp3, por ter acrescentado a eles inúmeras funções e, além disso, inovou ainda mais na comercialização do que no produto em si, quando resolveu o problema de se baixar músicas “piratas” com a criação da loja virtual iTunes.

O mesmo sucesso ocorreu com o iPhone, que aglutinou tudo o que havia de melhor nos demais celulares, agregando inovações tecnológicas e de design. Com seu tablet – o iPad –, Jobs foi mais além, simplesmente porque valeu-se do que havia sido realizado até então para lançar um produto completamente inovado.

O resultado é que a Apple multiplicou seu faturamento por cerca de 40 vezes em poucos anos e tornou-se a empresa mais valiosa do mundo. Enquanto isso, os inventores do computador eletrônico no início dos anos 40 – os engenheiros J. Presper Eckert e John Mauchy – foram apagados pelo tempo, sem sucesso econômico. O mesmo poderíamos dizer dos criadores do telefone celular e de tantos outros inventos revolucionários.

Esse fato nos coloca ante o questionamento: afinal, que inovação vai fazer o nosso país expandir a economia, gerar empregos de qualidade e, assim, distribuir renda para alcançar a justiça social? Será a descoberta arriscada das invenções geniais? Ou a pragmática agregação e melhoria de inovações já existentes, para fazer produtos de elevada relação custo-benefício?

Steve Jobs não se deixou seduzir pelo magnetismo da invenção radical. Antes, inverteu o jogo: ele soube seduzir o consumidor com inteligentes aperfeiçoamentos de produtos. O extraordinário sucesso de Jobs nos mostra um caminho seguro, já percorrido pelos países emergentes bem sucedidos. Em contrapartida, a busca da descoberta, do ineditismo, pode levar ao ostracismo de muitos inventores como o brasileiro do bina. O risco para o Brasil é elevado, pois nossas políticas públicas de inovação preferem esse último rumo, apesar do fracasso demonstrado até então.

.Por: Roberto Nicolsky, físico, é diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec) e pró-reitor de Extensão do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO)

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