Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

18/10/2011 - 10:28

Sobre trânsito... os ortopedistas são uns chatos !

Recebi muita reclamação de gente que, na semana passada, encontrou no vão livre do MASP um grupo de ortopedistas fazendo preleção por um trânsito mais seguro. E reclamariam mais ainda se soubessem que no Shopping ABC, em Santo André, além dos ortopedistas, um grupo de universitários passou o dia abordando todo mundo, repetindo pela milésima vez que o número de mortes no trânsito precisa baixar e que todos somos responsáveis. Mais uma vez, ouvimos o desabafo de que “os ortopedistas são uns chatos... que repetem, repetem sempre a mesma coisa”!

Realmente a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT – aborreceu muita gente quando lutou, junto com outras instituições, até conseguir que o uso das cadeirinhas de segurança para as crianças se tornasse obrigatório; incomodou mais ainda quando pressionou para que o uso do capacete fosse exigência para os motociclistas e também enfureceu alguns por discordar com a regulamentação dos moto-taxis, no que foi vencida, por sinal. A reclamação só foi maior quando os ortopedistas se engajaram para denunciar a correlação bebida + direção = acidente! Hoje, claro, cada motorista convidado a usar o bafômetro fala mal de nós.

A SBOT confirma que continuará “aborrecendo a todos” e por motivos que considera justo. Para o leigo, as 40 mil mortes que o Brasil registra a cada ano não passam de um número, e cada um pensa simplesmente “isso não vai acontecer comigo...”. As pessoas acham que acidentes só acontecem com “o outro”, mesmo sabendo que 300 carros se envolveram num mega engavetamento na Via Anchieta, com saldo de 51 feridos.

O problema é que mortes por acidente de trânsito acontecem! No mundo, diz a ONU, 1,3 milhão de pessoas morre a cada ano. No Brasil, o trânsito já é a maior causa de morte na faixa etária dos 15 aos 29 anos e os ortopedistas vão continuar batalhando, porque para eles os 51 feridos da Anchieta não são apenas “um número”; mas economias enfraquecidas, sonhos destruídos, traumas emocionais difíceis de reverter.

O profissional que trabalha em Pronto Socorro e recebe acidentados, vê o ferido como um ser humano em sofrimento. Nós vivenciamos quanto é duro explicar para uma mãe que a perna do seu filhinho de cinco anos terá que ser amputada... Pensamos nessa hora, mas não dizemos, que isso não seria necessário se a criança estivesse protegida na cadeirinha.

Nós vivemos diariamente o problema de filhos desesperados porque o arrimo familiar teve a moto abalroada enquanto ia para o trabalho. E o ortopedista sabe como é demorada – às vezes incompleta – a recuperação. Do ponto de vista técnico, a Medicina pode muito, mas conhecemos as limitações econômicas para conseguir o tratamento adequado: “tivemos que vender o carro e o dinheiro está curto, ele não pode trabalhar, não podemos levá-lo à fisioterapia...”.

O ortopedista se torna conhecido e amigo do seu paciente vítima de acidente de trânsito, porque a convivência é necessariamente longa. Dos 51 feridos no mega engavetamento da Anchieta, muitos continuarão frequentando nossos consultórios mesmo daqui a um ou dois anos, reclamando das dores, das órteses com as quais não se acostumaram, da dificuldade de encontrar trabalho por causa da deficiência adquirida.

O inquérito concluiu que o acidente da Anchieta foi causado, como 90% dos acidentes com vítimas, pela imprudência de motoristas. Por isso nós, os ortopedistas, criamos coragem para continuar incomodando a sociedade, montando nossas banquinhas e distribuindo nossos folders, na esperança de que com isso haja menos mortes no trânsito, menos perninhas amputadas, menos famílias desesperadas, mesmo que, na busca por um trânsito mais seguro sejamos considerados “os chatos de sempre” !

.Por: Osvandré Lech, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT .

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira