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22/11/2011 - 09:23

Entre a luxúria e o pudor: a história do sexo no Brasil.


Entre a Luxúria e o pudor: a história do sexo no Brasil é resultado da curiosidade do sociólogo e filósofo Paulo Sérgio do Carmo sobre a vida íntima dos brasileiros. Com rigor acadêmico, o autor começou a organizar sua bibliografia em 1996, com a finalidade de coletar material de todo o país. O livro começa com relatos dos índios e o ambiente de “intoxicação sexual” dos exploradores e chega até os momentos atuais:

“Iniciei a escrita em meados de 2007 e só a terminei em 2011. Para não me restringir às fontes tradicionais, percorri estantes de história e de sexologia, bem como as de biografias, principalmente de pessoas que tinham um passado rico em memórias. Percebi que este assunto na historiografia brasileira era um tanto negligenciado e que havia uma lacuna a ser preenchida. A partir daí, passei a armazenar dados sobre a sexualidade brasileira e suas manifestações e elaborar uma bibliografia para um futuro livro. Embora realmente seja um assunto recorrente, Entre a luxúria e o pudor traz uma visão abrangente e única sobre a história da sexualidade brasileira”, afirma o autor.

As fontes foram livros de história, revistas acadêmicas, jornais, teses universitárias não publicadas e entrevistas com pessoas que viveram na época e testemunharam, por exemplo, como era um prostíbulo em meados do século XX. Segundo o autor, a sexualidade tem cronologia específica que escapa diretamente aos fatos sociopolíticos e econômicos, embora em alguns casos ela tangencie esses acontecimentos:

“Trata-se de um desafio que o historiador deve enfrentar. O leitor constatará que o resultado foi bem-sucedido. Para os estudiosos do assunto, talvez os relatos inquisitórios do Santo Ofício no Brasil não tragam novidades, mas para o leitor leigo é uma grande descoberta. Outros ficarão surpresos com diversas manifestações sexuais, como as do amor livre na Colônia Cecília, no Paraná, no final do século XIX; com a homossexualidade na ilha de Fernando de Noronha entre os séculos XVIII e XIX; com o casamento no mundo caipira do interior de São Paulo e de outros estados nas primeiras décadas do século XX. Procurei também, por exemplo, investigar a existência de orgias ocorridas de meados do século XX em diante”.

O leitor terá a impressão que vivemos, ao mesmo tempo, entre a luxúria característica de um povo miscigenado e o pudor herdado da Igreja em um país marcadamente católico. Outra ideia é a de que as mesmas condutas sexuais foram e são julgadas por diferentes grupos. Para Paulo, o que para certos setores da alta sociedade pode ser considerado como “revolução nos costumes” ou exotismo, para os setores menos favorecidos pode ser visto como “degradação nos costumes” ou desregramento moral. Assim, o chamado “paraíso sexual” é desfrutado apenas por uma minoria. O autor comenta:

“À medida que pesquisava e escrevia, fui mudando de interesse. Inicialmente, tocaram-me os relatos da Santa Inquisição e os de Gilberto Freyre, e, posteriormente, os de meados do século XX, antes da chamada revolução sexual. Fatos como a visão e a prática sexual dos adolescentes nas primeiras décadas do século, narradas por Pedro Nava, o medo de Freyre e Erico Verissimo de que a masturbação pudesse levar à loucura, Paulo Francis falando de bacanais nos anos 40, memorialistas como Di Cavalcanti e Oswald de Andrade contando o que se passava na intimidade de um quarto num prostíbulo barato ou num chique bordel”.

O livro cita nomes e histórias de Mário Lago, Heloisa Hollanda, Sérgio Buarque de Holanda, dom João VI, Laurentino Gomes, Gilberto Gil, JoãoBatista Figueiredo, Gilberto Dimenstein, José Dirceu, Emiliano Di Cavalcanti, Cacilda Becker, entre outros, como Jorge Amado, grande conhecedor de bordéis, e Oswald de Andrade, ao confessar em suas memórias que um de seus primeiros contatos sexuais ocorreu com uma “criadinha mulata, que não deveria ter mais que quatorze anos”.

Ainda, a afirmação de Nelson Gonçalves, que, antes de decolar sua carreira como cantor, chegou a ser cafetão de dez mulheres, e que Gilberto Freyre, em seu diário de 1922, contou sua experiência sexual com uma europeia e sua queda pelo sexo oral. Entre as passagens interessantes envolvendo o clérigo, ressalta-se uma que se passa em Pernambuco: o padre Manuel Félix da Cruz, em 1759, ao ser transferido para outra freguesia, chegou a comentar: “Graças a Deus que já me livrei das mulheres deste curato, porque todas ou a maior parte adulteram os maridos e assim me vejo já livre de as confessar”.

O autor-Paulo Sérgio do Carmo é professor universitário, formado em Sociologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Publicou as seguintes obras: Merleau-Ponty: uma introdução (Educ); Culturas da rebeldia: a juventude em questão (Senac); Sociologia e sociedade pós-industrial: uma introdução (Paulus); A ideologia do trabalho (Moderna); O trabalho na economia global (Moderna); e História e ética do trabalho no Brasil (Moderna).

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