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29/11/2011 - 10:23

Um Contraponto ao Vazamento de Óleo no Rio de Janeiro

O recente vazamento de óleo na Bacia de Campos (RJ) chamou a atenção de todos para o risco de acidentes e desastres ambientais representado pela exploração de petróleo nos oceanos, ocupou boa parte dos noticiários e redes sociais e provocou as mais variadas declarações, cobranças e acusações. O fato de a sociedade reagir com tamanha indignação quando os ecossistemas marinhos encontram-se ameaçados é muito bem-vindo. O que me chama a atenção, contudo, é que apenas eventos como esses sejam capazes de provocar tais reações.

Em absoluto estou querendo minimizar o acidente ocorrido. Quero sim aproveitar o momento para expor um contraponto que deveria ser analisado por todos os amantes e defensores da Natureza, e que nesses momentos afloram em abundância.

Como já disse no artigo anterior, a região onde ocorreu o vazamento está localizada no meio do oceano, local onde, fora o plâncton, não há praticamente vida marinha a ser afetada. Evidentemente que se uma mancha de óleo atingir o litoral os danos ao ecossistema marinho podem ser consideráveis, mas, ainda assim, reversíveis. Poderá haver morte de muitos seres marinhos? Sim, claro, e isso seria trágico. Mas, a não ser que exista a eliminação total da única população de uma espécie endêmica, não se pode falar em perda de biodiversidade. Para haver perda de biodiversidade, é necessária a extinção de uma ou mais espécies que habitam o nosso Planeta. Devemos admitir também que se trata de um acidente que, felizmente, ocorre de forma esporádica e a tendência esperada, por todos, é que ocorra cada vez com menos frequência.

Em contraponto, sem trégua nos últimos 20 anos, a pesca predatória e a sobrepesca vêm ceifando, diariamente, milhares de peixes e tubarões dos nossos mares. Boa parte das populações dos peixes que gostamos e compramos nas peixarias, como atum, cioba, badejo, namorado e pargo, sem falar dos tubarões que comemos como cação, sofreram forte declínio nos últimos anos e já se encontram ameaçadas de extinção. No Brasil, já são 145 espécies de peixes e 28 espécies de tubarões sob ameaça de desaparecerem do Planeta. Também diariamente, e friso de forma redundante, TODOS OS DIAS, de 100 a 200 mil tubarões são capturados no mundo todo (incluindo o Brasil) apenas para que suas nadadeiras sejam extirpadas para suprir o insustentável mercado de sopa de barbatana de tubarão.

Ou seja, a sobrepesca e a pesca predatória cometem grandes “acidentes” diários, que certamente resultarão na perda de biodiversidade e em danos irreversíveis aos ecossistemas marinhos, sem que isso provoque a mesma e merecida indignação da sociedade. Reflita sobre isso!

. Por: Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor do livro Guia Aqualung de Peixes, editado em 1991, de sua versão ampliada em inglês Aqualung gGuide to Fishes, editado em 1992, do livro Seres Marinhos Perigosos, editado em 1998/99, do livro Peixes Marinhos do Brasil, editado em 2000/01, do livro Tubarões no Brasil, editado em 2004, e de várias matérias e artigos sobre a natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas e jornais e no Informativo do Instituto Aqualung. Atualmente, Marcelo Szpilman é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (Protuba) e membro da Comissão Científica Nacional (COCIEN) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS). [www.institutoaqualung.com.br].

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