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06/09/2007 - 11:02

Poderá a China manter seu ritmo de crescimento por muito tempo?

O crescimento real do PIB da China no segundo trimestre do ano foi de 11,9% com relação ao mesmo período de 2006, superior aos 11,1% obtidos no trimestre anterior. Recente relatório do NDRC (equivalente ao Ministério do Planejamento) prevê crescimento de 11,4% para o terceiro trimestre do ano. O crescimento da economia continua sendo liderado pela indústria, que cresceu 18,4% no primeiro semestre do ano, em termos nominais, ou cerca de 15% em termos reais. Esse ritmo representa uma aceleração com relação às taxas observadas nos 10 últimos anos, quando a China cresceu cerca de 9,2% ao ano. Um dos principais responsáveis pelo forte dinamismo recente da economia chinesa é o comportamento das exportações, que cresceram 26,7% em dólares no primeiro semestre, na comparação com igual período de 2006.

Entretanto, esse dinamismo vem gerando preocupações quanto à sua sustentabilidade. A inflação vem se acelerando fortemente desde o final de 2006, atingindo 5,6% (medida pelos preços ao consumidor) sobre o mesmo mês do ano anterior, em julho, como se nota no Gráfico 2. Nos últimos meses, boa parte da inflação foi devida aos preços dos alimentos, em especial, carnes. Excluindo-se os preços de alimentos e energia, os preços ao consumidor elevaram-se apenas 0,7% no primeiro semestre. No entanto, o próprio NDRC já anunciou que está planejando uma reforma do sistema de preços administrados, que poderá resultar em uma onda de aumentos nesse segmento.

O aumento das pressões inflacionárias poderá ter como resultado, portanto, um maior aperto da política monetária. Entretanto, dados os atuais níveis de inflação, as taxas básicas de juros para depósitos estão negativas, tornando necessário elevá-las fortemente de forma a conter a inflação de forma efetiva. Adicionalmente, o Banco Central poderia elevar mais uma vez as reservas compulsórias dos bancos comerciais.

Algumas medidas adicionais poderão, talvez, reduzir levemente o ritmo de crescimento. Entre elas estão restrições recentes impostas pelos governos locais a indústrias fortemente poluentes e a redução de benefícios fiscais concedidos aos exportadores, que entrou em vigor no segundo semestre.

A verdade, entretanto, é que a China ainda tem potencial para continuar crescendo velozmente por bastante tempo. Pelo lado da oferta, a única restrição visível é uma elevação muito forte dos preços das commodities. Porém, a capacidade ociosa industrial é muito elevada, e a capacidade de produção deverá continuar a crescer a um forte ritmo. A existência de um grande contingente de trabalhadores no campo permite elevar a demanda por mão-de-obra por longo tempo sem pressões adicionais sobre o custo do trabalho. Pelo lado da demanda, a situação relativamente folgada das contas públicas viabiliza, caso necessário, um aumento de gastos em educação, saúde e previdência, que teria como resultado uma redução da poupança e uma elevação do consumo das famílias.

Além disso, a elevação das exportações vem sendo conquistada com base em ganhos permanentes de competitividade, com aumento do conteúdo de conhecimento e elevação do valor agregado na China. Em outras palavras, o aumento das exportações chinesas vem causando um aprofundamento doméstico da cadeia mundial de fornecedores – além de aumentar a produção de firmas locais –, o que resulta num aumento proporcionalmente maior da produção e do valor adicionado. No processo, a qualidade dos produtos chineses vem aumentando progressivamente, a tal ponto que as exportações de partes e componentes de auto-veículos, por exemplo, inclusive para os Estados Unidos e Europa, superaram suas importações pela primeira vez no ano passado. A Volkswagen e a Daimler já anunciaram que irão aumentar ainda mais suas compras de componentes fabricados na China. Ao mesmo tempo, a China está quase superando a Alemanha como terceiro maior produtor mundial de automóveis.

Todos esses fatores indicam que a China ainda poderá continuar crescendo ao ritmo atual por algum tempo, mesmo que a elevação da inflação obrigue o governo a adotar medidas de contenção da demanda. Nesse caso, a taxa de crescimento poderia cair um pouco, mas ficaria na média registrada nos últimos 28 anos. Entretanto, há um elemento que poderá constituir um entrave importante ao crescimento da economia chinesa. A crise que vem afetando as bolsas de valores no mundo inteiro desde julho poderá provocar abalos na atividade econômica globalde magnitude impossível de determinar no momento. Por enquanto, ainda é cedo para se imaginar sua duração e intensidade. Contudo, há uma alta probabilidade de que a crise continue se aprofundando, reduzindo a riqueza das famílias européias e norte-americanas e, em conseqüência, afetando negativamente seu consumo. Nesse caso, as importações desses países se reduziriam, impactando as exportações de seus parceiros, numa bola de neve em escala global.

Nos últimos 20 anos, as exportações chinesas cresceram sobremaneira para a Europa, os Estados Unidos e o Canadá. Portanto, a redução de suas importações afetaria diretamente a China, que, como visto, teve, no aumento de suas exportações, um dos motores para seu crescimento. Porém, não se deve esperar, mesmo no pior cenário, uma recessão forte e prolongada. Portanto, na pior das hipóteses, o ritmo de crescimento da China seria afetado, mas ainda permaneceria relativamente elevado. Boa notícia para os países em desenvolvimento.

. Por: Marcelo José Braga Nonnenberg é mestre em economia pela UnB, doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e técnico do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. | CEBC

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