Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

02/02/2012 - 11:06

Saúde cresce induzida pela oferta

“No Brasil, vivemos uma situação esquizofrênica. Setores que deveriam ter o seu crescimento induzido pela demanda crescem, hoje, pela oferta. E vice-versa”. A opinião é do médico e diretor do Centro Paulista em Economia da Saúde (CPES), ligado à Universidade Federal de São Paulo, Marcos Bosi Ferraz. A saúde é um caso típico de setor que deveria ter o seu crescimento induzido pela demanda, através do estabelecimento de políticas públicas de médio e longo prazos que priorizem as reais necessidades do sistema de saúde e criem condições para o investimento, o que não acontece.

O fenômeno, inclusive, já está influenciado na formação dos profissionais da área. “Na Unifesp, os médicos que estão se formando optam por especialidades que têm maior chance de rentabilizar o seu trabalho e estão atreladas a procedimentos. Com determinados equipamentos à disposição, o médico gera sua própria demanda. É por isso que em muitos estados brasileiros já não se encontram pediatras, especialistas que vivem basicamente de consultas”, explica Marcos Ferraz. A solução depende, segundo ele, da criação de incentivos, tanto por parte do governo quanto da iniciativa privada, para que esses profissionais sejam bem remunerados e recebam o reconhecimento da sociedade. “Mas isso não se faz da noite para o dia”, reconhece.

A visão estreita, de curto prazo, dos nossos governantes impede que questões importantes sejam debatidas pela sociedade e que poderiam orientar as decisões para o sistema de saúde que o Brasil quer ou pode ter em 15 anos. “A saúde nunca foi priorizada no país”, afirma Marcos Ferraz. Entre algumas definições importantes elencadas pelo especialista em Economia da Saúde estão a definição clara de papéis do SUS e da saúde suplementar, quais os limites de atuação de cada um, complementariedade da assistência, troca de dados e informações, segurança jurídica e qual o “tamanho” do sistema suplementar que queremos ter no país. A pergunta mais crítica, porém, que afugenta os políticos pelo ônus que traz é: Podemos ou temos condições de dar de tudo a todos?

O módulo de Sistema de Saúde Público-Privado do 17º Congresso Latino-Americano de Serviços de Saúde, evento que acontece dias 23 e 24 de maio, em São Paulo, durante a Hospitalar 2012, se propõe a discutir essas questões. O tema central do evento - “Dilemas da Saúde: Presente e Futuro” - é, segundo Marcos Ferraz, extremamente oportuno, já que sistemas de saúde de todo o mundo enfrentam desafios e dilemas. “Isso acontece porque a velocidade de geração de conhecimento na saúde e a demanda por parte dos usuários é maior que a capacidade de entrega dessa assistência. O tema central do ClasSaúde 2012 passa por uma palavra, que é escolha”.

Investir em um novo equipamento para atender a uma demanda reprimida e solucionar um problema em curto prazo ou investir em sistema de informação e dados que possibilite melhor análise do que acontece hoje para que decisões em médio e longo prazos sejam tomadas com menor probabilidade de erros? Dar, pelo SUS, remédio de alto custo a um paciente terminal de câncer ou suspender o tratamento de dezenas de diabéticos que recebem tratamento barato? “São decisões que, mais cedo ou mais tarde, teremos que tomar, pois não temos recursos suficientes para atender a todas as necessidades e desejos dos cidadãos”, frisa.

Paralelamente, Marcos Ferraz defende a desoneração de algumas áreas no intuito de facilitar o investimento privado em saúde e o retorno direto à sociedade. “Sabemos que alguns produtos veterinários têm tributação bem menor do que outros voltados para a saúde humana. Isso não faz sentido. O Brasil precisa rever esse cenário para favorecer investimentos. Isso pode ocorrer através de isenções ou de benefícios indiretos bem formulados e que se mantenham por algum tempo, fazendo com que o empresariado constate que vale a pena investir na saúde”, defende Ferraz.

O 17º Congresso Latino-Americano de Serviços de Saúde é o evento internacional do ClasSaúde e está dividido em três módulos. Além do Sistema de Saúde Público-Privado, que acontece dia 23 de maio, os outros debatem Capacitação Profissional (23 de maio) e Saúde Suplementar (25/05). Oficiais da Hospitalar Feira + Fórum, os congressos são realizados pela Confederação Nacional de Saúde (CNS), Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Fenaess), Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SINDHOSP) e Hospitalar Feira + Fórum.

Os congressos ClasSaúde reúnem autoridades, empresários e profissionais qualificados, que têm a oportunidade de discutir temas relevantes para os seus negócios e o sistema de saúde. Marcos Ferraz, que coordena a comissão científica do módulo de Sistema de Saúde Público-Privado do 17º Congresso Latino-Americano, acredita que os participantes podem propagar as ideias discutidas nos eventos para outros líderes. “Isso contribui para o amadurecimento, para que melhores escolhas sejam feitas dentro do sistema de saúde. Por ser um público diferenciado, esperamos que eles voltem a debater um pouco dos temas que foram colocados e propaguem essas ideias em outros ambientes”, finaliza Ferraz. Inscrições abertas a partir de março. [www.classaude.com.br].

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira