Crenças que matam

Lindemberg Fernandes Alves, julgado no Fórum de Santo André, pelo assassinato de Eloá Pimentel, que tinha 15 anos, foi condenado a 98 anos e 10 meses de prisão. Ele respondeu por 12crimes, dentre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, tentativa de homicídio, cárcere privado e disparos de arma de fogo.

Em outubro de 2008, o rapaz invadiu o apartamento da ex-namorada, Eloá, e fez três amigos dela de reféns, dentre eles, Nayara Rodrigues. Solta num primeiro momento, retornou ao apartamentonuma tentativa de ajudar a acalmar o clima tenso entre Lindemberg e Eloá. Após mais de cem horas de muita tensão, o sequestro terminou com a invasão dos policiais militares do Gate e com a morte da ex-namorada, atingida por dois tiros, e Nayara atingida no nariz. Lindemberg foi preso.

A jovem Eloá falou “não” para uma relação que aconteceu e durou à medida que existia afinidade entre o casal. O que restou, para ela, foi mais uma experiência da vida. Para o ex-namorado, um sentimento de rejeição, raiva e ódio. As relações amorosas e o afeto despendido engrandecem, mas não deveriam diminuir ninguém. Os crimes de amor denunciam que ninguém pode sentir que tem posse de outro, porque os sentimentos são instáveis, as pessoas são volúveis e as experiências passageiras. Todos têmdireito de ser feliz de acordo com suas referências.

Esse caso é mais um entre tantos outros de violência contra as mulheres. Infelizmente, os números só vêm aumentando e a condição feminina no mundo faz com que a sociedade precise refletir sobre estas atrocidades sociais, que evidenciam ainda a imposição masculina sob a feminina.

Os homens não aceitam e não admitem a autonomia da mulher. Isso faz com que não compreendam a igualdade dos gêneros. As mulheres não se submetem aos desejos deles, tampouco se reprimem diante das próprias vontades. Ou seja, elas se relacionam com quem querem, de acordo com seus critérios e sem se preocuparem com modos ou conceitos sociais, da mesma forma que eles não querem continuar num relacionamento quando não sentem mais nada e colocam em prática o poder do “não”.

A grande diferença é que as mulheres, hoje, sabem exatamente o que querem, vão atrás e conseguem. É justamente a esse reposicionamento social que muitos homens ainda não se adaptaram. A boa notícia é que eles são e podem ser autônomos também. Autonomia em nada tem a ver com independência, mas sim com libertação.

Lindemberg era um rapaz sem antecedentes criminais e trabalhador. Não é bandido, mas se tornou criminoso. Violento e inconsequente, converteu seu conflito em crime, tirando a vida de Eloá.

.Por: Breno Rosostolato, professor de psicologia da Faculdade Santa Marcelina.