Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

24/02/2012 - 10:28

Fluxo de caixa, custeio e orçamento: instrumentos de gestão financeira

A situação parecerá familiar e provavelmente muitos se identificarão com ela: uma conta de cifras onerosas vence no dia 2, mas não há saldo em conta corrente. Há um recebível que poderia cobrir facilmente essa despesa, mas ele só entrará no dia 15. Pior: a empresa não tem aplicações financeiras para resgatar recursos e quitar a dívida. Quais as saídas possíveis? A primeira é obter um empréstimo de capital de giro, pagando as pesadas taxas de juros peculiares ao sistema financeiro brasileiro. Há a alternativa de descontar o recebível em uma factoring, que também irá cobrar uma taxa de desconto sobre o valor de face. Em ambas as opções, a empresa incorrerá em um gasto adicional: uma despesa financeira.

Muitas empresas, em especial micro e pequenas, enfrentam com frequência as dificuldades de caixa. Em geral, isso ocorre porque a gestão dos recursos financeiros não é feita de maneira criteriosa. Dito de outra forma, os gestores se preocupam com a parte operacional do dia a dia e se esquecem de efetuar a análise das finanças da empresa, o que permitiria traçar uma Estratégia Financeira.

Para traçar uma Estratégia Financeira, há que se seguirem alguns procedimentos básicos. Em primeiro lugar, é essencial identificar o comportamento das entradas e saídas. Tanto ao longo do ano, como dentro do próprio mês, há períodos em que ocorre um aumento das atividades financeiras. Por exemplo, nos meses de maio, outubro e dezembro costumam se intensificar as atividades comerciais, decorrentes do Dia das Mães, Dia das Crianças e Natal, o que tem impacto nas finanças da empresa, tanto nas entradas, como nas saídas. E, dado o hábito do consumidor brasileiro de parcelar as compras, uma empresa poderá ter de pagar à vista e vender a prazo, gerando um descasamento entre entradas e saídas de recursos financeiros. Outro exemplo: o 5º dia útil do mês tende a registrar um aumento do volume de compras à vista, por conta dos pagamentos de salários.

Após ter identificado como as entradas e saídas se comportaram ao longo de um intervalo de tempo, a segunda etapa do plano financeiro consiste em confrontá-las por meio de uma planilha eletrônica: a construção do fluxo de caixa. Logo, será possível identificar em quais dias do mês costumam ocorrer déficits de caixa, quais as naturezas desses déficits – em função de gastos fixos ou variáveis – e estabelecer um plano para que não aconteçam no futuro. Por exemplo, as saídas financeiras para folha de pagamento do mês seguinte podem ser sanadas com parte da entrada de recursos das prestadoras de cartão de crédito deste mês. Ou para o pagamento do 13º, um dos maiores percalços financeiros das empresas, pode ser constituído um fundo específico ao longo do ano, de forma a amortecer o impacto dessa obrigação trabalhista.

O terceiro passo é, com base no fluxo de caixa, aplicar os métodos gerenciais de custeio. É frequente um empresário acreditar que está tendo lucro com base nas informações do fluxo de caixa, mas na verdade, está incorrendo em prejuízo. Isso ocorre porque há custos que não se constituem em saídas financeiras. O principal deles é a depreciação. Como máquinas e equipamentos têm vida econômica limitada – de 3 a 6 anos, dependendo do estado tecnológico e da taxa de obsolescência – as empresas precisam planejar a reposição desses itens. Se não o fizer, tenderá a perder mercado para os concorrentes que irão operar com melhor capacidade técnica e, portanto, com custos mais baixos. A reposição do capital fixo representa uma saída financeira importante da empresa, o que pode representar um problema no caso de não haver sido prevista em orçamento.

Uma vez resolvidos os problemas de curto prazo, é hora de efetuar o planejamento de longo prazo. Sob este ponto de vista, entra em cena o orçamento empresarial. Micro e pequenas empresas não costumam usar este instrumento no Brasil, o que explicaria, em parte, a estagnação e, muitas vezes, o alto índice de mortalidade dessa categoria de empreendimento. O orçamento permite identificar quais são os pontos de controle dos gastos da empresa e como alavancar o crescimento econômico no longo prazo – lembre-se: a empresa que não cresce está condenada à morte.

Muitas empresas familiares têm o mau hábito de distribuir todo o lucro em pró-labore, não deixando espaço para o crescimento. Pior: não é raro retirar recursos financeiros mesmo quando há prejuízo. É um caminho sem volta para a concordata e a falência. Com o orçamento é possível identificar qual o espaço para a remuneração dos sócios/donos da empresa, a reposição do capital fixo e o crescimento estratégico. Tudo feito de forma equilibrada para alcançar objetivos pré-estabelecidos.

É um longo caminho a ser percorrido. Mas são instrumentos de gestão financeira que não podem ser negligenciados. Se a empresa não conseguir dedicar recursos para exercê-los, está correndo um sério risco de enfrentar más surpresas. Caso o tempo de trabalho dos funcionários seja insuficiente para atender a essa necessidade, uma alternativa é contratar consultores financeiros especializados. É um investimento relativamente baixo que propicia alto retorno de longo prazo.

.Por: Fabrício Pessato Ferreira – mestre em economia e coordenador dos cursos de Gestão Financeira e Ciências Contábeis da Veris IBTA Metrocamp, faculdade do Grupo Ibmec Educacional.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira