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25/02/2012 - 09:17

Duas visões: Quais são os rumos do carnaval carioca?

No carnaval carioca, os blocos que saem pelas ruas do Rio deram prova de que ainda não pararam de crescer, atraindo quatro milhões de cariocas e turistas durante os quatro dias de sol, de acordo com a Riotur.

Na Quarta-Feira de Cinzas, a BBC Brasil conversou com dois importantes músicos da cidade para falar sobre os rumos do carnaval carioca e refletir sobre o crescimento e as mudanças no carnaval de rua, hoje é o maior do país.

Para o sambista e compositor Moacyr Luz, o Rio está "bem inflado de blocos de rua", mas este crescimento deve se equilibrar naturalmente. Para ele, o carnaval do Rio virou moda, mas a festa continua valendo a pena mesmo cheia. "Ninguém gosta de praia deserta", afirma.

Um dos fundadores do Monobloco, bloco de maior público da geração mais recente, o músico e compositor Pedro Luís diz que o crescimento do carnaval de rua na cidade é evidente e que todos os grupos "têm respirado essa revitalização".

Ele considera que o diálogo da prefeitura do Rio com os blocos - procurando reacomodar aqueles de maior público em espaços mais amplos - tem ajudado a cidade a comportar a festa. Mas lembra que o Rio nunca será "destino único" de foliões, havendo outras cidades de forte tradição na festa Brasil afora.

De acordo com a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur), 425 blocos estavam programados para sair antes, depois e nos dias de carnaval, apenas um a mais do que em 2011. Nas ruas, entretanto, a impressão é de um público maior, com muitos blocos chegando às centenas de milhares de foliões, como o Simpatia É Quase Amor, com 150 mil foliões, o Afrorreggae, com 400 mil, e o recordista Cordão do Bola Preta, que atraiu estimadas 2,2 milhões de pessoas.

Apesar de o carnaval já ter acabado oficialmente, há desfiles no Rio até domingo [26/02], quando o Monobloco, que no ano passado atraiu meio milhão de pessoas, sai pela Avenida Rio Branco - que na segunda-feira volta a ser o centro empresarial do Rio.

.BBC Brasil: Quais são os rumos do carnaval carioca? -Moacyr Luz: O Rio está bem inflado de blocos de rua. Acho que há um certo surto, uma certa euforia onde as pessoas precisam ir a todos os blocos. Passei por perto do Sargento Pimenta (bloco carioca que toca músicas dos Beatles) e parecia até que as pessoas estavam indo atrás de um guru. Mas não dava para enxergar nem o sargento, nem o pimenta.

Eu até fiz uma brincadeira no Twitter. Eu já fundei bloco, já participei de muitas coisas, e acho fundamental essa história dos blocos de rua, até porque vim de uma época em que se fugia do carnaval do Rio. Ia para a Região dos Lagos, passar o carnaval fora, até perceber que isso era uma traição com a cidade.

Mas hoje não há um bloco que não esteja absolutamente lotado, com pessoas ocupando demais o espaço. Não sei qual solução a gente vai ter. Mas que influi (no carnaval carioca), influi demais. Não sei se é uma questão de vaidade ter carros de som de uma magnitude baiana, como se estivéssemos em um trio elétrico, e aí quanto melhor o som, mais gente tem, e aí você entra numa espiral.

.BBC Brasil: Você acha que há um limite para esse crescimento? -Moacyr Luz: Acho que o equilíbrio vai vir naturalmente, não sei bem como, talvez as pessoas comecem a enjoar um pouco. Tem que diminuir um pouco os pitboys. Os caras saem de bermuda e sem camisa e acham que isso é carnaval.

Uma hora vai se chegar a um equilíbrio, porque começa a ficar incômodo, né? Não é possível que o cara vai querer sofrer. Você vai pegar o metrô e está impossível de andar.

.BBC Brasil: Por que você acha que aumentou tanto? -Moacyr Luz: É moda, né, bicho. O Rio é o tambor do país, é o que ecoa. A gente vai inventando coisas ao longo do tempo.

E não adianta, ninguém gosta de praia deserta. Você não tem um sorvete, não passa uma empada, não tem uma mulher bonita para você ver, ou um cara bonito para a mulher ver.

O sujeito vai dizer: "adoro samba, mas tá muito cheio"?. De samba vazio, ninguém gosta. Quando a coisa começa a ficar bacana, vai lotar, não tem jeito. Ainda mais quando é no Rio de Janeiro.

.BBC Brasil: Você ainda frequenta o carnaval de rua? -Moacyr Luz: Eu sou um cara que vai para a Avenida Rio Branco ver o Cacique de Ramos passar (tradicional bloco carioca que desfila no centro). Eu gosto do carnaval de rua. Fui a muito lugar neste ano. Fui ao Sassaricando, Bagunça Meu Coreto, Gigantes da Lira, cantei um samba no Simpatia, passei por fora do Sargento (todos blocos de rua do Rio), desfilei na (escola de samba) Império Serrano...

.BBC Brasil: E mesmo com a cidade cheia, continua valendo a pena. -Moacyr Luz: Lógico que vale. A cidade está cada dia mais bonita. A gente está começando a entender a importância do turismo, de receber bem. E isso para mim não tem preço. Às vezes, graças ao trabalho, tenho a oportunidade de viajar a outros lugares, como Itália e Espanha, e vejo como as pessoas valorizam o turismo.

Aqui a gente tem tudo para ter o mesmo movimento, tem muita coisa a favor. As pessoas querem ser cariocas! É interessante isso. Querem ter o mesmo sotaque, acham que a gente é malandro, mas a gente trabalha para caramba.

.BBC Brasil: E os desfiles das escolas de samba? -Moacyr Luz: Estive neste ano no camarote da Brahma e gostei dos desfiles. Achei muito bonitas as alterações no Sambódromo (que passou por obras de ampliação antes do carnaval). A pista ficou mais aberta para o público e isso permitiu ver ver melhor os desfiles.

Acho que hoje ficou difícil ter uma boa apuração (dos resultados das escolas de samba). Os recursos são muito iguais a nível de dinheiro e de tecnologia. E os recursos tecnológicos estão muito parecidos, as escolas estão com as mesmas paradinhas. É como se fosse uma prova de Fórmula 1, você acaba vencendo por um milésimo.

Nos desfiles de escola de samba, acho que as melhores coisas continuam sendo a concentração (onde as alas e os carros aguardam a vez de entrar na avenida). Ali as pessoas se reencontram, ficam nas barraquinhas tomando um caldinho de mocotó, é como se fosse uma quermesse. Uma festa religiosa, mas de carnaval. Está todo mundo ali em uma intensa comunhão, torcendo para a sua escola. |. Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil /Rio de Janeiro.

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