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15/09/2007 - 12:54

Escândalo da McLaren e o mundo corporativo

Para quem teve a oportunidade de ver o nome McLaren associado aos grandes pilotos brasileiros Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna, soa irreal ver a equipe envolvida em um escândalo desta magnitude: espionagem industrial na fórmula 1. Mas, as evidências que levaram à FIA (Federação Internacional de Automobilismo) a punir a escuderia não deixam dúvidas: seu projetista-chefe, Mike Coughlan obteve de Nigel Stepney, ex-mecânico-chefe da Ferrari, informações confidenciais da equipe italiana. A McLaren foi punida com a perda dos pontos do campeonato de construtores - a pontuação de seus pilotos foi preservados - e multa de US$ 50 milhões (que seria suficiente para falir equipes menores, mas que representa cerca de 1/6 do orçamento do time Vodaforne McLaren).

O que o mundo corporativo poderia aprender com este episódio? Em termos de liderança, nada é mais complexo de se lidar do que as emoções humanas. Nigel Stepney estava descontente com a Ferrari desde a saída de Ross Brawn (ex-diretor técnico da equipe) e chegou a pedir 12 meses de licença para fazer um sabático (um período de descanso). A Ferrari negou-lhe o pedido. Embora não possamos afirmar como lhe foi comunicada esta decisão, todo líder deve estar atento que ao dizer "não" a uma solicitação de um empregado, com especial atenção àqueles mais graduados e com acesso a informações confidenciais da empresa, gera condições para que ele se desmotive e sinta-se ressentido com a empresa. Conhecer os propósitos de seus liderados, ou seja, as razões que os mantêm inspirados no ambiente de trabalho e principalmente seus vínculos dentro da empresa faz com que o líder tenha maior poder de análise sobre como suas decisões serão interpretadas por eles. Acima de tudo o executivo em cargo de liderança deve conhecer as melhores práticas de comunicação e feedback de forma a minimizar as possibilidades de problemas como estes enfrentados pela Ferrari. Mas, não tenha ilusões, a índole da pessoa desempenha um papel preponderante em sua reação quando seus interesses são contrariados.

Outro aspecto a se observar é: como a empresa armazena e controla seus documentos sigilosos e vigia as pessoas que a eles têm acesso? Embora nenhum de nós se sinta confortável sendo observado e controlado, a empresa deve criar mecanismos que, dentro da lei, sirvam de controle e inibição de ações que possam fazer informações valiosas vazarem. Afinal se não fosse a denúncia de um funcionário de uma copiadora próxima à McLaren, que fez a duplicação dos documentos da Ferrari, talvez nada tivesse sido descoberto até hoje. Com a internet e os recursos tecnológicos disponíveis em celulares, a transmissão de dados ficou muito fácil a qualquer um e com isto a segurança das informações deve ser uma questão premente em toda empresa. O mundo dos negócios somente pode existir se o sigilo for um valor das pessoas envolvidas com a corporação. Com a competição cada vez mais acirrada, uma única informação crucial pode ser a diferença entre a vitória ou o fracasso de um projeto ou mesmo de uma organização. Muitos não são capazes de observar regras de conduta que são fundamentais para o trato de informações sigilosas na empresa.

Outro aspecto importante é que na contratação de profissionais, a avaliação de seu comportamento é tão ou mais importante que seu brilhantismo técnico. Na verdade os indivíduos são contratados por suas competências técnicas e frequentemente demitidos por suas falhas comportamentais. Embora no caso da Mclaren e da Ferrari a questão é mais grave, pois não se trata de uma falha, mas de um crime - tanto assim que o mecânico desta última está respondendo a processo em Modena, na Itália, sede da equipe.

Para o profissional, aprender a dominar suas emoções deve ser um objetivo a ser perseguido no amadurecimento de sua carreira. Seja lá por qual motivo que a pessoa está descontente com a empresa, nada justifica que ela queira prejudicá-la ou cometer um crime para expressar seu descontentamento. Por isto, a capacidade de lidar com frustrações é uma competência muito demandada no ambiente corporativo.

Por último, mas não menos importante, apesar da punição ter sido branda em comparação com os valores envolvidos na Fórmula 1, a existência de uma entidade que controla as regras do jogo faz com que os interesses de todos os envolvidos sejam assegurados: patrocinadores, equipes, pilotos, mídia e principalmente o público. É verdade que a FIA teve de ser pressionada para fazer algo a respeito, mas não deixa de ser louvável observar que uma entidade, ainda que sob pressão cumpra sua obrigação de fiscalizar a conduta de todos os envolvidos com o esporte. Quem sabe um dia teremos o mesmo para o Senado Brasileiro.

. Por: Sílvio Celestino, autor do livro "Conversa de Elevador".

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