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02/03/2012 - 11:11

Potências econômicas necessitam ser potências militares?

O Brasil está saindo de status de país emergente e passando a candidato à potência econômica, de acordo com um dos mais influentes banqueiros da atualidade, Jamie Dimon, presidente do JPMorgan Chase. Em maio de 2008, a agência de classificação de risco, Standard & Poor's, elevou a nota atribuída à dívida de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil para "BBB-", o primeiro nível da faixa de grau de investimento. A nota é concedida a países pouco propícios à inadimplência e significa que o país oferece baixos riscos para investidores financeiros internacionais. A agência de classificação de risco Moody’s elevou, em 2011, a classificação do Brasil, de BAA3 para BAA2, com perspectiva positiva.

Porém, para que o país se torne relevante como potência econômica, é necessário que alcance diversas condições, como: a capacidade de se defender de possíveis inimigos internos e externos; de impor condições comerciais sem ser retaliado, e de influenciar e defender parceiros comerciais relevantes. Para isso, é necessário que se torne também uma potência militar.

Se analisarmos a história de diversos países que alcançaram a condição de potência econômica, todos, sem exceção, passaram a ter as forças militares como um dos pilares de sustentação no cenário geopolítico mundial. Podemos analisar o século XX como exemplo disso. Os países que alcançaram esse status, como os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), não só se tornaram potências militares, como produziram a mais feroz corrida armamentista de toda a história, denominada “Guerra Fria”, dividindo o mundo em duas partes, criando blocos militares distintos denominados OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e Pacto de Varsóvia. Ambos buscaram defender interesses comerciais, ideológicos e geopolíticos.

A China, como a mais recente candidata à potência econômica, investiu mais de US$ 60 bilhões em 2008 em orçamento militar. Certamente, o país é hoje uma grande potência militar com um exército composto por mais de 100 milhões de soldados, com capacidade de produzir e projetar armamento de última geração, como mísseis balísticos e caças de quinta geração. Em 2010, o budget para as forças armadas chinesas passou para US$ 114 bilhões, segundo publicação Global Security.

O Brasil vem caminhando a passos largos para tornar-se uma potência econômica, porém continua muito atrasado no quesito “forças armadas”. É notória a fragilidade do país que, além de possuir um efetivo de pessoas e armamentos pequenos diante das proporções do Brasil, têm muitos de seus meios de combate com mais de 30 anos de uso. Apesar de existirem aeronaves com longos anos de uso também na força aérea americana, a proporção de novos equipamentos versus antigos é centena de vezes maior que a do Brasil.

Entre os países que possuem as siglas incorporadas no BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), todos possuem tecnologia de projeto e produção de armamento bélico de última geração, mas apenas o Brasil não possui capacidade de desenvolvimento de projeto e construção de um caça supersônico, de quarta ou quinta gerações. Para isso, ainda precisa avançar nesse item para garantir seu lugar como potência.

Mesmo tendo a terceira maior indústria aeronáutica do planeta, capitaneada pela Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), o Brasil não iniciou o desenvolvimento de uma aeronave de superioridade aérea que possa garantir soberania. As nações do BRIC, exceto o Brasil, estão investindo em forças armadas através de desenvolvimento interno de armamento de última geração, com o intuito de garantir a continuidade de crescimento como potência econômica. Qual a motivação leva um país a investir em suas forças armadas, em vez de utilizar estes recursos para beneficiar diretamente a população com infraestrutura, hospitais, escolas, etc.? Suponhamos que um país com baixa representatividade de seu PIB, em relação aos mais ricos do mundo e com forças armadas pouco equipadas, tenha algum conflito com um país membro da OTAN, o que aconteceria?

Em 2 de abril de 1982, a Argentina, para aumentar a legitimidade do governo militar e desviar a atenção da população dos cerca de 90% de inflação e a profunda recessão em que estava imersa, invadiu a Falkland Islands (Malvinas) buscando recuperar o arquipélago sob ocupação da Grã-Bretanha, país membro da OTAN. As Forças Armadas Argentinas tinham grande quantidade de aeronaves francesas. No dia 9 de abril, a Grã-Bretanha obteve o apoio da Comunidade Econômica Europeia (hoje União Europeia), da OTAN, da Comunidade Britânica das Nações (Commonwealth) e da ONU.

A Argentina, altamente dependente de aviões franceses, ficou incapacitada de obter mais mísseis devido ao apoio da França à Inglaterra. Como não detinha o projeto do Super Etandart, o país não conseguiu integrar outros mísseis da mesma categoria com esta aeronave. Essa arma era vital para a Argentina vencer a guerra, que ocorria eminentemente no mar, sendo o Exocet um míssil antinavio. A França entrou no embargo realizado pela Comunidade Econômica Europeia contra a Argentina.

A história ensina que a aquisição de materiais bélicos de países alinhados tem seu ônus, porém o que mais fragilizou a Argentina foi a baixa representatividade como economia mundial e, principalmente, a altíssima dependência de um único país, no que concerne à aquisição de armamento e aeronaves. Pode-se somar a isso um importantíssimo fato: a incapacidade dos argentinos de conhecer os projetos de seus equipamentos bélicos em profundidade, não sabendo integrar sistemas, impossibilitou o uso de mísseis provenientes de outras nações. A dependência excessiva pode levar à fragilização de uma nação e, conseqüentemente, à perda da soberania.

O Brasil está, neste momento, buscando novos caças para a Força Aérea Brasileira, tendo uma oportunidade de alinhar-se aos seus pares do BRIC. Para isso, terá que investir no desenvolvimento de uma aeronave de quinta geração, utilizando tecnologia desenvolvida no Brasil, associada a tecnologias provenientes de países não alinhados ou neutros. Com a ajuda da Suécia, o Brasil pode investir na produção de caças com tecnologia já pronta, acelerando o processo produtivo e se igualando a outros países membros do BRIC. Alinhar-se à Suécia significa, na prática, associar-se a um país neutro. Desse modo, o Brasil garante a independência militar e soberania. É crucial que o país decida essa questão levando em conta, sobretudo, a certeza de, no futuro, continuar sendo um país independente e soberano.

.Por: Fernando Arbache ,Presidente da Arbache Consultoria, Fernando é Doutor em Sistemas de Informação (COPPE/UFRJ), pesquisador em simulação, jogos de negócios e Inteligência de Mercado; responsável pelo desenvolvimento de sistemas de novas tecnologias em CRM, ERP, e-learning e Business Intelligence. Além disso, é autor do livro Logística empresarial, da editora Petrobras, e Gestão de Logística, Distribuição e Trade Marketing, da Editora FGV. [www.arbache.com.br e www.arbache.blogspot.com ].

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