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27/03/2012 - 10:51

Segredos de um povo ancestral africano pelo olhar de um brasileiro apaixonado por Angola e sua gente

Vista por mais de 185 mil pessoas em Brasília e São Paulo, com temporadas em Lisboa e Luanda, mostra “Hereros – Angola”, de Sérgio Guerra, ocupa Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, de 12 de abril a 08 de julho.

Dono de um dos mais completos acervos de imagens da cultura angolana, o renomado fotógrafo e publicitário Sérgio Guerra exibe no Rio de Janeiro um panorama minucioso de suas expedições ao país africano, mais propriamente de seus registros dos hereros, o mais antigo grupo étnico do continente. Com curadoria do artista plástico e diretor do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, a bem-sucedida “Hereros – Angola”, originada do livro homônimo do artista (Editora Maianga, 2010), aporta no Museu Histórico Nacional, de 12 de abril a 08 de julho. Visto por mais de 185 mil pessoas em São Paulo e Brasília – com passagens também por Lisboa e Luanda –, o painel apresenta 120 fotos em diversos formatos acompanhados por uma cenografia repleta de vestimentas, adereços e objetos de uso tradicional e ritualístico da etnia, traçando um amplo registro de seu modo de vida e tradições.

Fruto da paixão que o fotógrafo desenvolveu pela cultura do país africano, quando ficou à frente da comunicação do governo angolano, há mais de 15 anos, a exposição traz ainda depoimentos em vídeo colhidos entre homens, mulheres e jovens hereros sobre a sua cultura. O repertório de imagens e sons reunidos na mostra levam o espectador ao universo da etnia, composta por pastores de hábitos seminômades, que são exemplo da perpetuidade e resistência de uma economia e cultura ancestrais ameaçadas pelo acelerado processo de modernização e ocidentalização dos países do continente, assim como pela devastação da guerra civil que assolou o país por décadas. Através da iconografia, registros materiais e multimídia sobre o povo herero, sua tradição e seus rituais, a mostra, que tem patrocínio da Unitel (empresa de telefonia móvel de Angola), contribui para o conhecimento da nossa ascendência africana e da formação social e etnológica de nossa gente.

Os hereros -O contato inicial de Sérgio Guerra com os hereros causou impacto imediato no artista. ‘“Quando os vi pela primeira vez, foi como se uma porta da minha percepção tivesse sido aberta para algo que sabia existir, mas hesitava em acreditar”, recorda. O ano era 1999, durante uma viagem às províncias de Huíla e Namibe para as gravações do programa Nação Coragem, que levava aos angolanos desde notícias de guerra a informações sobre a cultura do país e suas populações. Naquela excursão, Guerra registrou imagens dos mukubais, um dos subgrupos dos hereros. Sete anos depois, retornou à Namibe e descobriu outros subgrupos: os muhimbas, os muhacaonas, os mudimbas e os muchavícuas. “Comecei a entender que aqueles povos, apesar de terem aparências muito diferentes, eram todos da mesma raiz, da mesma família”, explica.

Os hereros fazem parte de uma expansão Bantu de cultura pastoril e hoje vivem entre a Namíbia, Angola e Botsuana. Chegaram ao atual território de Angola por volta do século XV, e ocupam hoje a região semidesértica de pastagens naturais, mas de chuvas escassas e breves, das províncias do Cunene e Namibe, no Sudoeste de Angola. Toda a sua vida cultural se constrói com referência à sua relação com o boi e com o meio circundante.

Em Angola, durante toda a primeira metade do século passado, os hereros sofreram a perseguição das autoridades coloniais, que os forçou a trocar o gado e o nomadismo pela agricultura e uma vida sedentária. Resistiram ao encalço e ao degredo, retomando as suas tradições ancestrais.

Na Namíbia, resistiram à escravidão e se opuseram à dominação alemã, ação que os tornou vítimas de um dos maiores genocídios da história. Em 1904, o general Lothar von Trotha ordenou as tropas alemãs ao cumprimento de uma “ordem de extermínio” e dizimou cerca de 80 % da população dos hereros.

Na convivência com os hereros, o fotógrafo percebeu que os próprios angolanos sabiam muito pouco sobre essa etnia e sequer conseguiam distingui-los. “Descobri que, para além da minha atração por estes povos, poderia ser útil, de alguma maneira, se pudesse partilhar com um número maior de pessoas tudo aquilo que me foi dado a conhecer sobre eles”.

Apesar da distância geográfica que separa os subgrupos, todos falam o idioma herero, além de português em Angola, inglês em Botsuana e inglês e africâner na Namíbia. Para conhecer mais de perto o modo de vida da etnia, Guerra passou uma temporada vivendo dentro das comunidades e observando suas práticas cotidianas. “Vi que mesmo diante da escassez dividem sempre o alimento com os demais. Eles cultivam a solidariedade, evitam o egocentrismo e praticam uma economia familiar de grande inteligência, sempre voltados para a ampliação de um patrimônio cujo usufruto é sempre coletivo. Vi que honram e festejam os seus antepassados e que praticam com grande eficácia a justiça, coibindo infrações com pesadas multas que, além do prejuízo econômico, também representam uma reprimenda moral”.

O autor -Fotógrafo, publicitário e produtor cultural, Sérgio Guerra nasceu em Recife, morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até se fixar na Bahia nos anos 80. A partir de 1998, passou a viver entre Salvador, Rio de janeiro e Luanda, onde desenvolveu um programa de comunicação para o Governo de Angola. Em suas constantes viagens pelo país, testemunhou momentos decisivos da luta pela paz e reconstrução, constituindo um dos mais completos registros fotográficos das 18 províncias angolanas. Seu acervo fotográfico propiciou a publicação dos livros 'Álbum de família', 2000, 'Duas ou três coisas que vi em Angola', 2001, 'Nação coragem', 2003, 'Parangolá', 2004, 'Lá e Cá', 2006, 'Salvador Negroamor', 2007, ‘Hereros-Angola’, 2010 e e a montagem das exposições 'As muitas faces de Angola' – Brasília (Congresso Nacional), Salvador (Shopping Barra), São Paulo (Centro Cultural Maria Antônia), 2001; 'Nação Coragem' – São Paulo (FNAC Pinheiros, 2003), Zimbabwe (HIFA, Harare International Festival Arts, 2008); 'Lá e Cá' - realizada na Feira de São Joaquim, a maior feira livre da América Latina, tendo as bancas dos comerciantes como suporte da exposição – Salvador, 2006; 'Salvador Negroamor' - toda ela dedicada às pessoas que vivem na periferia da cidade, destacou-se como a maior exposição fotográfica a céu aberto que se tem registro até hoje, com aproximadamente 1500 painéis espalhados na cidade – Salvador, 2007; 'Mwangole' – Salvador (Galeria do Olhar, 2009); 'Hereros-Angola' – Luanda (Museu Nacional de História Natural), Lisboa (Perve Galeria), 2010, São Paulo (Museu Afro Brasil) e Brasília (Museu Nacional da República), 2011.

O curador -Emanoel Araújo é escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo, nascido em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, a 15 de novembro de 1940. Em Salvador, formou-se em Belas Artes e foi diretor do Museu de Arte da Bahia. Lecionou artes gráficas, desenho, escultura e gravura na City College University of New York. Em Brasília, foi membro da Comissão dos Museus e do Conselho Federal de Política Cultural, instituídos pelo Ministério da Cultura. Já em São Paulo, foi Secretário Municipal de Cultura, e Diretor da Pinacoteca do Estado, onde liderou uma gigantesca reestruturação nos anos 90, transformando o prédio em um dos principais museus do país e um dos roteiros turísticos culturais da cidade. Emanoel Araújo é considerado um extraordinário escultor e já realizou várias exposições individuais e coletivas por todo o Brasil, Europa, Estados Unidos e Japão. Como não podia deixar de ser, recebeu diversos prêmios em todas as técnicas trabalhadas. Suas obras tridimensionais se destacam pelas grandes dimensões, pelos relevos e pela formas integrantes nas edificações urbanas. Seu estilo – mesmo sendo único – dialoga com movimentos artísticos de toda a história, mas sempre com ênfase nos detalhes que descrevem e valorizam as características africanas. Hoje, é Diretor Curador do Museu Afro Brasil, do qual foi idealizador e doador de grande parte do acervo.

.[ Museu Histórico Nacional1, de 3 de abril a 08 de julho de 2012, de terça a sexta-feira,das 10h às 17h30.Sábados, domingos e feriados das 14h às 18h, Praça Marechal Âncora s/nº - Centro (próximo à Praça XV - Rio de Janeiro – RJ.Censura: Livre.Preço: R$ 6,00. |Telefone (21) 2550-9224 e 2550-9220].

Estão isentos de pagamento (mediante comprovação): crianças até cinco anos de idade; sócios do ICOM-International Council of Museum; funcionários do IBRAM e do IPHAN; alunos e professores das escolas públicas federais, estaduais e municipais; brasileiros maiores de 65 anos; guias de turismo e estudantes de museologia.

Alunos da rede particular de ensino, portadores de necessidades especiais e seu acompanhante, e brasileiros entre 60 e 64 anos pagam a metade do valor R$ 3,00 (três reais).

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