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06/04/2012 - 09:06

Drupa, o autógrafo de Rowling e a fábula de Leonardo da Vinci

Para os arautos da derrocada do impresso ante o advento das mídias digitais pode parecer estranho que a Drupa, maior feira gráfica do mundo (de 3 a 16 de maio, em Dussoldorf, Alemanha), continue amealhando tanta atenção, público e prestígio. Reiteramos isso no grande interesse dos empresários em visitá-la e participar do estande da ABIGRAF (Associação Brasileira da Indústria Gráfica). Nosso espaço será o centro gravitacional do apoio que estamos dando aos visitantes de nosso país e dos Safáris Tecnológicos da ABTG (Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica).

Certamente, a persistente atratividade da feira alemã é coerente com o fato de, em algumas charmosas livrarias de Londres, na Inglaterra, numerosas pessoas fazerem fila para adquirir exemplares do primeiro e do segundo volume de Harry Potter autografados pela autora, J.K. Rowling, por 860 libras, ou cerca de 2,2 milreais. Nos sites internacionais de e-commerce, os melhores e mais sofisticados leitores eletrônicos podem ser comprados por 200 dólares, algo em torno de 310 reais.

Ao conjecturar sobre a bem-sucedida realização da Drupa em plena crise europeia e os preços dos livros autografados da escritora britânica serem sete vezes maiores do que os dos desejados equipamentos da moda, foi inevitável estabelecer analogia com uma primorosafábula de Leonardo da Vinci, intitulada O papel e a tinta: Certo dia, uma folha de papel que estava em cima de uma mesa, junto com outras folhas exatamente iguais a ela, viu-se coberta de sinais. Uma pena, molhada de tinta preta, havia escrito uma porção de palavras em toda a folha.

- Por que você não me poupou dessa humilhação? - perguntou, furiosa, a folha de papel para a tinta.

- Espere - respondeu a tinta -, eu não estraguei você. Eu cobri você de palavras. Agora, você não é mais apenas uma folha de papel, mas sim uma mensagem. Você é a guardiã do pensamento humano. Você transformou-se num documento precioso!

E, realmente, pouco depois, alguém foi arrumar a mesa e apanhou as folhas para jogá-las na lareira. Mas, subitamente, reparou na folha escrita com tinta, e então jogou fora todas as outras, guardando apenas a que continha uma mensagem escrita.

O grande Leonardo nasceu em Vinci, perto de Florença, na Itália, em 15 de abril de 1452. Tinha três anos de idade quando, em 1455, na cidade de Mogúncia, na Alemanha, outro talentoso e antológico protagonista da aventura humana, o germânico Johannes Gutenberg,utilizou os tipos móveis que inventara para, pela primeira vez, imprimir um livro, a Bíblia. Assim, pode-se supor que o genial italiano, na juventude, tenha se influenciado pelo fascínio que a nascente comunicação impressa passara a exercer sobre os 50 milhões de habitantes da Europa, à época. Por isso, dedicou-se também às letras, em especial às fábulas, atividade que somou ao seu riquíssimo trabalho como escultor, pintor, arquiteto, engenheiro, cientista de diversas áreas e dezenas de outras especialidades.

Ninguém melhor do que Leonardo da Vinci, em O papel e a tinta, poderia explicar com mais propriedade oporquê de um livro autografado pela escritora J.K. Rowling custar mais de dois mil reais. Ele definiu com cirúrgica precisão o valor agregado dos conteúdos impressos. Para nós, gráficos, herdeiros de Gutenberg, é muito importante entender cada vez mais a profundidade e a sabedoria contidas naquela fábula, que nos oferece a exata dimensão do significado de nossa atividade na civilização contemporânea. Tal consciência, por um lado, implica imensa responsabilidade quanto à qualidade e ao bom atendimento aos clientes e, por outro, reforça a confiança na perenidade de nossa indústria, de nossa arte!

Ou seja, se continuarmos fazendo o certo, não temos de temer a concorrência de computadores, e-books, internet, tablets e outras maravilhas da tecnologia. Tudo se soma na fantástica cadeia produtiva da comunicação, que torna o conhecimento o bem mais precioso da civilização contemporânea. Segundo outro gênio, o brasileiro Rui Barbosa, “a palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”, e sua mais inexpugnável guardiã, acrescento, é a tinta sobre o papel. Por isso, esta tem tanto valor, desde o autógrafo de J.K. Rowling, até as maiores tiragens de livros, jornais, revistas, produção de embalagens, manuais, cadernos e todos os impressos que situam o ser humano no seu tempo e lhe outorgam, quando acessíveis, sua cidadania.

.Por: Fabio Arruda Mortara, M.A., MSc., empresário, é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF Nacional) e do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (sindigraf).

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