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20/04/2012 - 11:14

Os dissensos de Cartagena

“O fato de não ter havido declaração não significa um fracasso.” As palavras do Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, definem o espírito que emergiu da 6º Cúpula das Américas, em Cartagena das Índias. Fato inédito, faltou consenso para concluir uma declaração conjunta dos 34 membros da OEA. Ao contrário do que o senso comum indicaria – que a Cúpula realmente houvesse fracassado –, uma análise sobre os temas tratados e as demandas indica o contrário. Além dos assuntosdifíceis e polêmicos na agenda, o anfitrião do encontro apontou o diálogo franco e transparente como a maior conquista da Cúpula.

Nas primeiras cúpulas (Miami, 1994, Santiago, 1998, Quebec, 2001), o comércio foi o tema mais importante das reuniões, na época em que se discutia a ALCA (Acordo de Livre Comércio das Américas). Deixou de ser, mas não por acaso: o comércio sempre foi o tema mais importante para os EUA, que faziam valer o seu poder e influência para impô-lo. Em dez anos, o cenário mudou muito: a região mostra uma nova autonomia e não aceita mais imposições. A agenda não é mais apenas dos norte-americanos.

Daí que os temas políticos ou geopolíticos dominaram os debates. Dentre eles, o combate às drogas, o narcotráfico, foi objeto de um forte questionamento da própria Colômbia, sobre a sua eficácia e pertinência. É surpreendente que países que sempre rezaram a cartilha norte-americana se recusem a dizer amém a uma estratégia que mostrou ser inócua para atacar o cerne do problema. Os EUA recusam qualquerproposta de legalização ou descriminalização, mas ela entrou no debate, surpreendentemente.

O isolamento de Cuba deixou de ter o apoio que tinha, inclusive entre os aliados dos americanos. Parece que quem está cada vez mais isolado nesse tema são os EUA. Como pano de fundo dos dissensos de Cartagena, existe uma realidade que acomete as relações interamericanas: o encolhimento da OEA como foro de debates e de decisões para a agenda regional. UNASUL, ALBA, um Brasil robusto, uma Colômbia renovada, México e América Central convulsionados pelo crime organizado, são fatos novos, que pediriam uma nova OEA. Porém, não parece haver interesse – ou fôlego – para isso.

.Por: Gilberto Rodrigues , professor do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina, foi professor visitante da Universidade de Notre Dame (EUA), doutor em Relações Internacionais pela PUC-SP, mestre pela Universidad para La Paz (ONU/Costa Rica) e pós-graduado pela Universidade de Uppsala (Suécia).

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