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24/04/2012 - 11:07

As lições do Caminho de Santiago de Compostela

As lições do Caminho de Santiago de Compostela são tantas quanto o número de peregrinos. Estas lições, em sua maioria, resultam em aprendizados individuais, mas me aventuro a afirmar que, como peregrina, algo temos em comum.

Aprendemos logo que 6 kg, entre toda nossa roupa, “enxoval”, objetos pessoais, uma lanterna e alguns alfinetes são suficientes para vivermos. Sobrevivemos com uma única refeição completa por dia. O banho, mesmo frio, é uma dádiva. Lavar roupa todos os dias é indispensável e o sono sempre chega independentemente da cama.

Nos entendemos com nossos companheiros de todas as nacionalidades falando apenas nosso idioma. O conhecimento real de nosso limite físico nos levará mais longe. O cuidado com o corpo deve ser respeitado, pois uma simples bolha no pé poderá nos impedir de seguir adiante.

O Caminho de Santiago nos propicia o exercício da solitude. A saudade sempre chega e é preciso lidar com ela. Nossos fantasminhas surgem quando estamos sós numa trilha de paisagem desconhecida, a quilômetros de casa, sem a chance de pedir colo. Aí será melhor enfrentá-los e superá-los até mesmo em voz alta.

Andei sempre acompanhada, ainda que apenas por meus entes queridos, que já se foram. Conversei com eles, perdoei e fui perdoada. Ouvi suas falas e retruques, argumentei e nos entendemos. Voltei mais leve e feliz.

Por vezes, nossos companheiros passam e nos vêem chorando, rindo, gargalhando, cantando ou falando sozinhos, e não corremos o risco de passarmos por doidos já que estas são atitudes comuns entre nós, além de um momento muito importante de autoconhecimento.

Pensamos estar desoladamente sós, mas se nos abaixarmos simplesmente para amarrar os cordões da bota, com certeza “brotará” um verdadeiro peregrino ao nosso lado para oferecer ajuda.

A solidariedade parece uma aura sobre o Caminho, e apesar de andarmos sós, nunca estamos solitários. Ao cruzarmos pelo outro aprendemos a perceber rapidamente o estado emocional dele, e assim, não sei como, sabemos se devemos nos aproximar e dar nosso apoio, oferecer o ombro ou se devemos deixá-lo seguir sozinho com seus pensamentos.

Assim aconteceu comigo. Tive oportunidade de refletir sobre minha vida e voltei mais paciente, menos agitada, mais tolerante. Como toda ação corresponde uma reação, ao mudar minhas atitudes suscitei outras reações e posso afirmar que meu convívio familiar e social mudou muito, para melhor. Muito obrigada Santiago!

.Por: Eva Slikta, membro da ACACS/SP - Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela. Participe do VI ENAP - Encontro Nacional de Peregrinos, de 28/04 a 01/05, no Centro de Convenções e Eventos de Águas de São Pedro|Inscrições: www.encontrodeperegrinos.blogspot.com

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