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26/04/2012 - 09:25

Desafios estratégicos para a carne bovina

É consenso que o setor de proteína animal em 2011 passou por um período de alta nos preços de seus produtos, impulsionado principalmente pelos incrementos nos custos dos seus principais insumos.

No setor da carne bovina especificamente, um dos pontos que chama a atenção está relacionado ao aumento dos custos de produção somado à reduzida oferta de bois prontos para o abate e o clima desfavorável para as pastagens e reprodução. Todos esses fatores prejudicaram a engorda dos animais, e contribuíram para que os pecuaristas se mostrassem receosos com a movimentação do mercado. Assim, esta carência de bois pressionou a alta dos preços da carne bovina no mercado interno em 2011, e com isso pudemos vivenciar os maiores preços dos últimos anos.

Dentro deste contexto, outro fenômeno que mereceu atenção foi o aumento do abate de fêmeas. Segundo estatísticas do IBGE e conforme pode ser visto na figura abaixo, de janeiro a setembro o número de abates de vacas foi 17% maior do que no mesmo período de 2010. Concomitantemente, o abate de bois diminuiu 7%, o que pode ser interpretado como um indício de que a margem de lucro apertada pode estar forçando produtores a abaterem suas fêmeas a fim de manter a viabilidade econômica do negócio. Esse é um comportamento característico do ciclo pecuário brasileiro, em que o abate de matrizes resultará numa menor produção de bezerros culminando na menor oferta de bois e o consequente aumento nos preços.

Mas apesar dessa falta de animais e dos altos custos que sustentaram os preços da arroba em um nível mais elevado, o mercado interno esteve aquecido pela demanda crescente. Impulsionado pela parte da população que, ao ter sua renda média aumentada, elevou seus gastos com alimentos de maior valor como a proteína animal, o consumo per capita anual de carne bovina no Brasil apresentou um crescimento de 3,3% nos últimos quatro anos. Em 2008 cada brasileiro consumia em média 36,9 Kg / ano, e em 2011 esse consumo passou a ser de 38,1 Kg / habitante / ano em média.

Focando agora no comércio exterior da carne bovina, de acordo com estatísticas do SECEX / MDIC, o setor vivenciou em 2011 uma diminuição de 11% no volume exportado influenciado por fatores como problemas políticos em alguns países do Oriente Médio e o embargo às carnes promovido pelo governo russo. Se por um lado estes problemas afetaram a quantidade de carne bovina exportada, por outro levaram os frigoríficos brasileiros a buscar a ampliação da sua gama de compradores: para citar um exemplo, em 2011, o Chile importou o dobro do volume de carne bovina comprada do Brasil 2010, se tornando o 6º principal mercado do produto brasileiro.

Porém, essa diminuição no volume embarcado foi compensada pelo aumento de 11,5% nos valores obtidos com o comércio exterior, incremento impulsionado principalmente pela tendência altista dos preços da arroba do boi gordo. Ainda em relação ao valor total das exportações de carne bovina, é importante notar que o maior crescimento em receita foi proveniente da carne industrializada, com 23,5% em relação a 2010, enquanto para a carne in natura este ganho foi de apenas 8%.

Assim, o comércio internacional deve continuar a influenciar na dinâmica da cadeia produtiva da carne bovina em 2012, principalmente no que se refere ao consumo interno dos países europeus, que passam por uma grave crise econômica, e dos Estados Unidos, que ainda sentem os efeitos da recessão de sua economia desde as turbulências financeiras de 2008. Dados do USDA demonstram que no período de 2008 a 2012, enquanto o consumo total de carne bovina do Brasil deve crescer a uma taxa anual média de 2,1%, haverá uma diminuição de 1,4% ao ano no consumo europeu e de 2,6% ao ano na quantidade de carne bovina consumida pelos Estados Unidos. Esse movimento pode ser visto com clareza no gráfico abaixo:

Assim, em 2012, com toda a incerteza inerente à economia dos países desenvolvidos, principais mercados consumidores da nossa carne, os frigoríficos brasileiros deverão voltar seus olhos novamente para os países do Oriente Médio, que passam por um período menos turbulento em suas economias, e a novos compradores que possam abrir mercado ao produto nacional.

Outra boa perspectiva para a cadeia produtiva da carne é preencher as lacunas que deverão ser deixadas pelos Estados Unidos, maior produtor mundial, e que tem vivenciado uma profunda crise em seu setor de pecuária de corte. Depois de altos índices de abate de fêmeas e períodos de seca nos últimos anos, os dados do USDA indicam que o rebanho bovino do país atingiu seu menor nível nos últimos 60 anos. Caso o Brasil consiga ter acesso aos mercados atualmente atendidos pela produção norte americana, este feito poderá ser considerado um notável avanço do setor, já que os países com os quais o país comercializa, como Japão e Coréia do Sul, ainda não estão entre os países consumidores da carne brasileira. Esses países possuem um alto grau de exigências com relação à importação de carnes, o que de certo modo seria benéfico para o Brasil ao estimular a profissionalização do setor atingindo níveis mais altos de qualidade.

Concluindo, existem diversos pontos favoráveis à pecuária bovina brasileira: o país, dentre os principais produtores de carne bovina, atualmente é o que tem demonstrado maior disponibilidade de recursos para a ampliação de sua produção e consumo interno, porém, para tanto, ainda é necessário melhorar alguns aspectos que freiam o desenvolvimento de sua cadeia produtiva, quais sejam a baixa integração entre produtores e indústrias, os altos encargos tributários, a falta de profissionalização na gestão das propriedades e problemas sanitários.

Alguns avanços já vêm ocorrendo: pesquisas recentes tem demonstrado a intenção dos pecuaristas brasileiros em aumentarem a prática do confinamento em 2012 em cerca de 15%, segundo a ASSOCON - Associação Brasileira dos Confinadores. Dessa forma, espera-se contornar fatores de risco, como problemas na qualidade das pastagens e diminuição das terras utilizadas pela a pecuária. Este tipo de tendência é um bom sinal de amadurecimento do setor, porém não se deve esquecer que o Brasil ainda deve trabalhar muito sua imagem até ser reconhecido no mercado de carne bovina por causa da qualidade e competitividade de seus produtos.

.Por: Rafaela Ponce, bacharel em administração rural pela UNESP/Jaboticabal e analista do centro de inteligência em agronegócios da PwC, e, Vanessa Nardy, bacharel em economia pela FEA-RP/USP e analista sênior do centro de inteligência em agronegócios da PwC.

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