Volvo já testa na estrada carros sem motorista

Sistema experimental Sartre permite que motorista escolha se quer ou não dirigir em rodovias, aumenta segurança e ajuda meio ambiente.

São Paulo - Imagine pegar uma estrada e não precisar acelerar, frear ou mesmo controlar o veículo. Essa é a proposta do projeto Sartre (Safe Road Trains for the Environment), que fez o primeiro teste de comboio rodoviário em auto-estradas abertas. Três veículos da Volvo e um caminhão, todos adaptados com os equipamentos do sistema, participaram da experiência.

Os carros sem motorista eram controlados automaticamente, seguindo um veículo líder e interagindo sem acidentes com os demais automóveis da rodovia, desprovidos do sistema e alheios ao comboio. O teste pioneiro, realizado na Espanha, foi um sucesso.

Os veículos de teste do projeto Sartre – uma parceria entre Ricardo UK Ltd., Applus+ Idiada, Tecnalia Research & Innovation, Institut für Kraftfahrzeuge Aachen (IKA), SP Technical Research Institute, Volvo Technology e Volvo Car Corporation – estão apresentando progressos. O mais importante passo foi dado no mês passado, em uma rodovia próxima a Barcelona – o primeiro teste já feito do comboio remoto em uma rodovia com outros carros. “Nós rodamos 200 quilômetros em um dia, e o teste terminou bem. Estamos realmente muito satisfeitos”, explica Linda Wahlström, gerente do projeto Sartre para a Volvo Car Corporation.

O comboio rodoviário consiste em um carro líder, dirigido por um piloto profissional, seguido por um certo número de carros. Desenvolvidos pela Volvo Car Corporation e com todas as tecnologias de segurança existentes – incluindo equipamentos como câmeras, radares e sensores a laser, os veículos monitoram o carro líder e, também, todos os outros ao redor. Por meio de sistemas de transmissão wireless, os veículos do pelotão imitam o carro líder, usando o sistema autônomo de controle da Ricardo UK Ltd.– que acelera, freia e faz curvas automaticamente.

Conforto e liberdade -O projeto busca aumentar o conforto para o motorista, que pode usar o tempo para fazer outras coisas, em vez de dirigir. Pode trabalhar em seu laptop, ler um livro ou mesmo ir para o banco de trás e relaxar durante o trajeto.

Naturalmente, o projeto também busca ampliar a segurança no trânsito, reduzindo o impacto ambiental – com velocidades mais lineares – e reduzindo a possibilidade de engarrafamentos.

Um carro líder e quatro veículos remotos – um Volvo S60, um V60 e um XC60, bem como um caminhão – fizeram um comboio histórico na Espanha.

“Andar junto a outros carros é um grande marco em nosso projeto. Foi realmente emocionante”, explica Linda Wahlström. Os veículos andaram a 85 km/h. O espaço entre cada veículo foi de apenas seis metros. “Durante nossos testes, em circuitos fechados, nós testamos espaços entre cinco e quinze metros.”

Rápida adaptação -Sentar em um carro que está a apenas seis metros atrás de outro, rodando a 85 km/h, confiando apenas na tecnologia, pode parecer um pouco assustador, mas as experiências feitas até agora mostram que as pessoas se adaptam muito rapidamente.

O projeto Sartre está em operação desde 2009. No total, os veículos já rodaram cerca de 10 mil quilômetros. Após o teste em estradas abertas da Espanha, o projeto entra agora em nova fase, em que o foco é a redução do consumo de combustível.

“Nós aprendemos muito durante esse período. As pessoas pensam que um carro sem motorista é ficção científica, mas, de fato, essa tecnologia já é possível”, diz Linda Wahlström. “Do ponto de vista puramente conceitual, ele funciona bem e podemos dizer que o comboio rodoviário será muito próximo a isso, no futuro.” Segundo ela, houve grande esforço para modificar o mínimo possível os sistemas já existentes. “Tudo deve funcionar sem acarretar mudanças nas estradas, ou depender de componentes de alto custo nos carros.” Linda explica também que, além do software desenvolvido para o projeto, só a rede wireless instalada entre os carros os fazem diferentes de outros vendidos nas concessionárias atualmente.

O projeto Sartre-Criado em parte pela Comissão Europeia sob o programa Framework 7, o Sartre é liderado pela Ricardo UK Ltd. e tem a colaboração de outras companhias: Idiada and Tecnalia Research & Innovation, da Espanha, Institut für Kraftfahrzeuge Aachen (IKA), da Alemanha, e SP Technical Research Institute, da Suécia, bem como a Volvo Car Corporation e a Volvo Technology.

O Sartre busca encorajar uma mudança na forma de uso do transporte pessoal, por meio de comboios rodoviários seguros. Os sistemas estão sendo desenvolvidos como protótipos que permitirão a adoção segura dos comboios rodoviários em pistas sem nenhuma alteração, com total interação com os demais veículos. O projeto é ancorado por três pilares do transporte: meio ambiente, segurança e redução de congestionamentos. Os objetivos são os seguintes: .Definir um conjunto de estratégias de comboio aceitáveis, que permitam que esse sistema funcione nas atuais rodovias, sem alteração da pista, ou dos elementos que a circundam.

2.Aumentar, desenvolver e integrar tecnologias para um sistema de testes, que possa servir como balizador de ações em um cenário real.

3.Demonstrar como o uso dos comboios pode ser agregador para o meio ambiente, para a segurança e para a melhoria do tráfego.

4. Apresentar como um novo modelo de negócios pode ser usado para encorajar o uso de comboios, com benefícios para os operadores dos veículos líder e para os participantes do comboio.

Se tiver sucesso, os benefícios esperados para o Sartre são significativos. A redução de consumo rodoviário com esse tipo de operação é estimada em 20%, dependendo logicamente do tamanho do veículo e de suas capacidades.

Os benefícios na segurança vão aparecer na redução de acidentes causados por erros e cansaço. O uso total da capacidade de uma rodovia também será ampliado, permitindo redução do tempo de viagem. Para os usuários da tecnologia, as atrações práticas são uma viagem mais suave, confortável e barata, que ainda oferece a possibilidade de o motorista ter mais tempo livre. O projeto Sartre começou oficialmente em setembro de 2009 e foi projetado para durar três anos. [http://www.sartre-project.eu].