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05/06/2012 - 09:52

A Força de uma rede – de empreendedores sociais

Quero falar aqui do papel descisório de cada um dos líderes participantes de redes de empreendedores sociais. Qualquer que seja ela, Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, Ashoka ou Fundação Schwab. Acho importante ponderar sobre a força de uma rede na construção das boas práticas para aceitar investimentos financeiros.

No voo de volta do Fórum Econômico do México 2012, estava com uma grande dúvida: o Projeto Cies (Centro de Integração de Educação e Saúde) ainda é novo, tem cerca quatro anos de existência, e temos crescido também três a quatro vezes.

Está na hora de aceitar investimentos financeiros de outras instituições? Aqui entro no tema de meu artigo.

Com nosso desenvolvimento, recebemos algumas propostas de investidores sociais, muitas vezes na forma de investimento de impacto social como, por exemplo, equity capital, onde a pessoa entra na empresa como investidor e participa do board do Conselho. Diferentemente de um patrocinador ou apoiador, esse novo integrante participa praticamente igual a um sócio e, muitas vezes, isso começa a ter que mudar a composição deste mesmo Conselho.

Tal mudança no corpo de conselheiros gera certo perigo nas decisões. Muitos dos investimentos de equity são em torno de 20%. E, de acordo com o crescimento, a maioria quer fazer com que a empresa um dia chegue a ter capital aberto, chamado EPO, ou seja, vender as ações dentro das empresas e mercado de ações. Quando começa a acontecer isso, claro, cresce o projeto. Porém, devemos ficar muito alertas com nossa missão. Porque em todo crescimento temos que ter em o foco de nossa missão para não nos perdermos depois.

Voltando à minha poltrona do avião, onde divagava sobre o encontro no México, lembrei do primeiro jantar do fórum, organizado pela Schwab. Lá conhecemos Vikram Akula, fundador do SKS Microfinance, o maior banco de microcrédito da Índia. Ele montou toda uma organização sem fins lucrativos de microfinanças ajudando mulheres da região. Chegou a ter 7 milhões de clientes. Entre eles, começou a existir inadimplência de algumas mulheres.

Então, já com o investimento financeiro que mudou o Conselho, os agentes da SKS foram orientados a cobrar estas mulheres de forma rígida. Para pagar a dívida, algumas prostituíram as filhas, outras, a si próprias. Isso foi acontecendo até chegar ao ponto de uma das mulheres ter cometido suicídio.

Vikram tomou conhecimento do fato e foi conversar com parte do board para rever a cobrança. Em nossa conversa no México, ele confidenciou: “Disseram, olha, não é bem assim, você que está saindo do foco”. Chegaram inclusive a convidá-lo a sair do projeto. Ou seja, o empreendedor, que foi o idealizador, criador da SKS, acabou saindo do projeto. Esse depoimento corajoso me levou a voltar para o Brasil pensando no Cies e no que estava por vir uma vez que já recebemos diversos convites de investimentos.

Quando falamos de rede, considero muito importante começarmos a discutir –como grupo— estes tipos de investimentos sociais. Se são perigosos ou não, qual o tipo de investimento pode ser seguro para nossa missão? Devemos criar marcos que possamos averiguar até que ponto vale à pena tais mudanças administrativas. Quais devem ser as características do investidor social para podermos aceitar um investimento? Que medidas devemos tomar para proteger o andamento da organização em sua missão.

Precisamos criar marcos e espectros legais que nós, como rede, poderemos então fazer práticas de boa gestão, de atendimento e, até mesmo, para identificar qual o investidor social que queremos eleger para compor nossa organização.

Esses pensamentos se juntam como quebra-cabeças para mim, pois, logo que retornei do fórum, fui visitar um projeto altamente social, com 25 anos de vida: o projeto do dr. Eugênio Scannavino e do Caetano Scannavino, o Saúde e Alegria.

É um projeto em que o seu mentor, Eugênio, um grande médico -quero relatar aqui que sou muito fã dele– coloca a importância de manter o foco e de transformar ações sociais em políticas públicas.

Muitas vezes eu vejo que tais transformações têm uma tendência à atingir o governo para que ele possa distribuir essas políticas para toda a população. Talvez seja o caminho.

Então, será que esse é o único caminho? Ou devemos ter outros tipos de ações, como, por exemplo, o que estamos conversando, sobre negócio social, sobre empresas sociais? Então, qual seria o melhor marco? Essas são questões que quero compartilhar com vocês.

Visitei e recomendo a todos conhecerem o Saúde e Alegria, assim como o Ipê -de Suzana e Claudio Padua. Ambos projetos com muita experiência e creio que devam ser visitados por empreendedores e, quem sabe, começamos a discutir uma boa prática para saber quais são os limites e quais são as características de investidores sociais que queremos, como nos aproximarmos deles, como ter critérios e estarmos unidos para que possamos não transformar uma empresa social em uma empresa lucrativa, como o próprio Vikram colocou.

Esta é minha contribuição. Acredito que devemos ter uma rodada de discussões para criarmos manuais sobre investimentos em nossos projetos.

. Por: Roberto Kikawa, médico, é idealizador do Projeto CIES (www.projetocies.org.br) e membro fundador da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais

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