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06/06/2012 - 10:59

Abuso infantil: marcas que ficam por toda a vida

Recentemente, Xuxa declarou um episódio de sua infância que gerou grande repercussão. A apresentadora relatou que foi abusada sexualmente quando criança, e sua declaração foi muito comentada. Algumas pessoas chegaram a criticá-la, outras a apoiaram.

Refletindo sobre a situação, creio que valha a pena me manifestar mais sobre a repercussão, do que sobre o conteúdo da mensagem em si. Isso porque nos dias que se seguiram à declaração houve um número recorde de denúncias de abuso infantil. Infelizmente, isso nos mostra como o tema está mais presente na vida cotidiana do que podemos imaginar.

A situação de abuso é certamente delicada, principalmente quando ocorre dentro da própria casa da vítima. O comportamento da criança tende a mudar, ficando mais arredia ou mesmo assustada. Os pais devem manter sempre um diálogo aberto com seus filhos, independente da possibilidade de abuso ou não. Manter o diálogo franco e a presença constante na vida da criança, faz com que fique mais fácil identificar as pequenas mudanças, conseguindo assim descobrir com mais facilidade o que acontece com ela.

Caso os pais percebam que a criança está agindo de uma maneira diferente, com comportamentos “estranhos” ao usual, é recomendado procurar a ajuda de um especialista, um psicólogo. É importante reiterar a gravidade do abuso infantil, que pode deixar marcas severas na criança. Mesmo que estas marcas não se mostrem em aparente gravidade, certamente se farão presentes ao longo de seu desenvolvimento e da vida adulta.

Uma criança que sofre abusos sexuais acaba marcada pelo evento. Pode vir a esquecer, lutar contra as memórias ou até fingir que nada aconteceu, mas as marcas permanecerão. Existencialmente, o abuso está ali e a criança se torna uma criança abusada, que invariavelmente cresce se tornando um “adulto abusado”. Isto quer dizer que o abuso permanece em parte do modo como este adulto vai realizar sua existência, que acaba marcada por uma constante reprodução do abuso.

Quando me refiro a uma reprodução do abuso, quero dizer que nas relações que este adulto vai estabelecendo em sua vida, invariavelmente acabará na posição daquele que é abusado, seja moralmente, seja fisicamente, seja no emprego, com amigos ou em relacionamentos.

Por isso, esquecer ou fingir que o abuso não aconteceu não é uma boa opção. O caminho, por mais duro que seja é se aprofundar nesta história, se apropriar da própria história para poder dar um rumo diferente para a sua existência. Este caminho de apropriação da própria história só é possível com a ajuda de um processo terapêutico.

A importância do relato de Xuxa foi chamar a atenção para este fato. Sua consequência foi inúmeras denúncias. Com o tempo, quando o assunto sair dos holofotes da mídia, o número de denúncias deve voltar a cair. Mas não podemos nos esquecer que o abuso sexual infantil existe e que continuará presente na sociedade. Aos pais, resta a sensibilidade para observar os filhos e tratar o assunto de maneira adequada, sempre amparados por uma ajuda profissional.

.Por: Vitor Sampaio, psicólogo, pós-graduado em psicologia clínica e mestrando da linha de Fenomenologia-Existencial.

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