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28/06/2012 - 08:33

O lado desconhecido de Carlos Drummond de Andrade

Lançamento da Flip, livro reúne 50 anos de correspondência entre o poeta e o escritor Cyro dos Anjos. Inéditas, 163 mensagens revelam um Drummond imprevisível, irônico: contextualizam personagens, a produção cultural e o cenário político do século 20 **Nas livrarias a partir de 04 de julho**.

O Carlos antes de ser Drummond, ainda poeta estreante, o Cyro anterior a O amanuense Belmiro. O Carlos funcionário público, já poeta prolífico, pai, marido e crítico espirituoso. O Cyro memorialista, viajante e também não menos crítico. Intimidades, trajetórias muito particulares, as andanças profissionais e o lado menos óbvio e conhecido dos dois escritores são revelados agora – 25 anos após a morte de Drummond – em Cyro & Drummond – correspondência de Cyro dos Anjos e Carlos Drummond de Andrade, com organização, prefácio e notas de Wander Melo Miranda e Roberto Said, lançamento da Biblioteca Azul para a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) 2012, em que Drummond é o escritor homenageado.

A obra reúne documentos originais da Fundação Casa de Rui Barbosa e do Acervo de Escritores Mineiros, da Universidade Federal de Minas Gerais. Mostra cartas, bilhetes, postais e telegramas que expõem abertamente, como numa conversa de confidentes, as angústias dos escritores diante do destino incerto reservado aos que se arriscam à carreira literária em um país periférico, as estratégias e os percalços experimentados no serviço público. Por isso, não escapam as agitações políticas de um período pautado pelo acirramento do debate ideológico e das efervescências no Brasil e no mundo: Estado Novo, Segunda Grande Guerra, Modernismo. Suas vidas e suas cartas são atravessadas pelo fervor e, sobretudo, pelas incongruências de tempos revolucionários.

O livro deixa clara a intimidade de ambos, fato que permite que opinem sobre outros escritores como Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos. Encontra-se em Drummond um leitor voraz, emitindo sem rodeios juízos de valor sobre o que se produzia a seu redor. Amparado no fio da confiança, traçado entre compadres, o poeta assume o papel de crítico ferino dos regionalistas, estabelecendo as linhas divisórias de suas preferências e, sobretudo, de suas antipatias literárias. Porém, também nesse terreno, a reflexão artística e metalinguística parece dar ensejo ao debate político, afinal, como desabafa Drummond: “Nascemos todos incapazes para a política, mas fadados a sofrer no lombo suas transformações.”

Nos textos, aparecem também as inquietações típicas de uma geração rural, que se casou cedo, mas que passou a vida em um contexto urbano de progressiva abertura e liberdade. Não apenas os projetos e impasses pessoais, mas da literatura de ambos, aquela produzida na esteira dos diversos modernismos brasileiros em meados do século 20. E é precisamente nesse campo que a publicação das cartas faz sentido para além do simples voyerismo.

Trecho de carta de Drummond -“O arraial das letras anda muito alvoroçado com os últimos produtos do engenho nordestino, que são uma tragédia da Raquel, onde os personagens se matam a metralhadora em cena aberta, e o romance do Zé Lins, que teve a habilidade de descobrir novos palavrões, ou novas acepções dos antigos para ornamentar a sua produção tão límpida (a publicação no Cruzeiro será expurgada). O livro da Raquel, pelo menos, tem o mérito de uma linguagem saborosa, mas falta-lhe qualquer resquício de interesse psicológico, pois a alma de Lampião e de seus cabras é tão elementar como a do Zé Lins. Já o livro deste lucraria em arte se fosse escrito pelo próprio Lampião. O que me impressiona verdadeiramente, depois de tantos anos de residência no Rio e de conhecimento da turma, é o entusiasmo causado por qual quer produto daquela região, que faz noticiaristas e críticos avulsos babarem de gozo, enquanto o mais absoluto silêncio envolve uma obra do quilate do Romanceiro da Inconfidência, da Cecília. É exato que, no caso desta, se trata de dama difícil, mas ao menos em homenagem à beleza, que é evidente até para os calhordas, eles deviam cair de queixo diante dela.”

Os organizadores -Wander Melo Miranda é professor titular de Teoria da Literatura na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). É autor de Corpos escritos e Nações literárias, entre outros. Roberto Said, também professor de Teoria da Literatura na UFMG, é autor de Angústia da ação: poesia e política em Drummod e Margens teóricas: memória e acervos literários.

Outras obras sobre Drummond publicadas pela Globo Livros. Os sapatos de Orfeu – José Maria Cançado (biografia).Dossiê Drummond – Geneton Moraes Neto (livro-reportagem).

Coleção Cyro dos Anjos publicada pela Biblioteca Azul.O amanuense Belmiro.A menina do sobrado.Abdias.Poemas coronários.

Cyro & Drummond – correspondência de Cyro dos Anjos e Carlos Drummond de Andrade | Autores: Carlos Drummond de Andrade e Cyro dos Anjos | Organização, prefácio e notas: Wander Melo Miranda e Roberto Said | 328 Páginas |Gênero: Cartas |Formato: 14 cm x 21 cm |ISBN: 978-85- 250-5219-3 |Preço: R$ 49,90|Editora: Biblioteca Azul.

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