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14/07/2012 - 09:52

As barcas da esperança


Se, como diz o ditado, a esperança é a última que morre, devemos apostar que a mudança de controle na concessionária Barcas S/A trará rápidas melhorias aos serviços. Da mesma forma, continuemos a acreditar que a auditoria determinada por Lei estadual no final do ano passado lance luz sobre os problemas na operação da empresa.

Prevista em emenda à Lei 6.138 de dezembro de 2011, a auditoria tinha prazo de 120 dias para apresentar conclusões, mas já se passaram quase 200 dias desde então sem que qualquer relatório tenha sido apresentado.

A mesma Lei previa o aumento de tarifas, que foi imediatamente efetivado. Ou seja, se a auditoria foi a “moeda” usada para aprovar o reajuste na Assembleia Legislativa, uma vez que inserida como emenda, ficou faltando ao Poder Público devolver o “troco” aos usuários.

A mudança de controle, concluída em junho, fez com que o Grupo CCR - que administra rodovias - assumisse 80% do capital da concessionária, por R$ 72 milhões. É cedo para cobrar mudanças expressivas, mas o mínimo que se pode esperar é respeito aos horários e à segurança.

Para tanto, não são necessários projetos complexos ou vultosos investimentos. E são justamente as reclamações mais recorrentes dos passageiros, ao lado falta de orientações quando ocorrem atrasos e panes.

Não custa lembrar que os serviços das Barcas S/A, tanto na Baía de Guanabara, quanto nas ligações de Angra dos Reis e Mangaratiba para Ilha Grande, seguem como campeões de reclamações – rivalizando com os da Supervia, concessionária ferroviária do Grande Rio.

Isso significa que a auditoria deve não apenas verificar aspectos gerenciais, fator que a motivou, como aferir a atuação da agência estadual de transportes (Agetransp). Afinal, o fato de Barcas, Supervia e Metrô serem objetos de tantas queixas é um claro sinal de que a regulação desses serviços concedidos têm deixado a desejar.

A capacidade das barcas hoje está estacionada em 100 mil passageiros/dia, o mesmo que há três décadas. O principal argumento para a concessão da então estatal CONERJ ao setor privado, em 1998, transformando-a em Barcas S/A, era justamente o aumento da capacidade.

Esse aumento implicaria investimentos na ampliação e na melhoria de terminais, algo que não ocorreu na medida esperada, bem como na modernização e renovação da frota. Noticiou-se que a concessionária sequer conseguiu aplicar parte expressiva dos recursos que obtivera no BNDES, um montante de R$ 80 milhões, ou equivalente a 43% do financiamento aprovado.

As embarcações estão ultrapassadas. Hoje, a frota, com idade média de 26 anos, é mais onerosa e menos segura. Os investimentos na qualificação das tripulações tampouco foram feitos na medida do necessário. Os reiterados incidentes são prova dessa omissão. Num grave acidente, em 2008, em Paquetá, 25 pessoas ficaram feridas. Uma CPI foi instalada na Assembleia, constatando o óbvio: faltam investimentos.

O diagnóstico não se transformou em ação. O transporte marítimo é o mais fácil de ser implementado no Grande Rio, a baixo custo. Paradoxalmente, é o mais negligenciado – como apontam as reclamações dos usuários. Mas, como dito de início, a esperança é a última que morre.

.Por: Severino Almeida, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos, na Pesca e nos Portos (CONTTMAF) e presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (SINDMAR).

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