O papel do carisma e da liderança do fundador nas Empresas Familiares

Em comemoração ao 30º aniversário da rede televisiva SBT, o fundador Silvio Santos realizou um discurso abordando temas importantes sobre seu negócio. Durante sua fala, o empresário relatou a trajetória da empresa, sua história de vida e a mentalidade empreendedora, que o fez passar de camelô a banqueiro.

Na ocasião, Silvio Santos destacou o papel da perseverança e da luta pelos objetivos, além da importância que as dificuldades e os desafios representam para o aprendizado. “Só não consegue o seu objetivo (...) quem acredita que as coisas são fáceis”, declarou. “Todas as coisas são difíceis, todas as coisas têm que ser lutadas. Quando você consegue uma coisa fácil, desconfie. Porque ela não é tão fácilquanto parece”.

A história do fundador, e um dos ícones mais populares da televisão brasileira, é sustentada pelos quatro pilares que norteiam as ações do fundador e respaldam o crescimento das empresas familiares, a saber: Palavra/Credibilidade, Perseverança, Carisma/Liderança e Cultura. Estes são os parâmetros que direcionam comportamentos e atitudes do empreendedor e, deveriam ser assimilados por seus herdeiros/sucessores, na consecução dos objetivos e metas corporativos.

Manter esse diferencial faz com que as empresas familiares se destaquem frente às demais, posto que os valores impressos pelo fundador na cultura organizacional tornam a empresa única. Geralmente, a imagem que a própria organização apresenta frente ao mercado, está diretamente relacionada à personalidade do fundador. Para dar continuidade a essa imagem, o sucessor deve, além de ser capacitado ao cargo que irá assumir, compreender a importância da cultura e dos valores implantados na empresa.

Transferir essas características às próximas gerações é o ponto chave para garantir a perpetuação da empresa familiar. Por esse motivo, a presença do fundador, como fonte de conhecimento, é essencial no processo sucessório. Ele é quem deve indicar a pessoa mais preparada para seguir o modelo de gestão, a ser implementado por um membro da família, ou não. Além disso, a proximidade do fundador auxilia a segunda geração na adoção de sua postura empresarial, já consolidada no mercado.

Compreender e incorporar essa cultura, principalmente por meio das atitudes adotadas pelo fundador frente aos sucessos e insucessos, permite a perpetuação de um modelo de gestão empresarial. A cultura organizacional é um conjunto de posicionamentos que se traduz em seus valores ou crenças fundamentais e em sua postura diante de funcionários, do mercado e da comunidade em que esta unidade de negócios está inserida.

No que tange a fundação e trajetória de uma empresa familiar, a cultura e, consequentemente, as bases que sustentam os negócios são reflexos diretos dos valores cultivados no lar e que são transportados para as corporações. Quando a família está envolvida na empresa, esses padrões dependem fortemente dos processos emocionais dos familiares.

Para poder desenvolver o processo de profissionalização e uma sucessão eficaz, é necessário fazer uma análise profunda sobre a cultura da empresa e as interveniências dos valores da família na organização, a saber: toda cultura tem seus valores relacionados a dinheiro, o poder, o prazer, o êxito e a eficácia – é imprescindível entender como a família assume tais valores e os transporta para o dia-a-dia na empresa; a cultura em uma empresa é refletida na forma como a mesma conduz sua estratégia, define sua estrutura de responsabilidades e estabelece seus sistemas de direção, e suas forças mais básicas são a unidade e o compromisso dos integrantes da família que trabalham na empresa – se houver conflitos desagregadores ou disputas pelo poder, a empresa começará a perder competitividade.

A tarefa do fundador é desenvolver uma ideologia estável e coerente. Essa é a base para a construção de uma sólida hierarquia de valores que nortearão as gerações futuras e perpetuarão os negócios familiares. O carisma e a liderança, fortemente presentes na figura do apresentador Silvio Santos, não serão transferidas, mas sim conquistadas pelos sucessores no convívio com o patriarca. A palavra, a credibilidade, a perseverança, a liderança e o carisma foram os pilares de apoio na formação do negócio, formando a cultura empresarial.

.Por Domingos Ricca, sócio-diretor da Ricca & Associados Consultoria e Treinamento e da Revista Empresa Familiar. Consultor especializado em empresas familiares. Certificado em Governança Corporativa pela SQS Suíça e Fundação Vanzolini. É PhD em administração, professor de graduação e pós-graduação e autor de livros sobre assuntos de empresas familiares.