Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

25/07/2012 - 09:32

Uma janela de oportunidade: não podemos perder

Muito tem sido escrito e dito com respeito à desvalorização do real em relação ao dólar, nos últimos dias, mesmo porque o Governo tem trabalhado neste sentido e a situação econômica na Europa tem ajudado. Diante disso, muitos têm perguntado quais serão as consequências do dólar a R$ 2, porém, sem perceber que a moeda brasileira continua sobrevalorizada.

A realidade é que o dólar cotado a menos de R$ 1,60, como vimos há algum tempo, foi desastroso e mostrava uma valorização aproximada de 40% de nossa moeda, ou seja, mais um de nossos ‘recordes’. Tivemos a moeda mais valorizada do mundo, assim como a maior taxa de juros, claro que um como consequência do outro.

Metade desta distorção do câmbio já foi corrigida. O Ministério da Fazenda e o Banco Central têm tido muita inteligência em não deixar o dólar oscilar com muita velocidade. De pouco em pouco, chegaremos a ter um real no ponto de equilíbrio correto em relação às moedas internacionais, ou seja, algo aproximado de R$ 2,49 por dólar.

O Governo está, muito corretamente, vendo a “janela de oportunidade” atual para recolocar nossa moeda e os juros no Brasil no ponto correto, sem nenhum risco de reativar o ‘dragão da inflação’. Os juros nos principais países estão extremamente baixos (zerados e até negativos em termos reais) e a recessão ou baixíssimo crescimento é o que se vê ao redor do mundo. Finalmente, os preços das commodities estão em queda, assim como a demanda por nossos produtos exportáveis. Ou seja, agora é a hora de se fazer as correções necessárias e o governo brasileiro já percebeu isso.

Temos que acordar para a realidade dos números e não nos deixarmos levar pela falsa ideia de que o dólar a R$ 2 seria suficiente para tratarmos o problema da desindustrialização. Este dólar simplesmente está mantendo o paciente (a indústria) vivo na UTI. O que precisamos é de uma indústria minimamente saudável, o que somente será atingido, com um dólar mínimo a R$ 2,49. Esse valor leva em consideração uma base histórica média de câmbio de equilíbrio, assim como o diferencial de inflação entre Brasil, Estados Unidos e China (nosso principal concorrente quando se fala de produtos industriais), e deduzindo um ganho de produtividade médio de 10 a 15% havido na indústria brasileira nos últimos 10 anos.

Tem faltado no Brasil um planejamento de longo prazo, que norteie os investimentos no País. A análise do gráfico abaixo nos dá muita luz neste assunto. Este gráfico mostra o crescimento do PIB brasileiro, do PIB industrial total e per capita, nos vários períodos, desde 1956. O gráfico foi ajustado por médias, eliminando os “picos e vales”, para facilitar o entendimento. Fica, assim, fácil notar que no período Juscelino Kubistchek a indústria brasileira cresceu 17,5% ao ano. E no período do governo militar, ao menos até 1980, a indústria brasileira cresceu numa média de 10,5% ao ano, e por 15 anos seguidos. E o que se viu a partir daí? Crescimento pífio, estagnação ou até decrescimento industrial. A década de 1980 foi perdida, ou seja, com crescimento anual de 3,5% na sua primeira metade e decréscimo dos mesmos 3,5% ao ano no Governo Sarney. O Governo Collor foi muito atribulado e foi o início da importante e necessária abertura às importações, mas que terminou com um pequeno crescimento industrial. E a falta de um planejamento e de qualquer incentivo para a indústria levou aos períodos dos Governos FHC e Lula mostrarem um crescimento ridículo do PIB industrial (1,5% ao ano, nos dois períodos).

Assim, desde 1980 a indústria brasileira vem sofrendo de uma combinação muito perigosa de falta de planejamento e estratégia governamental, ausência de investimento em infraestrutura, longos períodos de juros extremamente altos, e vários períodos de moeda sobrevalorizada (a valorização artificial da moeda brasileira tem sido frequentemente usada como forma de combate à inflação).

O PIB industrial per capita cresceu vigorosamente até o início da década 1980, para logo em seguida cair radicalmente e nunca mais se recuperar. Nos últimos 16 anos, de FHC e Lula, tivemos um crescimento vegetativo de 1,5% no PIB industrial, uma vergonha para um país com uma estrutura industrial tão diversificada como o Brasil.

A Presidente Dilma recebeu o país com uma combinação ainda mais explosiva para a indústria nacional: moeda extremamente sobrevalorizada, juros extremamente altos, estrutura tributária caótica e uma infraestrutura velha e insuficiente. Desfazer este nó não será tarefa simples, mas este governo tem, justamente agora, uma excelente “janela de oportunidade” para corrigir as variáveis do câmbio e dos juros.

Muitos têm criticado o baixo crescimento da indústria no início de 2012, mas o mais preocupante é a análise histórica dos últimos 16 anos, com um crescimento médio anual de 1,5%. A economia no Governo Lula foi beneficiada pela grande demanda e preços de nossas commodities exportáveis, mas não podemos achar que a solução para nosso país seja a repetição de ciclos de exportação de commodities, como o ciclo do café, do açúcar ou da borracha. Todos estes ciclos tiveram um fim muito triste para nossa história econômica e não queremos uma repetição.

A análise do crescimento econômico e industrial do governo Kubistchek e, principalmente do governo militar, mostra grande semelhança das políticas adotadas, com o plano econômico traçado há 25 anos na China, justamente na década de 1980, quando começou nossa estagnação. O plano econômico chinês de incentivo à indústria exportadora para criação de empregos para uma vasta população subempregada ou desempregada é muito semelhante às ideias implantadas aqui no final da década de 1960 e na década 1970. Em suma: câmbio desvalorizado, juros baixos para a produção, incentivos fiscais, investimento em infraestrutura, as mesmas medidas aqui e na China. O resultado foi o mesmo, ou seja, alto crescimento industrial, aumento da geração de empregos, melhoria salarial, desenvolvimento de tecnologia etc.

A única e importante diferença é a continuidade e estabilidade. Na China, o plano traçado é seguido à risca no decorrer de décadas. Aqui a insegurança e instabilidade da política econômica levam à falta de continuidade no investimento produtivo, e o consequente crescimento pífio nos últimos 30 anos.

Temos que aproveitar a “janela de oportunidade” que se abriu ao Brasil neste momento. Equilibrar o câmbio, baixar os juros e ter um ajuste fiscal é o que precisa ser feito agora.

Gráfico histórico do PIB no Brasil:

.Por: Roberto Barth, um dos fundadores da Comissão de Defesa da Indústria Nacional (CDIB), atualmente, é diretor da Supergauss Produtos Magnéticos, empresa que ajudou a fundar e na qual atua há mais de 25 anos na área comercial. | A CDIB (Comissão de Defesa da Indústria Brasileira) foi criada por representantes de vários setores industriais, entre eles ímãs de ferrite, escovas e armação de óculos. Iniciativa inédita no Brasil, a comissão luta contra a elisão (triangulação), pirataria e contrabando e visa contribuir com as autoridades para que sejam tomadas atitudes contra esses problemas, que prejudicam a indústria nacional.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira