Austrália vai incluir homens na vacinação pública contra HPV

Após sucesso da vacinação gratuita para mulheres, que resultou na redução de 90% das verrugas genitais em ambos os sexos, governo amplia programa.

São Paulo- O Governo Australiano vai vacinar meninos de 12 e 13 anos contra o HPV a partir de 2013. A iniciativa faz parte do programa escolar de vacinação e a vacina utilizada é a quadrivalente, que protege contra os tipos de HPV que causam cânceres e verrugas genitais. A vacina será também oferecida para os meninos com idade acima de 13 anos, através de um programa de vacinação de catch-up (resgate) nas escolas, que terá a duração de dois anos.

O foco do Programa Nacional de Vacinação australiano contra o HPV são estudantes do ensino médio, com idades entre 10 e 18 anos. A iniciativa começou com a vacinação de meninas e mulheres entre 12 e 26 anos, de 2007 a 2011 (sendo que entre 2007 e 2009 foi realizada a vacinação de catch-up, estendendo a vacinação para os grupos etários de 14 a 17 anos) tanto na escola quanto na comunidade. Nessa oportunidade 72% das meninas com idade entre 14 e 15 e quase 66% das meninas entre 16 e 17 anos receberam as três doses completas da vacina quadrivalente contra o HPV.

O resultado dessa vacinação com meninas, publicado em 2011 no British Medical Journal, revelou redução de 90% das verrugas genitais entre as vacinadas, com evidências de proteção indireta, ou seja, redução de até 30% dos casos de verrugas em homens heterossexuais de até 21 anos, não vacinados, em todo o país.

O estudo da Austrália tornou-se referência mundial de estudo ecológico, tipo de pesquisa que avalia os resultados alcançados no mundo real, ou seja, observa o que ocorre com a implementação de uma medida de saúde em nível populacional.

A decisão tomada agora é a inclusão dos meninos de 12 e 13 anos no programa de vacinação pública contra o HPV com a vacina quadrivalente. Em estudo realizado por Giuliano et al (New England Journal of Medicine 2011 [http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1010971#t=articleResults] a vacinação de meninos e homens de 16 a 26 anos demonstrou eficácia de 90,4% contra as lesões ano-genitais externas associadas aos tipos 6, 11, 16 e 18 de HPV.

A vacinação do programa australiano é feita nas escolas e depende do consentimento dos pais. São os filhos que, orientados, levam para casa o formulário com as informações sobre as etapas de vacinação e recolhem as assinaturas. O programa inclui apenas pessoas elegíveis e, para contabilizar a efetividade da cobertura vacinal, são consideradas somente as pessoas que receberam todas as doses.

A vacina intramuscular é administrada em três doses. A primeira pode ser aplicada em data escolhida, a segunda dose é administrada dois meses após a primeira e a terceira dose, seis meses após a primeira. O impacto da vacinação em termos de saúde coletiva se dá pela vacinação de um grande número de mulheres em um país, induzindo a ‘imunidade de grupo’, ou seja, diminuindo a transmissão do vírus entre as pessoas, o que possibilita a redução da chance de infecção inclusive em indivíduos não vacinados.

A infecção por HPV atinge cerca de 630 milhões de pessoas no mundo. Estima-se que os tipos de HPV de alto risco sejam responsáveis por virtualmente todos os casos de câncer de colo de útero, 40% a 50% dos cânceres vulvares e 70% dos cânceres vaginais, bem como 85% dos casos de câncer anal. A infecção pelo HPV está relacionada a cerca de 40% dos casos de câncer de pênis e de 30 a 40% dos de câncer anal em homens. Para se ter uma idéia da freqüência desta infecção, estima-se que pelo menos metade dos indivíduos sexualmente ativos entrarão em contato com algum tipo de HPV durante a vida (Castellsagué X, Bosch FX, Muñoz N. Environmental co-factors in HPV carcinogenesis. Virus Res. 2002;89(2):191-9).

Indicações pelo mundo -No Brasil, a vacina quadrivalente é aprovada para prevenção do câncer de colo de útero em mulheres de 9 a 26 anos e é a única aprovada para prevenção das verrugas genitais em homens, na mesma faixa etária. Atualmente, as vacinas contra o HPV estão disponíveis somente no mercado privado, mas o Ministério da Saúde avalia a possibilidade de inclusão da vacina contra o HPV no Programa Nacional de Imunização brasileiro.

“A vacina quadrivalente contra o HPV mostrou-se segura e efetiva, tanto em meninas e mulheres como em meninos e homens de 9 a 26 anos. Nos países que introduziram esta vacina em seus programas de imunização observou-se um rápido impacto, com substancial redução das lesões associadas à infecção pelo HPV. Apesar da maioria destes programas de imunização eleger faixas etárias específicas para a vacinação, como, por exemplo, os pré-adolescentes de 11 a 12 ou 13 anos, as faixas etárias ideais para que a vacina possa atuar da melhor maneira possível (iniciando a proteção antes do período de risco de exposição ao vírus), salientamos a importância de também estender o benefício da vacinação para o restante das meninas, mulheres, meninos e homens de 9 a 26 anos”, explica o infectologista Marco Aurélio Sáfadi.,

A vacina quadrivalente contra o HPV é aprovada em 127 países, sendo 73 com recomendação para vacinação em homens (gráfico visto acima). A vacinação contra o HPV é recomendada por Advisory Boards de 40 países.

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