Mais uma data para atentar à segurança

O escalpelamento é um problema que passa despercebido para a maioria dos brasileiros. Isso porque, morando na cidade, poucos têm contato com o maquinário pesado utilizado pelos trabalhadores rurais na produção agrícola, ou com as embarcações em péssimas condições de segurança utilizadas pela população ribeirinha no seu dia a dia. Na maioria das vezes, a palavra é associada a estereótipos indígenas de filmes hollywoodianos, mas, infelizmente, esse ainda é um problema atual. Ainda esse mês, mais um caso foi registrado no Pará, uma das principais áreas de risco. Só na região, já totalizam nove vítimas esse ano, segundo dados do governo daquele estado.

No dia 28 de agosto será celebrado o Dia Nacional de Combate e Prevenção do Escalpelamento, data criada em 2010, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que haja maior conscientização sobre o papel do Estado e da sociedade no amparo às vitimas desse problema. O escalpelamento costuma ocorrer por causa do arrancamento brusco e acidental do escalpo em máquinas ou embarcações com motores de eixo giratório e que podem prender o cabelo, caso haja descuido.

Como primeiro médico a realizar um reimplante de couro cabeludo, em 1968, posso afirmar que essas pessoas precisam muito desse tipo de atenção, pois é uma experiência muito traumática. A iniciativa dos cirurgiões da Sociedade Brasileira de Cirúrgia Plástica em realizar diversos mutirões para socorrer as vítimas desse problema deve ser aplaudida por toda a comunidade médica e também pela sociedade . Para o futuro, entretanto, vejo que a solução é uma atenção maior em relação às condições de trabalho e segurança, muito negligenciada até mesmo nas grandes cidades.

.Por: José Badim, médico especialista em cirurgia plástica reparadora. Fundador do Hospital Badim, é membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia; Membro da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica.