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24/10/2012 - 20:45

Gender Neutral Parenting - a criação de Gênero Neutro

Um movimento social vem ganhando corpo e volume na América do Norte e na Europa. Trata-se do gender neutral parenting. Numa tradução livre, seria algo como criação de gênero neutro. Esta ideologia vem se disseminando cada vez mais em virtude do universo virtual e causa burburinho nas redes sociais. Tem como principal pressuposto desconsiderar a classificação entre meninos e meninas, mas apenas considerar uma criança. A ideia é não atribuir à criança nenhum gênero específico, ou seja, nem masculino ou feminino. Esta medida visa romper com os estereótipos sociais sobre os gêneros e possibilita a criança liberdade para descobrir e se enquadrar ao gênero que ela se identifica. Com isso, brinquedos, cores, roupas deixam de ser associados como próprios para meninos ou meninas.

Carrinhos não são brinquedos exclusivos para o gênero masculino, bem como brincar de comidinha não é próprio do gênero feminino. Dançar balé não seria compreendido como uma atividade admitida para as meninas ou o futebol para os meninos. Não existe exclusividade de conceitos para os gêneros e tudo seria permitido para ambos os sexos.

O cerne da polêmica, além da desmistificação dos gêneros, a criança possui autonomia para explorar suas potencialidades, afetividade e sexualidade sem interferência dos pais. Aos pais, muitos não revelam o sexo da criança, mesmo para amigos e parentes, até que ela tenha se identificado e internalizado as características de determinado gênero. Isso tudo para proteger a criança da influência cultural e assegurar a espontaneidade sexual. O argumento que sustenta este posicionamento dos pais que acreditam no gênero neutro é que desta maneira, estão propiciando uma amplitude de experiências para a criança, dando-lhes a possibilidade de construir suas próprias tendências e como querem conduzir suas vidas, quebrando a rigidez de padrões sociais.

Um dos casos mais conhecidos foi o deSasha Laxton. Seus pais não revelaram o sexo da criança durante os cinco primeiros anos de vida e só revelaram que era um menino quando este ingressou na escola. Outro caso conhecido é a filha dos atores Angelina Jolie e Brad Pitt, Shiloh, de apenas seis anos, que só veste roupas de menino.

Existem algumas questões que devemos refletir sobre esta concepção de gênero neutro. Deixar as crianças se manifestarem livremente, possibilita um desenvolvimento emocional e cognitivo satisfatório, mas é imprescindível a participação dos pais neste percurso da criança. A omissão dos pais pode causar uma falta de referências na criança, o que pode ocasionar desorganização psíquica e comprometimentos afetivos. A criança não deve se sentir abandonada pelos pais. Deve-se tomar cuidado para que este discurso equivocado de dar liberdade total à criança, pois, os pais devem participar da vida dos filhos e não evitarem este contato. E participar da vida dos pequenos não é influenciá-los. A criação de gêneros neutros mantém um discurso e uma concepção de autonomia vazia e sem sustentação afetiva. É uma responsabilidade transferida para a criança, na qual ela não tem recursos internos para assumir. A criança necessita de modelos a serem seguidos.

É saudável promover uma integração sexual nas crianças, ou seja, meninos e meninas não terem restrição ao sexo oposto e conhecerem sobre o outro sexo, mas forçar a esta ideia de gênero neutro é incoerente, pois, as características masculinas e femininas são interiorizadas por conta da cultura. Existe um comportamento esperado de meninos e meninas, o cisgênero, identidade de gênero constituída pela concordância tradicional entre o sexo biológico de um indivíduo e o seu comportamento ou papel considerado socialmente aceito para esse sexo. Este conceito vem sofrendo transformações, por conta das diversidades sexuais e mudanças de papéis sociais. Acredito que a igualdade entre os gêneros deve transitar entre o respeito e a aceitação, sem marginalizar um ou outro. Masculino e feminino não são rivais, mas são complementares e se integram.

O fato das crianças se reconhecerem como homem ou mulher acontece mediante a descoberta do genital. A anatomia do corpo já traz os conceitos culturais inerentes ao gênero. É uma identidade constituída, diferente ainda da discussão sobre orientação sexual. Acredito que características masculinas e femininas exigem uma participação mútua, fazendo com que as diferenças fiquem mais tênues. A bissexualidade permeia os gêneros. Não creio que o conceito de gêneros neutros crie uma orientação bissexual, mas o ser humano possui em si os dois gêneros e é a integração destas polaridades que favorece uma melhor compreensão de si e do outro.

O que não pode acontecer são pais que se isentam de participarem da educação e da orientação aos filhos. Distanciar dos filhos, pautados no argumento que devem dar espaço para que estas crianças sejam livres é um pensamento errôneo. As crianças precisam de limites e precisam do amparo dos pais para que se sintam acolhidas e amadas. Inclusive, é importante delimitar seu espaço através do reconhecimento do espaço do outro. A presença dos pais deve encorajar os filhos a serem eles mesmos, mas respeitando o lugar do outro.

Paralelamente à discussão sobre a criação de gênero neutro, deve-se salientar que os pais são imprescindíveis na criação dos filhos. Muitos pais ainda sentem vergonha de conversarem abertamente com seus filhos sobre sexualidade, mas não devem ter medo em falar sobre o assunto, ou criar maneiras de evitarem determinados temas. Isso é desculpa para não aceitarem a própria incapacidade de confrontar seus filhos e educá-los. Este contato com o filho que dará sustentação para que ele se sinta seguro e se perceba cada vez mais e melhor.

.Por: Breno Rosostolato, psicoterapeuta, terapeuta sexual e professor da Faculdade Santa Marcelina.

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