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10/11/2012 - 06:47

José Rufino: Odisseia carioca na Casa França-Brasil

O artista paraibano José Rufino trabalha na “recriação” de Ulysses, na Casa França-Brasil. O herói homérico, também imortalizado por James Joyce, será reconstituído a partir de restos de materiais e de memórias coletados no Rio de Janeiro. Ulysses, o corpo e a obra, ocupará aproximadamente 190 m3 e se estenderá por praticamente todo o vão central do espaço, a partir de novembro

A baía de Guanabara se transforma na Grécia de Ulysses pelas mãos de José Rufino, artista contemporâneo que é também paleontólogo, e tem uma relação permanente com o passado. O convite da Casa França-Brasil levou-o a imaginar uma nova Odisseia, em que os traços do Rio – madeiras, pedras, ferros, concreto, conchas, cerâmicas etc. – são recombinados para compor o corpo do herói, que terá 23 m de comprimento, 8 m de largura e 3,30 m de profundidade.

- Mais que uma imensa escultura, Ulysses é uma odisséia pela baía da Guanabara e pela cidade do Rio de Janeiro – explica José Rufino. - É uma transmutação da Odisséia de Homero para as águas, ilhas, mangues, rochedos, rios, e terras cariocas. É uma aventura que passa pelo mito homérico, pela saga do personagem do Ulysses de James Joyce e chega aos heróis e anti-heróis da cidade. É tão Macunaíma quanto Odisseu.

A composição deste novo e monumental Ulysses demanda toda uma logística que começa com a coleta de materiais. Desde setembro, José Rufino tem vindo ao Rio para esse garimpo pessoal das memórias impressas nas matérias recicladas e reutilizadas, que carregam suas próprias memórias.

- Minha relação com o passado e com a memória é muito profunda – explica o artista. – Não é apenas a questão da recordação, e sim como usá-la para, de alguma forma, transformar o passado e modificar o status quo – diz.

José Rufino começa seus trabalhos muitas vezes a partir do lugar que ocupará. – No caso da Casa França-Brasil, parti mesmo de uma perspectiva de transformação – conta. – Comecei a imaginar o que estaria embaixo dela e a criar, mentalmente, um corpo para a cidade.

Uma obra de tal magnitude não poderia ser elaborada sem testes muito rigorosos. O espaço ideal para a primeira fase de montagem foi conseguido através de uma parceria do artista com o Galpão Aplauso, espaço cultural e social que funciona no Santo Cristo, e que prepara jovens artistas para as várias facetas que compõem o mundo do espetáculo.

O Ulysses de José Rufino-Segundo o artista, o corpo de Ulysses vai exibir uma estratigrafia deturpada, onde não serão respeitadas as classes de materiais e tampouco suas idades. - Nenhuma hierarquia será conferida a nenhuma época ou tipo de material. O Ulysses será um corpo híbrido, uma carcaça exumada em pedaços aleatórios – resume Rufino.

José Rufino conta que, desde a primeira reunião nas dependências da Casa França Brasil, foi como se já “ouvisse” o nome daquilo que se transformaria na obra. - Estava em cada canto visitado; era como se fosse percebido nas entrelinhas, visto numa etiqueta borrada, como se aparecesse rapidamente na base dos lampejos iniciais da forma da obra – explica. - Mas eu já sabia que ele não seria de todo um nobre, que não seria um herói exumado do velho centro do Rio, que não seria uma homenagem ou uma exaltação das várias etapas de ocupação daquele terreno que já foi apenas um alagadiço. Já sabia que seria fragmentado, heterogêneo, carcomido, enferrujado, apodrecido. Sabia que seria ao mesmo tempo relíquia e restolho de uma escavação arqueológica anárquica. Deveria então ser um anti-herói, carregado de citações histórica, impregnadas nas suas partes – define poeticamente o autor.

O artista-José Rufino, nascido José Augusto Costa de Almeida, vive e trabalha em João Pessoa. Como artista, adotou o nome do avô paterno. Formado em Geologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde fez também o doutorado, é artista visual e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Desenvolveu sua jornada artística passando da poesia para a poesia-visual e, em seguida, para a arte-postal e desenhos, nos anos 1980. O universo do declínio das plantações de cana-de-açúcar no Brasil conduziu seu trabalho inicial, cujos desenhos e instalações tinham como matéria básica peças mobiliário e documentos, tanto de família quanto institucionais. Filho de ativistas políticos presos pela ditadura do regime militar brasileiro na década de 1960, o artista é também muito conhecido por seus impressionantes trabalhos de caráter político. Ultimamente tem realizado incursões na linguagem cinematográfica e desenvolve, cada vez mais, um trabalho misto de monotipias/móveis/objetos e instalações. O diálogo dicotômico entre memória e esquecimento contamina seu trabalho por completo.

.[José Rufino, de 24 de novembro de 2012 a 17 de fevereiro de 2013, de terça a domingo das 10 às 20h, na Casa França Brasil,, Rua Visconde de Itaboraí, 78 – Centro - Rio de Janeiro |Tel.: (21) 2332-5120].

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