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20/11/2012 - 08:14

Pesquisa da UFMG analisa as implicações das tecnologias da informação sobre o mundo do trabalho

Qual é o tempo do trabalho e qual é o tempo da vida? Onde está o lugar do trabalho e onde está o lugar da família e do lazer? Em tempos de acesso imediato a informações e pessoas por meio dos dispositivos móveis, os tempos e lugares do cotidiano estão cada vez menos definidos, distintos ou mesmo preservados.

Pesquisa de doutorado desenvolvida na Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que a invasão “da casa” e o consumo da vida privada pelo trabalho mediado pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) são uma realidade e se relacionam diretamente à sobrecarga e ao adoecimento do trabalhador.

Em grande parte, as atividades de trabalho não estão mais limitadas a um território físico ou vinculadas à cronologia do relógio, lembra a psicóloga Jaqueline Abreu Vianna, autora da tese. “Logo, não é mais o trabalhador que se desloca até o trabalho, mas o trabalho que, graças principalmente às inovações tecnológicas, ganhou flexibilidade para ir aonde está o trabalhador”, ela nota.

“No entanto, para compreender o momento atual, é preciso reconhecer que esse modelo de organização dos processos de trabalho não está vinculado, exclusivamente, a incrementos tecnológicos, nem se explica por uma relação simplista de causa e efeito. O trabalho acontece nos chamados fluxos de informação, o que para alguns autores define o capitalismo informacional, caracterizado pela redução de tempos e a eliminação de barreiras de espaço visando a maiores ganhos de produtividade”, explica Jaqueline.

De acordo com a pesquisadora, a mistura de representações de tempos e lugares traz consequências sobre a saúde, a construção da identidade e a sociabilidade do trabalhador, entre outras dimensões. “Além da distorção de significados e da consequente ambiguidade gerada, o que preocupa é a canibalização do espaço doméstico, da vida íntima, do lazer, do tempo de descanso”, salienta Jaqueline Vianna, que é professora da Fundação Getúlio Vargas.

Os efeitos -Esforço de revisão bibliográfica, combinado a investigação por meio de entrevistas em profundidade com profissionais de diversas áreas, levou à identificação de alguns efeitos do trabalho na vida do trabalhador. O primeiro deles é o que Jaqueline Vianna denomina de invasão da vida doméstica. “As implicações da invasão do trabalho na esfera privada são relevantes, porque o espaço doméstico não é apenas o lugar onde se vive, mas, na maioria das vezes, onde se compartilha a intimidade com alguém, que não é um colega de trabalho”, ressalta a pesquisadora.

A tese identifica perdas também na sociabilidade, marcada pelo contato físico e pela ambiência que se cria num determinado lugar. “Em situações de trabalho mediado pela tecnologia, o contato com o outro é prejudicado. Mesmo quando se dispõe de ferramentas ou dispositivos tecnológicos capazes de promover a comunicação a distância entre os indivíduos, há comprometimento da sociabilidade”, afirma Jaqueline Vianna.

Débito constante -A pesquisa apontou um quadro de adoecimento provocado, em grande parte, por jornadas ampliadas, marcadas por fluxo frenético de informações. “E o sentimento do trabalhador é de um tempo que foge e de um débito constante”, diz Jaqueline Vianna.

Para evidenciar as consequências negativas para a saúde física e mental, ligadas a fatores como o tempo de descanso cada vez mais exíguo, a autora cita números da Organização Mundial de Saúde, divulgados em 2010: estudos identificaram transtornos mentais leves em 30% dos trabalhadores ocupados e males mais graves em 5% a 10%.

Outro elemento destacado pela tese diz respeito ao controle sobre o trabalhador. “O controle acaba sendo exercido, também, pelo próprio grupo de trabalhadores. Ora, como não estar online se todos estão? E, uma vez conectado, é sinal verde para o trabalho! O fluxo tensionado mantém todos conectados à rede de informações e ao trabalho, onde quer que estejam e em qualquer tempo.”

Segundo Jaqueline Vianna, “não há o que se discutir sobre as vantagens ou facilidades que as TIC trouxeram para o trabalho, mas a pesquisa buscou investigar algumas perdas ou reflexos nesse modelo de organização, que, muitas vezes, são ignorados ou não interessam que sejam percebidos”. Ainda segundo a pesquisadora, diante de sobrecarga informacional, o uso da informação é prejudicado por superficialidade e fragmentação.

“Essa fragmentação não é apenas da informação, mas também do significado. O trabalhador enfrenta, então, o paradoxo do excesso e fragmentação da informação, que faz perder a visão do todo, e tudo isso gera retrabalho. O ciclo de sobrecarga, portanto, se retroalimenta”, conclui. | Cedecom/UFMG.

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