Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

19/10/2007 - 10:05

O homem de lata virá do Japão

Os cientistas japoneses não se cansam de inovar quando o assunto é tecnologia. A última invenção deles é um robô programado especialmente para cuidar de pessoas que vivem em asilos e clínicas geriátricas. A principal função do homem de lata nipônico é aplicar testes que estimulam a agilidade mental dos idosos.

Com 45 centímetros, o robô conversa, canta músicas variadas e ainda é capaz de arriscar alguns passos de dança. É uma espécie de babá eletrônica, que custa cerca de R$ 8 mil, uma ninharia para os padrões japoneses de consumo.

O problema é que a geringonça não agradou muito em sua estréia. No início, os idosos até que demonstram certo entusiasmo e curiosidade com todos esses truques. Aos poucos, porém, se constatou que a maioria das pessoas começou a se cansar do objeto, sobretudo por considerá-lo moderno e complicado demais. Os estudiosos não se deram por vencidos. Pelo contrário. Prometeram melhorias para tornar o robô mais agradável.

Há quem considere a invenção japonesa absurda, embora eu prefira olhar para a situação por outro ângulo. Sorte dos japoneses que têm dinheiro e interesse em buscar saídas para amenizar a solidão e os problemas enfrentados pelas pessoas que, por diversas razões, tiveram de ser encaminhadas aos asilos.

No Brasil, o assunto ainda é tratado com muito receio e preconceito. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) assumiu a tarefa de realizar um censo para mapear a situação dessa população, muitas vezes esquecida pelo Poder Público. Dados preliminares indicam que mais de 100 mil pessoas vivem em asilos e casas de repouso, sendo a maioria mulheres divorciadas, solteiras ou viúvas, atendidas por cerca de seis mil estabelecimentos espalhados pelo País.

Em alguns casos, são verdadeiros hotéis cinco estrelas, com tudo do bom e do melhor. Mas essa realidade se restringe a poucos. A grande maioria mantém suas portas abertas graças ao apoio financeiro do governo e de instituições religiosas e filantrópicas. Há muita gente séria por trás desse trabalho, embora nunca se possa afastar a ação dos “picaretas” de plantão, que oferecem serviço em locais sem condições de higiene e sociabilidade, uma verdadeira prisão para os idosos.

Não se pode julgar as famílias de quem está nesses locais. É verdade que muitos são abandonados, sem outra opção, seja pela falta de um parente, ou pelos compromissos dos filhos, ou simplesmente pela falta de carinho de seus pares. E também não se deve ignorar que muita gente fez uma opção pessoal de terminar seus dias sem dar trabalho a ninguém, seja por orgulho ou por vontade própria.

Espero que essa pesquisa do Ipea possa jogar luz sobre essas questões para que possamos discutir o assunto sem emitir opiniões vagas e imprecisas. O censo vai determinar um perfil importante de uma população esquecida pelas estatísticas oficiais. Só depois disso poderemos avançar para encontrar caminhos que possam, pelo menos, aliviar a situação de quem vive em um asilo ou casa de repouso. Assim espero um dia entender o fascínio que um robô pode despertar nos idosos japoneses.

. Por: Milton Dallari, consultor empresarial, engenheiro, advogado e presidente da Associação dos Aposentados da Fundação Cesp. O e-mail para contato é o [email protected].

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira