Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

22/12/2012 - 06:49

Reflexões sobre um mundo que não acabou

Não tinha música mais apropriada para escutar nesta data, que antecede ao final do mundo, do que “o que você faria” de autoria de Paulinho Moska. Bem sugestiva. Inclusive, para quem não sabe o que fazer no último dia de sua existência na Terra, a música dá algumas opções. Por causa da música que embalou minha vinda para a clínica, estava eu aqui pensando como seria este nosso último e derradeiro dia.

Por sinal, este fim do mundo é o mais desacreditado de todas as outras datas cabalísticas ou apocalípticas que já tivemos. Muitos até esqueceram que amanhã estarão chorando, correndo, tentando se proteger e desesperados, suplicando por suas vidas. O povo está muito tranquilo. Não temos mais “finais do mundo” como antigamente, em que as pessoas se programavam, esperavam ansiosamente, faziam planos para um desfecho digno.

Em um dia também, não tem muito o que fazer. Como sou um reles mortal e acreditando que estamos diante do fim, estava pensando como aproveitar ao máximo. Não queria fazer coisas repetidas e tampouco o trivial, mas também não queria fazer o que todos fariam, quero ser diferente.

Sair na rua nu, fazer loucuras sexuais, talvez funcione, não sei. Novas experiências e assumir riscos. Falar mal e expor todas as pessoas de que não gosto, também poderia ser uma opção. Escrever absurdos no Facebook, contando segredos que sei das pessoas seria uma boa, mas não posso ser antiético. Como sou psicólogo, dos meus clientes eu mantenho o sigilo. Bem, vou come muito, afinal, a gula é o meu pecado capital predileto. De qualquer forma, se não for para ser perverso um pouquinho, o último dia de existência passa a ser muito monótono.

Não conseguiria dormir o dia inteiro, mas de repente, ficar sentado num bar enchendo a cara com os amigos seria melhor. Tenho que fazer coisas prazerosas, afinal, minha passagem tem que ser agradável, certo? Caio de novo numa questão sexual, mas tenho que deixar o pudor de lado.

Definitivamente, sobre política não quero nem saber. Cansei de ficar indignado com as falcatruas de Brasília e acho que família também já deu. Vou dar um beijo no meu pai, na mãe e no meu irmão. Vou sentir muito pelos animais, que tenho uma gosto muito. Não é a toa que foi construída uma arca só para eles. São seres muito mais evoluídos do que muitas pessoas que conheci. Não sei não, mas acho que para o fim do mundo merece uma boa companhia. Minha esposa estará do meu lado, disso não tenho dúvidas.

Engraçado eu, a esta altura, ainda querer elaborar uma lista de coisas para fazer antes de inexistir. Preocupado em ocupar meu tempo, que na música do Moska, tempo que já não existia mesmo. Nunca fui muito bom par me programar e as vezes, planejar algo era complicado. Talvez a melhor coisa a se fazer é como no filme “Sim senhor” do Jim Carey. Aceitar tudo e deixar com que as coisas aconteçam, deliberadamente. Nada muito diferente de como conduzi minha vida em alguns momentos.

Curioso como pensei em coisas destrutivas também, mas não cogitei em agradecer as pessoas que fizeram muito por mim. Mas também, não tive essa atitude durante muito tempo. Era um individualista de “carteirinha”. Constrangido fico em saber que 24 horas não é tempo suficiente para me redimir do mal que fiz para muitas pessoas também. Coisa que fiz ou que falei e que sei que seria a última pessoa que essas pessoas gostariam de ver. É, acho que o melhor a se fazer hoje é me culpar menos das coisas. Sei que gostar de futebol isso não conseguiria, mas com certeza vou parabenizar aquele meu vizinho corinthiano pelo título mundial. Para o fim do mundo algo prático e imediato. Não vejo lógica em guardar dinheiro, portanto, ia gastá-lo a minha maneira e sem culpa nenhuma. Nada de IPTU e IPVA.

Olha, se eu tivesse feito tudo o que pensei ante a possibilidade do fim do mundo, teria sido melhor que o a catástrofe tivesse ocorrido, pois o dia seguinte seria bem trágico e ao mesmo tempo cômico...

. Por: Breno Rosostolato, psicoterapeuta e professor da Faculdade Santa Marcelina.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira