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25/10/2007 - 17:51

A crise antiga

A propósito de democratizar a escolha dos livros didáticos oferecidos a milhões de alunos carentes da rede pública de ensino, o Ministério da Educação, há anos, tomou a deliberação de ouvir os professores que lidam com o material. Nada mais justo.

Ocorre, no entanto, que em busca da redução do preço de capa estabeleceu-se no mercado um grupo privilegiado de editoras, em geral de São Paulo, que praticamente monopolizam a venda desses livros. Se as tiragens são maiores, a tendência é baratear o custo, mas aí se estabelece uma flagrante injustiça: a escolha dos professores é feita numa lista pequena, com tendência a utilizar conteúdos programáticos dos grandes centros urbanos do País.

Além disso, há um monumental equívoco das nossas autoridades: chegaram à conclusão de que haveria maior “transparência” se a seleção fosse feita por professores das Universidades oficiais, ou seja, com vasta experiência de ensino superior e quase nenhuma de ensino fundamental. Não seria de estranhar que houvesse incríveis distorções nesse processo, já esclerosado, e que o MEC insiste em manter ativo.

Excelente artigo do jornalista Ali Kamel, no Globo, critica um livro de História (Editora Nova Geração) que chama Mão Tse Tung de “grande estadista” – e comete outras impropriedades para catequizar mentes em formação de crianças de quinta série. Não se pode aceitar a ideologização do ensino, sem que vá nisso qualquer resquício de censura. Se a editora concorda com a opinião do seu autor deve mesmo imprimir o livro. Mas o MEC adotar, com o nosso dinheiro, é lamentável. E o pior é que o ministro afirmou que “não leu o livro”, como se ele pudesse ler todos os livros. O erro está no sistema vigente.

No Governo Fernando Henrique Cardoso é que começou todo esse equivocado procedimento. Um livro da Editora Brasil foi duramente criticado, depois de adotado oficialmente, porque o autor colocou a figura de Jesus Cristo de forma desrespeitosa, debochada, e isso passou pela chamada avaliação. Ainda no mesmo período, era comum oferecer aos jornais de grande circulação o que o MEC designava de “barbaridades”, ofendendo autores e editoras. Depois, isso foi proibido, mas os gabinetes oficiais produziam notinhas maliciosas para o deleite de colunistas sem assunto.

O MEC age, no caso, como se fosse o dono do dinheiro, patrão implacável que impõe o seu tacão nos sistemas estaduais de ensino, os menos ouvidos em toda essa confusão. Será que eles estão satisfeitos com os livros que recebem? Qual a opinião dos professores? Prevê-se a entrega de 120 milhões de livros, no início do próximo ano letivo, sem que exista qualquer programa de treinamento dos mestres para a utilização adequada desses livros. Muitos deles não saem dos depósitos ou são literalmente abandonados. É um crime que se está cometendo (mais um) contra a possibilidade de redenção da escola pública.

. Por: Arnaldo Niskier, professor emérito da Eceme e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) | e-mail: [email protected]

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